"Kamikaze" é uma das mais recentes apostas da HBO Max. A nova série de drama da HBO Europe, baseada no romance norueguês de Erlend Loe, "Muleum", já se encontra disponível no serviço de streaming e conta com a atriz portuguesa Iris Cayatte no elenco, ao lado de Marie Reuther, Aleksandr Kuznetsov e Mads Reuther, entre outros.

"Juntei-me a este projeto através da iniciativa da Patrícia Vasconcelos, o 'Passaporte'. Comecei na primeira edição do 'Passaporte', em 2016. Entretanto, mesmo que tu não estejas lá sempre enquanto ator, podes ser convidado para ter entrevistas se os casting directors te quiserem ver. Isto aconteceu em 2019 e não estava lá. Mas houve uma casting director, a dinamarquesa Anja [Philip], que perguntou se eu estava por lá, queria ter uma conversa comigo. Encontrei-me com ela, disse-me que tinha um papel para mim numa série grande, que não me podia dizer qual era", começa por recordar a atriz em conversa com o SAPO Mag.

Depois de vários castings e self-tapes, o convite para se juntar ao elenco da série dinamarquesa confirmou-se. "Quando recebi o guião, não percebi nada porque estava em dinamarquês. É a primeira série dinamarquesa da HBO", conta Iris Cayatte, que veste a pele de Consuelo em dois episódios da série.

Antes de começar a preparar a personagem, a atriz conversou com a realizadora Annette K. Olesen, responsável por séries como "Borgen”, "Minor Mishaps" ou "Broke". "Passei uma hora ao telefone com a realizadora, achei maravilhoso. Ela deu-me o seu tempo e mostrou estar genuinamente interessada em mim, na forma como é que eu queria pegar nesta personagem. Falámos um bocadinho sobre a série e percebi que era uma série com um humor bastante nórdico, bastante negro. Isso é algo que me motiva porque a minha educação é finlandesa, a minha mãe é finlandesa. Percebo este tipo de sentido de humor negro", conta.

Iris Cayatte

"Achei que a personagem principal, que é interpretada pela Marie Reuther, estava extraordinariamente bem escrita. E gostei muito da ideia de uma jovem estar em busca de algo, sendo que está completamente sozinha neste mundo", sublinha a atriz.

No coração da história, está uma jovem de 18 anos, Julie, que trava uma luta existencial para regressar à vida, depois de ter perdido tudo. "Achei muito bem escrito. Achei conciso e com personagens muito bem pensadas. Aqui não há personagens secundárias. O que acontece é que são oito episódios e a personagem principal, a Julie, percorre todos os episódios e depois, em cada episódio, aparece uma figura que vai mudar alguma coisa na história", resume.

A história começa logo após o seu 18.º aniversário, quando Julie recebe uma última mensagem do pai. Segundos depois, os pais e o irmão mais velho morrem num acidente de avião no Uganda. "Ela fica sozinha numa mansão gigante e com tudo aquilo que toda a gente sonha: juventude, beleza e dinheiro - muito dinheiro. À medida que a perda da família se intensifica, é forçada a encontrar um motivo para seguir em frente e embarca numa perigosa jornada de redescoberta que a vai levar da terra natal, a Dinamarca, a todos os cantos do mundo", adianta a HBO Max.

Iris Cayatte

"No caso da minha personagem, a Consuelo, vem mudar, vem fechar, a série. Eu apareço mais no final e ela vem fechar um bocadinho de tudo", avança Iris Cayatte. "A minha personagem foi há muitos, muitos anos a ama da Julie, na Dinamarca, em Copenhaga. A Consuelo, apesar de ter um nome espanhol e trabalhar em Espanha, não tem bem uma nacionalidade e fala em inglês", conta a atriz, relembrando que a sua personagem é "instrutora de voo na ilha de Las Palmas".

"A Julie vem ter com ela e pede-lhe para aprender a voar. E a Consuelo fica muito feliz por reencontrar a Julie, mas não percebe bem o porquê. E não posso contar mais", resume.

A pandemia e as gravações nas Canárias

"Kamikaze", a primeira produção original da Dinamarca para a HBO Europe, começou a ser produzida em janeiro de 2020, mas a pandemia da COVID-19 mudou os planos de toda a equipa da série. "Foi muito, muito difícil, porque apareceu a pandemia. Nós tivemos cerca de cinco datas provisórias e eu na altura estava a fazer uma peça de teatro no Porto e estava em Braga a filmar uma série, uma rodagem de três meses, e estava a ver a coisa muito mal parada. As minhas datas de rodagem não iam bater certo. Depois ligaram-se a dizer que o meu primeiro dia de rodagem para a série era precisamente na noite de estreia da peça que estava a fazer. E pensei: 'vou ficar sem nada. Vou ficar sem a peça, vou ficar sem a série. O que é que eu faço?'. Com a pandemia, fechou tudo e foi o segundo trabalho que fiz depois da primeira quarentena", recorda a atriz.

Iris Cayatte

"Gravei nas Canárias e estive lá cerca de uma semana e meia ou duas. Tivemos alguns ensaios e estivemos a filmar principalmente num hangar de aviões, com o mar à frente, com a brisa do Saara", conta. "A rodagem foi muito divertida porque era uma equipa grande - é uma produção enorme -, mas com uma sensação de muita proximidade. E tive uma grande empatia com o realizador dinamarquês, o Kaspar Munk", sublinha.

"Tivemos várias versões do guião e a minha personagem era mais interessante na primeira versão. Pensava: 'estou a perder as grandes cenas da minha personagem, não pode acontecer'. Por isso, quando cheguei às Canárias e percebi que Kaspar Munk tinha abertura para diálogo... Ele fez-me a seguinte pergunta: 'Tu ainda te lembras das falas do antigo guião?'. E eu lembrava-me porque trabalhei muito. E voltámos a esse primeiro guião. Houve muito espaço para improviso e o realizador ensinou-me muito sobre como se faz cinema nórdico - a série, na realidade, é quase cinema", explica Iris Cayatte.

"Já filmei há dois anos e durante dois anos não disse nada a ninguém, só a pessoas próximas. As pessoas perguntavam-me: 'então, que estás a fazer? Estás com trabalho?'. Dizia que estava, mas que não podia dizer mais nada", conta. "A série já se estreou na Dinamarca e noutros países e, por isso, já tenho recebido de facto muitas mensagens. Isso é que é divertido nisto tudo. A parte final, para além do trabalho e da felicidade que é criar com outras pessoas... mas receber mensagens de todo o lado do mundo. E tu percebes como é que a Arte ou o Entretenimento - se quiseres chamar assim - chega a tantos sítios e a tantas pessoas diferentes", frisa.

"Kamikaze" tem recebido elogios e na página da série no IMdb está em aberto a possibilidade de uma segunda temporada. "Não posso dizer nada. É segredo. Não estou nas Canárias, estou em Campo de Ourique, mas acabei de chegar de Paris. Mas amanhã posso estar em outro sítio qualquer".