O festival Xxxapada na Tromba - Freak ‘n Grind Open Air Fest irá reunir, entre 30 de junho e 2 de julho, alguns milhares de pessoas e mais de 50 bandas de 18 países, a maioria estrangeiras, num parque de estacionamento junto à praia, perto de habitações e do outro lado da rua do posto territorial e colónia balnear infantil da GNR.

Em causa, segundo vários residentes que não quiseram ser identificados, está a localização escolhida - um parque de estacionamento público e terreno anexo com cerca de 4.000 metros quadrados (metade de um campo de futebol), que dá apoio à única praia vigiada da povoação - e também a data coincidir com o início da época balnear numa pequena localidade onde predominam casas de férias.

As críticas estendem-se às próprias características do evento, que envolve bandas de ‘brutal death metal' e ‘grindcore' (denominação criada pelo baterista dos britânicos Napalm Death em 1987 e definida como "um caldeirão de extremismos" por reunir adeptos do hardcore punk e metal extremo, entre outros), e inclui, habitualmente, shows eróticos e letras relacionadas com o anticapitalismo, antimilitarismo, sexo ou violência, entre outras temáticas.

Na promoção do festival, os organizadores - que não estão identificados e não deram resposta às perguntas formuladas pela Lusa - anunciam o apoio da junta de freguesia de Quiaios e Câmara Municipal da Figueira da Foz e, na página de internet do evento e em vídeos promocionais definem o Xxxapada na Tromba como "louco, divertido, erótico e suavemente bárbaro".

Frisam ainda que a festa "vai ser animada" e durar "dia e noite" ao longo dos três dias, mas a autarquia da Figueira da Foz sustenta que o evento ainda não tem autorização formal e que, caso venha a ser concedida a licença especial de ruído necessária, esta não deverá ultrapassar a meia-noite, em cada um dos dias.

Ouvida pela Lusa, o vereador com o pelouro do Turismo da Câmara Municipal, João Portugal, confirmou que aquela divisão municipal possui um processo relacionado com o Xxxapada na Tromba e que está a decorrer a elaboração de pareceres técnicos.

"Ainda não há decisão nenhuma, favorável ou desfavorável, está em fase de análise e recolha de elementos", afirmou.

Já a vereadora Ana Carvalho, que detém competências ao nível do licenciamento, sublinhou que há "vários pressupostos a verificar" em relação ao festival para as licenças serem concedidas, nomeadamente por parte dos organizadores, que não estarão constituídos como empresa nem terão registo de promotor de eventos.

No pedido formulado à autarquia, que está a ser analisado, a organização estima a presença de 1.500 a 2.500 pessoas e requer isenção de taxas de ocupação de espaço público e diverso apoio logístico, nomeadamente ao nível das vedações do espaço, palcos, tenda e casas de banho.

Entretanto, a junta de freguesia de Quiaios declarou apoio formal ao festival, quer aprovando a sua realização em reunião do executivo, quer na emissão de uma declaração "em como não vê inconveniente", disse Ana Carvalho.

Ouvida pela Lusa, a autarca de Quiaios, Fernanda Lorigo, assumiu que a junta se constituiu como parceira do festival, cedendo gratuitamente a utilização do parque de campismo por si gerido à organização e entradas na piscina fronteira à praia, ao preço de um euro, em troca de publicidade.

"Não pagam o parque de campismo. Há quem pague para fazer publicidade e esta foi uma forma que encontrámos de publicitar a praia e aquilo que temos na nossa terra", observou.

A autarca disse ainda que a localização do festival foi escolhida "por estar perto da praia" e que os organizadores se comprometeram a "respeitar as regras [de emissão] de som", notando que "terão de cumprir" o acordado "porque têm a GNR ao lado", numa alusão ao posto territorial e colónia de férias infantil, que, na primeira semana de julho, recebe crianças entre os seis e os 12 anos.

Na página do evento, os organizadores explicam que o Xxxapada na Tromba teve origem em Beja, em outubro de 2014, com um primeiro festival que reuniu cinco bandas. Em janeiro de 2015, o RCA Club em Lisboa recebeu a segunda iniciativa, dois dias de "sucesso tremendo" com a presença em palco de "bailarinas despidas a rigor (as Trash Circus, já confirmadas na Figueira da Foz) e demonstrações de BDSM (acrónimo para ‘Bondage' e Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo).