A primeira edição do "Big Brother" estreou em Portugal a 3 de setembro de 2000, há 20 anos. A primeira temporada do reality show foi apresentada por Teresa Guilherme, que voltará a estar à frente do formato a partir de 13 de setembro, dia em que estreia "Big Brother - A Revolução".

A última edição do "Big Brother", que foi adaptada devido à pandemia da COVID-19, foi apresentada por Cláudio Ramos e terminou no início de agosto. Soraia foi a vencedora.

A estreia do reality show em Portugal

Foi em 1999 que Piet-Hein Bakker, responsável pela Endemol em Portugal, tentou vender o "Big Brother" à SIC. A estação de Carnaxide não quis avançar. A Endemol foi bater à porta da TVI e José Eduardo Moniz, diretor do canal, não hesitou e comprou o programa por um valor mais baixo, conta Felisbela Lopes, professora e investigadora da Universidade do Minho, no seu livro "20 anos de televisão privada em Portugal".

Quando foi apresentado a José Eduardo Moniz, "Big Brother" apenas tinha sido exibido na Holanda. Nos meses seguintes chegou à Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Reino Unido, onde se confirmou o sucesso do formato.

3 de setembro de 2000 foi o dia que marcou um novo rumo para a TVI e para a televisão em Portugal. O canal de Queluz de Baixo renova a programação e estreia o primeiro reality show. "Não foi uma aposta arriscada porque a TVI não tinha nada a perder. Estava em terceiro lugar nas audiências", sublinhou  Felisbela Lopes, ao SAPO Mag, em 2016, antes da estreia de "Casa dos Segredos".

A aposta só se provou certa mais de um mês depois, a meio de outubro de 2000, quando o concorrente Marco deu um pontapé a uma colega. O regulamento do programa impunha a saída do participante da “casa mais vigiada do país”. E assim foi.

Nas 24 horas seguintes, a TVI centrou a programação no mais mediático pontapé da televisão portuguesa. No dia em que Jorge Sampaio anunciou a sua recandidatura a Presidente da República, o "TVI Jornal" e o "Jornal Nacional" abriram com um amplo destaque ao acontecimento do reality show, recebendo o concorrente expulso em estúdio e dedicando 16 peças ao tema (37% do tempo noticiário), revelou Margarida Martins na tese "Ética e Informação na TVI".

Quanto ao destaque dado nos noticiários da TVI ao "pontapé do Marco", o jornalista Henrique Garcia justificou, em declarações em novembro de 200o ao Diário de Notícias, dizendo que "não podíamos ignorar uma coisa que todo o país falava".

"Quando surgiu nos ecrãs da TVI em Setembro de 2000, o 'Big Brother' foi apresentado como uma das principais apostas de um canal que inaugurava uma filosofia de programação de raiz popular, procurando atrair o interesse do público através de programas que avançavam em direcção ao domínio privado. Num primeiro tempo, a SIC não atribuiu particular atenção a este novo filão de programação, mas cedo recuou, procurando, de várias formas, clonar as 'novelas da vida real' do canal quatro", escreveu Felisbela Lopes em "Novos rumos no audiovisual português: o reflexo do Big Brother na informação televisiva".

20 anos depois, uma edição especial e marcada por uma pandemia

Duas décadas depois da esteia na estação de Queluz de Baixo, será que os espectadores querem continuar a ver a novela da vida real? Em conversa com os jornalistas, antes da estreia de "BB Zoom", Nuno Santos, diretor de programas da TVI, acredita que sim. "O programa foi criado em 1999, entrou no ar no Holanda nesse ano e depois na maior parte dos mercados no ano 2000. Ganhou uma dinâmica global incrível este ano, com edições em muitas geografias e em muitos mercados. No nosso caso, isso não é diferente: nós olhamos para o 'Big Brother 2020' como um programa de televisão muito marcante, muito presente na vida das pessoas. E eu, conhecendo oferta que existe, isso é uma verdade pré-pandemia, é uma verdade agora durante a pandemia, isso na minha perspectiva. O 'Big Brother" vai ser o programa mais marcante de 2020 e isso não mudou. Muitas coisas mudaram nas nossas vidas, em geral, e algumas no programa também, mas isso não mudou", frisa em conversa com o SAPO Mag e com um pequeno grupo de jornalistas através de videochamada.

"Entre géneros, produtos em concreto, muitas vezes, temos no mercado televisivo este tipo de ondas. Um pouco como na moda: o que hoje parece uma coisa extraordinária depois desaparece e ao fim de 'x' anos volta. Agora voltou, mas de forma distinta daquilo que era na sua origem. O 'Big Brother' de 2000, que acompanhei a partir da SIC, onde estava na altura, foi um programa absolutamente revolucionário, mas o 'Big Brother' tinha muito operadores de câmara a filmar os concorrentes. O 'Big Brother 2020' tem 58 câmaras, ou 54, já estou aqui um pouco perdido, inteiramente robotizadas e controladas a partir de uma régie por um número muito restrito de pessoas", revela o diretor de programas da TVI sobre as mudanças no reality show.

Nuno Santos acrescenta ainda que a base do "Big Brother" continua inalterável, o que mudou foi o "seu dispositivo tecnológico": "A vida mudou nestes últimos 20 anos e, portanto, as sociedades têm hoje preocupações que não tinham, o país é hoje diferente do que era no ano 2000. E as pessoas, de certa maneira, acompanhando essas mudanças que é global, também mudaram aquilo que dizem, pensam e verbalizam, no acesso que têm ao ensino e à tecnologia, nas angústias que tinham, ou tinha outras, e agora não têm. Nesse sentido, há uma base que é a mesma e a base é: 'eis um conjunto de pessoas que não se conhece até determinado momento e que vai ter de conviver no mesmo espaço durante ‘x’ tempo'".