Com selo da Tinta-da-China, "Vampiros" é um dos poucos livros da banda desenhada portuguesa a abordar o tema da Guerra Colonial e essa foi uma das razões que motivou o argumentista, Filipe Melo, a avançar com o projeto, como contou à agência Lusa.

"Não há uma razão especial para ter escolhido a Guerra Colonial. Houve só uma curiosidade crescente. Queria escrever uma história nova e num género muito específico, que era o terror. Comecei a interessar-me por causa do documentário do Joaquim Furtado, depois comecei a ler e a ver mais documentários e a pensar que havia ali um cenário bom para se contar uma história", disse Filipe Melo.

"Vampiros" conta uma história de ficção, que é suportada em factos verdadeiros e na vida real, tanto no argumento como no desenho.

O livro acompanha uma ficcionada missão de reconhecimento ao Senegal, na véspera de natal de 1972, por um grupo de militares portugueses em serviço na Guiné-Bissau. A missão ficará afetada por trágicos acontecimentos, culminando num desfecho que poderá levar o leitor a interpretações diferentes.

Filipe Melo atribuiu às personagens alguma densidade psicológica, a partir dos testemunhos recolhidos junto de ex-combatentes, e quis manter uma ligação à realidade nos mais pequenos detalhes.

"Trabalhámos muito ao nível do desenho e do argumento, para contar uma história que confiasse mais no leitor. Com este livro, o que eu gostava era de fazer uma história mais ambiciosa, que desse espaço ao leitor para tirar a sua própria conclusão", contou.

O livro está dividido em três capítulos, ancorados em outras tantas citações - de Padre António Vvieira, Herman Melville e José Afonso -, que ajudam a enquadrar o mote do argumento, sobre o caráter cíclico da guerra, sobre as formas e as proporções que o medo pode assumir, sobre a carga simbólica da figura do vampiro.

Filipe Melo sabe que há uma certa dose de risco em fazer esta novela gráfica, por surgir depois da trilogia de BD "As aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy", feita também com Juan Cavia, carregada de humor, de seres fantásticos e referências à banda desenhada e ao cinema de série B.

"Havia ali uma rede. Se nós fossemos trapezistas, a rede seria a série B do humor. Se uma coisa sai mal, vale tudo, é desculpável. Aqui [em 'Vampiros'] quisemos retirar essa rede", afirmou Filipe Melo à agência Lusa.

Tal como o argumento da trilogia de Dog Mendonça e Pizzaboy, a história de "Vampiros" foi pensada inicialmente para ser um filme, mas desaguou antes numa banda desenhada.

"Fiz esta história porque gosto imenso desse processo, de fazer a história, de ir melhorando. É a coisa que mais gosto de fazer. Passo a vida a ver filmes, a ler. Parece que só encontro sentido para o meu dia-a-dia quando faço isso", afirmou Filipe Melo, 38 anos, que também é conhecido como pianista, arranjador.

Agora que "Vampiros" está feito - estará nas lojas em meados de junho -, Filipe Melo vai prosseguir todos os compromissos que tem na música, como, por exemplo, o espectáculo "Deixem o Pimba em paz", com Bruno Nogueira e Manuela Azevedo, que, no próximo mês, abrirá as Festas de Lisboa.

"Vampiros" será apresentado no sábado, no Festival de BD de Beja, e no domingo, na Feira do Livro de Lisboa, com a presença dos dois autores.