Há duas décadas foi uma das atrizes revelação da sua geração através de filmes como "A Malta do Bairro" (1991), "Malcolm X" (1992) e sobretudo "What's Love Got to Do with It" (1993), o emblemático biopic de Tina Turner, da qual foi protagonista. Mas apesar da presença regular no grande ecrã nos anos que se seguiram, nos últimos tempos Angela Bassett tem surgido mais frequentemente na televisão.

A atriz norte-americana teve vários papéis em quatro temporadas de "American Horror Story", deu voz a uma personagem da série de animação de culto "BoJack Horseman" e teve um dos seus desempenhos mais elogiados em "Thanksgiving", o premiado capítulo de "Master of None".

Um papel no mais recente filme da Marvel, "Black Panther", prova que a ligação ao cinema continua, mas é no pequeno ecrã que o seu talento tem tido mais oportunidades de se expressar, como admitiu em entrevista telefónica ao SAPO Mag a propósito de "9-1-1", série na qual encarna Athena Grant, polícia de Los Angeles e uma das protagonistas.

SAPO Mag - Já interpretou várias mulheres duras ao longo do seu percurso. Em que medida é que Athena se distingue?
Angela Bassett - Bom, há o lado policial... Já interpretei personagens fortes, desde agentes especiais a mulheres com outras profissões mas com um caráter duro. Mas esta é uma mulher mais controlada. E depois também há o lado da vida familiar, que está muito próximo da realidade de muitas pessoas dos dias de hoje.

Apesar de ser um policial, "9-1-1" concentra-se tanto nas investigações como em questões sociais, da homofobia ao suicídio, do alcoolismo à toxicodependência.
Gosto muito desse aspeto da série, dessa abordagem de questões públicas e privadas com as quais muitas famílias se deparam. E também gosto que esses temas que marcam a atualidade surjam integrados naturalmente na história e nas vidas das personagens. Por isso é uma série com algo para toda a gente, tanto para fãs de dramas como de policias ou de outros géneros...

9-1-1

Nos últimos anos tem tido uma presença mais regular no pequeno ecrã. A televisão tem-lhe oferecido mais oportunidades?
Há tantas plataformas hoje em dia: Netflix, Amazon, centenas de canais... Sim, hoje há mais oportunidades na televisão, mais opções, e como espectadora também sinto que não tenho de esperar tanto para ter o que quero ver. Nesse sentido, vivemos bons tempos.

Grande parte desse percurso televisivo tem sido feito ao lado de Ryan Murphy, tanto agora como em várias temporadas de "American Horror Story". Como é trabalhar com ele?
Ele tem ideias para novas histórias e novas séries a toda a hora (risos). É alguém que venera atrizes e consegue fazê-las sair da sua zona de conforto. Dá-lhes oportunidade de fazer coisas diferentes, vários tipos de personagens, enquanto tenta surpreender o público. E consegue fazer isso com novas formas de contar histórias e de permitir que os atores mostrem a sua verdade. Daí ter um currículo muito vasto, com séries que mudam radicalmente de temporada para temporada, quase numa lógica de espetáculo de variedades sempre com qualquer coisa inesperada e interessante.

A segunda temporada de "9-1-1" já foi confirmada. Athena também vai regressar? E o que pode adiantar da história para já?
Sim, a série vai voltar e eu também. Mas para já não consigo adiantar nada, não faço a menor ideia do que vai acontecer porque a segunda temporada ainda está a ser escrita. Mas sei que os argumentistas não têm muito tempo livre enquanto preparam uma história com o mesmo empenho da primeira. Têm sido incansáveis.

Estranhos Prazeres

Ultimamente temos visto muitas heroínas de ação nos ecrãs, são quase uma tendência de algum cinema. Mas nos anos 1990 já tinha encarnado Mace, a guarda-costas obstinada de "Estranhos Prazeres" ("Strange Days"), de Kathryn Bigelow. Considera que uma personagem assim estava à frente do seu tempo?
Acho que o próprio filme estava à frente no seu tempo, em vários aspectos. Passou um pouco despercebido na altura mas tem sido redescoberto por novos públicos nos últimos anos. Lembro-me de ter ficado muito surpreendida quando me propuseram o papel, porque até aí nunca tinha conhecido a Kathryn Bigelow e fiquei muito nervosa na rodagem, enquanto tentava ser tudo aquilo que ela esperava. Mas acho que qualquer atriz ficaria, uma vez que era uma personagem e oportunidade maravilhosa. E sim, tendo em conta o argumento, o filme estava decididamente à frente do seu tempo quando estreou.

Porque recomendaria uma série como "9-1-1"?
Tem algo para toda a gente. Tem ação, drama, humor, ótimas personagens, relacionamentos envolventes... Enfim, é do Ryan Murphy, por isso ele trata de vos manter agarrados e expectantes. É emocionante!