"Dizia-se: 'quando o Coliseu cair, Roma cai", frisa Ángeles Castellano Hernández, historiadora responsável pelo Departamento de Antiguidades Gregas e Romanas do Museu Arqueológico Nacional, ao lembrar a importância monumento mais emblemático do Império. Séculos se passaram, e o Coliseu de Roma continua a ser um marco e, pela primeira vez, o majestoso edifício será protagonista de uma série.

Na Embaixada de Itália, em Madrid, o Canal História apresentou a sua nova superprodução - "Coliseu" estreia-se esta segunda-feira, dia 17 de outubro, às 22h15, e o SAPO Mag esteve na capital espanhola para conhecer a primeira temporada da série.

"A grande diferença em relação a outras produções é que aqui o protagonista não é um imperador, um gladiador ou um mártir, mas um edifício. Retratar aquele que foi certamente o maior império da História da Humanidade a partir do Coliseu é notável", sublinha Sergio Ramos, vice-presidente de programação da AMC Networks, durante o evento de apresentação da série.

Com oito episódios, "Coliseu" conta com entrevistas a especialistas e cenas que recriam alguns dos momentos marcantes. A primeira temporada centra-se na construção do Coliseu, nos homens e mulheres que lutaram na arena e na queda e ascensão do Império Romano.

"A série assenta fundamentalmente na recriação, é um documentário ficcionado. Lembrem-se que foi gravada durante a pandemia", recorda Sergio Ramos, adiantando que não foi possível gravar dentro do Coliseu. "É muito difícil filmar dentro do Coliseu, até porque há escavações e trabalhos arqueológicos que não param", acrescenta Ángeles Castellano.

"Do ponto de vista da série, nunca antes um edifício foi protagonista, mas sempre falámos do Coliseu. Estava a falar com uma colega e ela disse-me que a Nasa, para identificar o tamanho de asteroide, disse que era do tamanho do Coliseu. O Coliseu está sempre presente e fizemos do Coliseu protagonista. Isso é importante. A pedra, os muros e arena nunca tinham sido protagonistas", sublinha o vice-presidente de programação da AMC Networks.

O Museu Arqueológico de Nápoles, a Câmara Municipal de Roma, o Parque Arqueológico do Coliseu e o Ministério Italiano do Património Cultural aliaram-se ao Canal História para a produção, com o objetivo de recriar os acontecimentos com rigor. Historiadores como Jerry Toner, Barry Strauss e Alexander Mariotti, arqueólogos como Darius Arya e Jeannette Plummer e professores como T. Corey Brennan e Alison Futrell são alguns dos nomes que participaram nesta série documental.

Para narrar a história do monumento, a série centra-se em figuras chave da época, todas elas baseadas em pessoas reais. "Os gladiadores Prisco e Vero, cujo combate foi documentado pelo poeta Marcial, sendo esta a primeira disputa em que o imperador entregou a ambos um rudius, ou espada de madeira, proclamando-os vencedores e livres para sempre; Haterio, construtor que, sob ameaça de morte do imperador Domiciano, foi encarregado de construir o subsolo do Coliseu: o hipogeo; Carpóforo, o reconhecido venator ou mestre de bestas mais famoso do Império; Mevia, a primeira cidadã livre de Roma que decide mudar a sua posição para lutar na arena como gladiadora; Ignacio de Antioquía, considerado um dos ‘pais da Igreja’ e condenado à morte no Coliseu por professar o cristianismo nos tempos do imperador Trajano; Galeno de Pérgamo, um dos médicos mais reputados do mundo antigo, entre os seus pacientes destacam-se imperadores como Marco Aurelio, o Septimio Severo; e Cómodo, o último imperador da dinastia Antonina e primeiro ‘César’ que combateu na arena do Coliseu", adianta o canal.

"As lutas de feras aconteciam de manhã. A de gladiadores à tarde e ao meio-dia davam-se a comer aos animais ladrões e cristãos. Estava tudo organizado", lembra Ángeles Castellano, aditando que as mulheres também participam da história - a série dedica um episódio às personagens femininas, que eram normalmente prisioneras de guerra,

"Também gostaria de saber mais sobre as personagens femininas que passaram pelo Coliseu (...) Sabemos que havia de certeza mais, mas a história dos gladiadores está escrita por homens e para homens. Havia mulheres assim como imperadores que desciam à zona de combate, mas não deixam de ser exceções. A figura comum é a do homem", explica Ángeles Castellano na apresentação da série.

A historiadora responsável pelo Departamento de Antiguidades Gregas e Romanas do Museu Arqueológico Nacional frisa ainda que todos "somos Roma" e que podemos encontrar os sinais em Portugal e Espanha: "Espanha é Roma e uma das províncias mais importantes da capital do império. Havia gladiadores neste país, os que eram naturais, os de fora mas que viviam, trabalhavam e lutavam aqui, mártires, e certamente alguma gladiadora além de médicos".

"Os romanos replicavam em todas as províncias a lógica da cidade imperial. Embora as escavações arqueológicas estejam sempre a revelar dados novos, sabemos que existiam 230 pequenos coliseus por todo o Império e 30  ficavam na Hispânia e Lusitânia", acrescenta a historiadora, lembrando que, em Portugal, há pequenos anfiteatros, nomeadamente em Braga, Évora ou Conímbriga (Coimbra).

Ao longo dos oito episódios da série, os espectadores vão viajar pela ascensão e queda do Império Romano, através de um dos seus edifícios mais emblemáticos e das experiências dos homens e mulheres que lutaram na arena. "Ao longo de cerca dez anos, comprovei que há certos momentos, conflitos e personagens que provocam um fascínio quase automático aos espectadores e quando parece que já não há nada de novo que se passa contar, neste caso sobre o Império Romano, o Canal História mostra que sim, e sob uma perspetiva original", destaca Sergio Ramos.

"Tal como aconteceu com o Império, o Coliseu também foi do grito ao silêncio", remata a historiadora ao resumir os oito episódios da produção.

"COLISEU": RESUMO DOS EPISÓDIOS

Episódio 1 - OS GLADIADORES (17 de outubro, às 22h15)

Ano 80 d.C. O imperador Tito celebra a inauguração do Coliseu com 100 dias de jogos espectaculares, que incluem um dos combates de gladiadores mais famosos de Roma. Depois de estabelecer uma estreita relação, dois gladiadores - o bárbaro Prisco e o campeão de Roma, Vero- devem lutar até à morte perante mais de 50 mil espectadores. Esta história chegou até nós  através do poeta romano Marcial.

Episódio 2 - O CONSTRUTOR (17 de outubro, às 22h55)

O mestre de obras Haterio constrói o Coliseu a partir das cinzas da Domus Aurea de Nerón. No entanto, o seu trabalho está longe de terminar. O novo imperador Domiciano encarrega-o de acrescentar uma complexa rede de túneis subterrâneos: o hipogeo. Haterio terá que fazer equilíbrios para satisfazer as insaciáveis exigências do todo poderoso imperador, com fortes pressões para finalizar a maravilha arquitectónica a tempo para os jogos de Domiciano. O fracasso poderia custar-lhe a vida.

Episódio 3 - O DOMADOR DE FERAS (24 de outubro, às 22h15)

À medida que o Império Romano continua a expandir-se, o mesmo acontece com a diversidade de bestas exóticas que chegam ao anfiteatro para entreter as multidões. Mais de um milhão de animais são sacrificados na arena por mestres de bestas muito bem treinados. Nenhum mais famoso do que Carpóforo. Mas quando tem de enfrentar o desafio de lutar contra 20 criaturas selvagens, poderá Carpóforo sobreviver?

Episódio 4 - A GLADIADORA (31 de outubro, às 22h15)

Quando o poderoso imperador Trajano organiza os seus grandes jogos do ano 107 d.C., o público assiste a uma representação pouco comum: gladiadoras. As combatentes normalmente são prisioneras de guerra, mas num jogo uma mulher romana chamada Mevia faz história. Decide mudar a sua condição de cidadã livre de Roma para lutar na arena como gladiadora, uma eleição controversa e surpreendente que ganha a inimizade do historiador e poeta satírico romano Juvenal. A sua decisão ilustra os desafios da vida plebeia das mulheres na antiga Roma.

Episódio 5 - O MÁRTIR (7 de novembro, às 22h15)

A execução pública de criminosos é um espectáculo frequente no Coliseu, mas durante os 123 dias de jogos de Trajano no ano 107 d.C., uma das vítimas não é um prisioneiro comum. O bispo Ignacio de Antioquía forma parte de uma crescente religião clandestina que ameaça as tradições romanas: o cristianismo. A execução de tão alta hierarquia eclesiástica difundirá a palavra de Cristo mais além do que Trajano poderia ter previsto?

Episódio 6 - O CIENTÍFICO (14 de novembro, às 22h15)

Galeno de Pérgamo, um dos médicos e cientistas mais famosos do mundo antigo, torna-se médico dos gladiadores.  No entanto, precisamente quando o Império de Roma atinge o pico do seu poder e influência sob o imperador Marco Aurélio, uma devastadora praga arrasa a cidade e Galeno chama a atenção do imperador. Agora é de ele que depende defender Roma da enfermidade e manter vivo o imperador. Este episódio marca um ponto de inflexão, já que os ataques dos bárbaros ao longo das fronteiras do norte de Roma se intensificam, começando o largo período de decadência de Roma.

Episódio 7 – CÓMODO (21 de novembro, às 22h15)

Todos os imperadores deram grande valor aos espectáculos e aos jogos, mas apenas um abandona o palco imperial e pisa a arena: Cómodo. Longe do seu pai, o grande imperador Marco Aurélio, Cómodo não demora a criar inimigos, especialmente num órgão de élite, o Senado. Enquanto o império se desmorona e a popularidade de Cómodo cai, produz-se um jogo mortal, de gato e de rato, centrado no anfiteatro de Roma.

Episódio 8 – O PAGÃO (28 de novembro, às 22h15)

No século IV d.C., um Império Romano dividido vê-se destruído por devastadores terramotos, incêndios, invasões bárbaras e profundas diferenças religiosas. À medida que Roma decai, o Coliseu, que fora um orgulhoso símbolo da glória do Império, fica vazio. Para restaurar Roma, um devoto apreciador dos antigos deuses recorre à arena. Organizar jogos esplêndidos e dispendiosos reverterá o declínio de Roma?

*O SAPO Mag viajou até Madrid a convite do canal História.

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