O diretor-geral da rede pública britânica BBC, Tony Hall, anunciou esta segunda-feira, dia 20 de janeiro, que vai deixar o cargo dentro de seis meses, frente ao desafio de conquistar uma nova audiência e num contexto de tensão com o governo do conservador Boris Johnson.
"Darei tudo por esta organização nos próximos seis meses (...) mas, no verão, deixarei de ser diretor-geral", declarou Tony Hall aos funcionários do grupo.
Na sua carta de demissão, Hall afirmou que a decisão foi "difícil" de tomar, após sete anos nesta posição, mas que quer dar prioridade aos "interesses da organização".
Com o seu financiamento público em risco, a BBC deve ver seu estatuto revisto em meados de 2022. Hall acredita que o seu sucessor deve estar em funções antes dessa data.
Tony Hall assumiu o cargo em 2013, com a tarefa de restaurar a reputação de maior grupo audiovisual do mundo, depois de o falecido apresentador Jimmy Savile ter sido exposto como um pedófilo reincidente.
Hoje, a empresa tem uma série de desafios pela frente, vendo-se obrigada a seduzir novas audiências face à concorrência de plataformas digitais, como a Netflix. A BBC prepara-se ainda para as consequências de uma surpreendente decisão judicial sobre a igualdade salarial, que pode lhe custar milhões de libras.
Enfrenta, sobretudo, a hostilidade do governo de Boris Johnson ao imposto audiovisual, o qual, por lei, deve ser pago por todos os telespectadores e que representa a sua maior fonte de receita.
Contando agora com esmagadora maioria parlamentar, Johnson pediu ao seu secretário do Tesouro, Rishi Sunak, que reveja o financiamento da rede. Nesse contexto, os recursos da BBC podem se ver ameaçados na renegociação de 2022.
Johnson criticou a instituição britânica pelo tratamento da campanha eleitoral, afirmando que faltou objetividade e que demonstrou claras preferências editoriais, mediante "coberturas exageradas" sobre acontecimentos desfavoráveis aos conservadores.
Também foram criticados pelo opositor Partido Trabalhista pelo mesmo motivo.
Na sua carta de demissão, Hall destacou os valores que os seus veículos de comunicação defendem. "Na era das 'fake news', continuamos a ser o ponto de referência para a imparcialidade e a verdade", afirmou.
"O que a BBC representa é precioso para este país", insistiu, garantindo que deixará um meio que se tornou "mais inovador, mais aberto, mais inclusivo, mais vigilante comercialmente".
Diante do surgimento das plataformas digitais, a BBC desenvolveu a televisão em streaming, com o sistema BBC iPlayer, e adoptou a difusão das suas emissoras de rádio e programas em podcasts disponíveis para celulares e outros dispositivos.
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