Judite Sousa foi uma das jornalistas da TVI que acompanhou no terreno o incêndio em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria. Durante uma reportagem emitida na noite deste domingo, 18 de junho, a pivot do canal de Queluz de Baixo apareceu nas imagens junto de um corpo queimado.

A reportagem não passou despercebida, gerando uma onda de comentários negativos nas redes sociais e mais de 100 queixas na ERC.  Em resposta, a direção de informação da TVI garantiu que “não recebe lições de ninguém sobre sensibilidades profissionais".

Na sua página no Facebook, Judite Sousa falou pela primeira vez do caso, ao partilhar uma reportagem da CNN sobre o genocídio no Ruanda, onde são mostrados cadáveres. "Uma das minhas referências: Amanpour", escreveu a jornalista. Christiane Amanpour foi correspondente-chefe da CNN International de 1992 a 2010, assim como pivot de "Amanpour", um programa de entrevistas.

"Obrigada por terem compreendido a resposta que encontrei para o ataque pessoal que me foi movido e assumirem-no publicamente", acrescentou Judite Sousa na sua página no Facebook.

"A Direção de Informação da TVI não recebe lições de ninguém"

"Porquê a TVI? Porquê só a TVI? E o que de especial havia nessa reportagem que motiva a ERC justificar-se com uma sintonia 'com a sociedade portuguesa' que nunca ninguém viu? Ou de ensaiar julgamentos morais com critérios que não são explicados mas que, no entender dos conselheiros, serão suficientes para calibrar o que os próprios consideram ser 'uma sensibilidade profissional a toda a prova", frisa a Direção de Informação da TVI, acrescentando que "não recebe lições de ninguém sobre sensibilidades profissionais".

Na nota, a TVI destaca ainda que  as audiências são "um indicador objetivo que valida a sintonia com a sociedade portuguesa que, sabe-se lá como e porquê, a ERC reivindica para si". "A informação da TVI faz jornalismo. Apura factos, vai para o terreno, procura proximidade com os portugueses – e tem-no feito com sucesso, porque recolhe há anos consecutivos, mês após mês, a preferência da maioria dos cidadãos", defende.

A TVI relembra ainda que alguns "órgãos de comunicação social que decidiram revelar as fotos de crianças que morreram nos incêndios". "Há outras televisões abriram os seus principais serviços noticiosos mostrando corpos espalhados no chão (...) Não têm sido essas as nossas opções editoriais. Conscientemente a TVI tem procurado respeitar a dor de quem sofre, sem a esconder. Nas horas e horas de emissão e diretos, é feito pelos seus profissionais um esforço de contenção, sem prejuízo do rigor, da verdade e daquilo que a nossa orientação editorial considera ser notícia relevante", frisa o canal.

No comunicado, a Direção de Informação da TVI acusa ainda a ERC de não revelar qual a reportagem que vai analisar. "No seu curto mas significativo comunicado, a ERC não diz qual a reportagem que vai investigar e esconde-se nas 'mais de 100 participações que contestam o plano televisivo em que aparece um dos cadáveres da tragédia'. O que presumivelmente reduz o problema a uma questão de ângulo. E remete, também presumivelmente, para uma reportagem 'live on tape' que a jornalista e diretora-adjunta desta estação realizou em aldeias onde bombeiros ou equipas de resgate tinham sequer ainda chegado", advoga o canal de Queluz de Baixo.

"Num desses locais, estava efetivamente um cadáver, estendido há muitas horas e tapado com um lençol branco – a pior das metáforas da incapacidade da assistência civil atender todas as populações que foram implacavelmente atacadas pelas chamas. Esta circunstância confere um evidente relevo informativo, que não compete ao regulador definir", defende a Direção de Informação da TVI.

No final do comunicado, a Direção de Informação da TVI  informa ainda a "entidade reguladora do setor, zeladora que é do rigor na atividade dos órgãos regulados, que o 'Jornal Nacional' da TVI acabou em 2009, tendo desde então e até à data adotado a designação de 'Jornal das 8'".

"Não é a favor de nada, nem ninguém precisa de favor. Apenas um manifesto contra esta forma de estar da carneirada", acrescentou Sérgio Figueiredo, diretor de informação da TVI, na sua conta no Facebook.