O mexicano Roberto Orci, conhecido por várias produções televisivas, como «A Vingadora», «Lost» e «Fringe», ainda está surpreendido com o sucesso alcançado em Hollywood como guionista de ação de «Transformers» e «Star Trek», mas agora pretende aproveitar este momento na sua carreira para aventurar-se com o drama familiar «People Like Us».

Escrito e produzido por Orci, o filme independente protagonizado por Michelle Pfeiffer, Elizabeth Banks e Chris Pine estreia esta sexta-feira, 29 de junho, nos Estados Unidos.

«People Like Us» conta a história de um executivo (Pine) que descobre, após a morte do pai, a existência de uma irmã da mesma idade (Banks) e de um sobrinho espirituoso.

«Toda família tem um segredo ou alguma dor, mas isso não significa que não se possa chegar à absolvição», comentou Orci, que coescreveu o guião com o seu parceiro de sucessos, Alex Kurtzman, ambos com 38 anos.

«Adoramos a ideia de uma família partida que finalmente acaba junta outra vez», declarou ainda o mexicano à AFP, por ocasião do lançamento do filme em Los Angeles.

Com apropriados picos de comédia que aliviam o clima intenso do drama familiar, a história opõe-se a tudo o que Orci e Kurtzman já fizeram até hoje para se lançar no difícil mercado de Hollywood.

Amigos desde os tempos da escola de cinema Crossroads, em Los Angeles, os dois começaram a carreira em 1997 ao escreverem o guião para a série de televisão «Hércules». Desde então dedicaram-se à ação e à ficção científica.

Assinaram, entre outros 'blockbusters', «A Lenda do Zorro», com Antonio Banderas (2005), «Missão Impossível III», com Tom Cruise (2006), os dois primeiros filmes de «Transformers» e o 'remake' da série de culto «Star Trek».

Antes, na televisão, e sempre sob a batuta de J.J.Abrams, foram responsáveis pelos enredos geniais e mirabolantes de várias séries, como «A Vingadora», «Lost» e, atualmente, «Fringe».

«People Like Us» é o primeiro drama que os dois escrevem ou, pelo menos, o primeiro a ser exibido nas telas de cinema, observa Orci, e é também o primeiro filme dirigido por Kurtzman.

«É uma mudança, mas é assim que começamos», disse o cineasta mexicano. «Os primeiros três, quatro guiões que escrevemos eram assim, sobre as nossas famílias, as nossas vidas e as nossas namoradas. Então, por sorte ou sei lá o quê, sentámo-nos para fazer grandes filmes de ficção científica», ressaltou.

Mas não foi fácil modificar o já aceite e heroico estilo e mudar para um projeto dramático sobre a família.

«Quando se está a fazer um drama, não se pode esconder atrás do espaço, atrás de um robô ou atrás de uma grande luta. Tudo tem que ser um pouco mais real, porque não há nada mais», afirmou Orci, para quem lidar com os sentimentos é infinitamente mais arriscado.

Escrever linhas verossímeis «é algo que realmente requer um longo tempo, porque a única coisa na tela é o que está a acontecer com as pessoas».

Apesar disso, até um guião de ação, que depende de efeitos especiais, precisa sempre de um drama subjacente.

"Um truque que ninguém sabe é que se tem de dizer do que se trata o filme sem a ação», explicou. «Por exemplo, a Missão Impossível III apelidámos 'casamento impossível', porque o tema era o que acontece quando alguém se casa e o que pode acontecer com os segredos que vêm à tona. É disso do que se trata o filme, não o resto», acrescentou.

De pai mexicano e mãe cubana, Roberto nasceu na Cidade do México e emigrou com a família quando tinha 10 anos, primeiro para o Canadá, depois para o Texas (sudoeste dos Estados Unidos) e finalmente para Los Angeles, onde chegou aos 17 anos.

Por isso, sente que é um exemplo vivo do sonho americano: «Que sorte», é o que consegue dizer.

«Inacreditável. Todos os dias chego ao estúdio e surpreendo-me, porque deixam-me entrar", conta, rindo. «Sempre deixamaram entrar, mas fico sempre surpreendido. É um sonho».

@SAPO com AFP