“O Conselho Executivo da EBU tomou a decisão seguindo uma recomendação, de hoje, da organização do festival, baseada nas regras do evento e nos valores da EBU. A recomendação da organização conta também com o apoio do departamento de televisão da EBU”, lê-se num comunicado divulgado hoje à tarde no site oficial da EBU.

Na quarta-feira, a emissora pública da Ucrânia, numa carta aberta, apelou à EBU para a exclusão da estação pública da Rússia da União Europeia de Radiodifusão, apelidando-a de “porta-voz do Kremlin e uma peça chave da propaganda politica financiada pelo Orçamento do Estado russo”.

Na mesma carta, a UA:PBC pedia que a Rússia fosse excluída do 66.º Festival Eurovisão da Canção.

Entretanto, hoje, a emissora AVROTROS, dos Países Baixos, coorganizadora do Festival Eurovisão da Canção no ano passado, fez um apelo semelhante ao da UA:PBC.

A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos mais de 120 mortos, incluindo civis, e centenas de feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de 100.000 deslocados no primeiro dia de combates.

No comunicado hoje divulgado, a EBU refere que a decisão de excluir a Rússia da edição deste ano do Festival Eurovisão da Canção “reflete preocupação de, à luz da crise sem precedentes na Ucrânia, a inclusão de um concorrente russo no concurso deste ano poder trazer descrédito à competição”.

No comunicado a EBU partilha que, antes de tomar a decisão, realizou uma “ampla consulta” dos seus membros, entre os quais figura a RTP.

“A EBU é uma organização apolítica de emissoras comprometidas com a defesa dos valores do serviço público. Continuamos dedicados a proteger os valores de uma competição cultural, que promove o intercâmbio e a compreensão internacional, aproxima públicos, celebra a diversidade através da música e une a Europa num palco”, lê-se ainda no comunicado.

A Rússia ainda não tinha escolhido quem iria representar o país no 66.º Festival Eurovisão da Canção, que vai decorrer entre 10 e 14 de maio, em Turim.

Entre os agora 40 países a concurso está também a Ucrânia, que será representada pelos Kalush Orchestra, com a música “Stefania”, em substituição de Alina Pash, a vencedora do concurso para escolher o representante do país na Eurovisão.

Em 19 de fevereiro, a Ucrânia anunciou que Alina Pash já não seria a representante do país na Eurovisão, depois de ter havido protestos devido ao facto de a cantora ter atuado na Crimeia em 2015, um ano depois de a Rússia ter ocupado aquela região.

Esta não é a primeira vez que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem implicações na Eurovisão.

Em 2017, a Rússia recusou participar no concurso realizado em Kiev, na Ucrânia, depois de os serviços de segurança daquele país terem impedido a entrada da cantora Yulia Samoylova por esta ter visitado a Crimeia após a anexação russa.

Em 2019, a UA:PBC renunciou a participar no concurso, que nesse ano decorreu em Israel, por não ter conseguido um acordo com a vencedora do concurso para encontrar o representante do país na Eurovisão.

A cantora Maruv, que tinha vencido o concurso com a música “Siren Song” negou-se a assinar o contrato 'leonino' proposto pela UA:PBC.

As condições do contrato incluíam recusar-se a atuar na Rússia e ser especialmente cuidadosa ao abordar o tema da integridade territorial da Ucrânia, ou fazer declarações públicas que pudessem prejudicar a imagem do país a nível internacional.