Após dois anos de pandemia, o panorama televisivo mudou irremediavelmente: o pequeno ecrã continua a dominar, mas a audiência tornou-se volátil, a oferta está cada vez mais fragmentada e intensificou-se a luta entre canais e plataformas.
“A pandemia mundial modificou, consideravelmente, o consumo dos meios de comunicação”, destaca o Observatório Europeu Audiovisual num relatório sobre as tendências do setor.
Os telespectadores europeus passaram uma média de 3h42 por dia à frente da televisão em 2021, um aumento de 3 minutos em relação a 2019, conforme dados compilados em 36 países pela Glance, que pertence ao grupo Médiamétrie, especialista em mercados televisivos internacionais.
O cocktail de "séries de TV de qualidade, informação e eventos desportivos de alto nível" mantém os canais tradicionais na corrida, afirmou o vice-presidente da Glance, Frédéric Vaulpré, durante o encontro internacional dos mercados de televisão MIPTV, que começou esta segunda-feira em Cannes (França).
Os grupos "tradicionais", que transmitem em TV aberta, redobram os seus esforços, com as suas séries que contam com elencos de estrelas e argumentos complexos.
É o caso da série “Vigil”, coproduzida pela BBC e pelo Arte, a melhor estreia no Reino Unido em 2021, ou de “HPI”, da rede francesa TF1, que obteve os melhores resultados de audiência na França desde 2005.
O consumidor evolui e escolhe os programas que quer ver, os seus horários - ao vivo ou gravado - e a maneira como vai fazer isso - televisão, telemóvel, tablet ou computador.
A tendência de "pré-transmissão", ou seja, oferecer um programa exclusivamente on-line para assinantes antes de ser transmitido em sinal aberto, está a crescer.
"É uma tendência clara há alguns anos, está a consolidar-se no Reino Unido", afirma a Glance.
O canal britânico por assinatura Sky Atlantic já oferece 55% dos seus programas desta forma.
"Todos estão a organizar as suas armas num mercado hiperdinâmico, em que se percebe uma grande vontade de descobrir novos conteúdos", disse Frédéric Vaulpré à France-Presse.
Concorrência intensa
Entre as grandes plataformas americanas, a concorrência é intensa. A Netflix continua na liderança, com 221,8 milhões de subscrições em todo o mundo, seguida de perto por Disney, Amazon e HBO.
Na corrida para propor conteúdos inovadores, diluem-se as fronteiras culturais. O melhor exemplo disso é o sucesso planetário da série sul-coreana "Squid Game", que alcançou uma audiência de 142 subscrições na Netflix, apenas um mês depois da sua estreia.
Segundo a consultoria Ampère Analysis, a Netflix prevê, para 2022, 398 programas originais, um recorde.
Com 130 milhões de subscrições, a Disney já lançou a produção de 340 conteúdos originais fora dos EUA.
A Amazon Prime Video, que tem mais de 175 milhões de subscrições, acabou de concluir a compra do lendário estúdio MGM. O seu catálogo chega a 56 mil títulos, contra os 20 mil que a Netflix pode propor.
Os tipos de subscrição também variam de acordo com os mercados. Como já fez a HBO Max, a Disney anunciou que, no final de 2022, vai oferecer nos EUA uma opção para subscrições com publicidade.
Essa também é a proposta das chamadas FastTV, como PlutoTV (Viacom CBS) ou IMDb TV (Amazon), o que significam uma "Volta para o Futuro": assistir a televisão de maneira gratuita, com anúncios.
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