A série arranca quando as protagonistas são convidadas para um restaurante sofisticado para compartilhar um agradável jantar entre dois casais amigos. Ou pelo menos é isso que pensam, porque quando chega a sobremesa, Robert e Sol, interpretados por Martin Sheen e Sam Waterston, soltam a bomba: "Há vinte anos nos amamos em segredo e vamos deixá-las para viver juntos os últimos momentos das nossas vidas".

Desconcertadas, furiosas e magoadas, as duas mulheres procuram uma forma de renascer das cinzas após perceberem que seus projetos de família, aos quais dedicaram seus melhores anos, não terão um final feliz.

Com esta série de 13 capítulos, com estreia mundial na íntegra nesta sexta-feira, o Netflix dá um passo na conquista de todos os públicos, ao dedicar os papéis principais a duas mulheres de 70 anos, o que continua a ser uma raridade na televisão ou no cinema.

Além disso, a série mergulha no tema dos novos modelos de família, que tem dominando as tramas de algumas séries como "Orange Is The New Black", também do Netflix, e "Transparent", produzida pela Amazon, sobre um homem idoso que confessa ser transexual.

"Ninguém está a abordar temas relacionados com mulheres idosas, aqui está o incomum desta série", explicou Fonda num encontro recente com jornalistas em Los Angeles sobre "Grace and Frankie", criada por Marta Kauffman, que assinou "Friends".

"Queria fazer uma série sobre mulheres idosas", disse Fonda.

Quando a amizade é um salva-vidas

Face à dor que as aflige, Grace e Frankie percebem que a amizade é a melhor forma de seguir em frente e recuperar o controlo de suas vidas, depois de anos a depender de maridos.

"Muitas mulheres não têm ideia de como a amizade é importante", afirmou Tomlin, de 75 anos.

"O facto é que as mulheres, muito mais do que os homens, podem ter amizades extremamente intensas e profundas. Quanto mais velha és, mais percebes isto", acrescentou Fonda, de 77 anos.

Apesar de representarem personagens opostas - Grace preocupa-se mais com o que os outros pensam e Frankie está decidida a seguir o que sente -, a cumplicidade entre as duas atrizes é um dos trunfos da trama.

As duas são amigas desde que protagonizaram em 1980, ao lado de Dolly Parton, a comédia "Das 9 Às 5". A sua luta contra a violência de género e a dedicação à natureza e aos animais ajudaram a manter o elo ao longo dos anos, assim como o feminismo, que está implícito na série.

As suas personagens reforçam uma mensagem que tentam difundir em seu dia a dia. "Não devemos deixar de ser quem somos por estar com um determinado tipo de homem", disse Fonda, dando como exemplo os 15 anos de afastamento do trabalho que viveu durante seu casamento com o magnata Ted Turner, fundador da CNN.

"E mais, podemos estar comprometidas muito tempo com uma pessoa, mas devemos manter a nossa própria liberdade para que nos possa salvar a qualquer momento", acrescentou Tomlin.

As protagonistas deixam para uma segunda temporada - se o público e o Netflix permitirem - a abordagem de mais questões relacionadas com as mulheres idosas ou de como os seus ex-maridos vivem uma relação homossexual.

@AFP