“Durante a pandemia houve um crescimento enorme dos mercados negros globais”, disse à agência Lusa a jornalista de investigação, que é a primeira portuguesa a ter um programa em nome próprio no National Geographic, “Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller”.

“Sempre que há uma crise na economia e muitas pessoas perdem o trabalho, têm de recorrer a mercados negros e a outras maneiras de fazer dinheiro para trazer comida para a família”, afirmou. “Mal começámos a investigar vimos isso, que tinha havido um crescimento grande no mercado de drogas, no mercado de armas, no mercado de esquemas”, sublinhou.

Nesta segunda temporada, a equipa conseguiu ir mais a fundo nos mercados negros e alargar a abrangência da sua investigação, impulsionada pelo sucesso da primeira temporada.

“Alargámos a ideia do que são os mercados negros, que não são só bens como armas e drogas”, frisou. “Existe um crescimento enorme de um movimento de supremacia branca pelo mundo inteiro, e eu há muitos anos que estava interessada neste tema”.

Encontros a meio da noite e aventuras sem fim: Mariana Van Zeller leva-nos ao mundo dos mercados negros na nova série do National Geographic

Esse é um dos episódios mais marcantes da temporada, filmado durante um período conturbado da sociedade norte-americana.

“Foi a investigação mais assustadora, muito mais que estar num laboratório de metanfetaminas com homens armados à minha volta no México, ou com gangues de motoqueiros”, revelou.

“Foi estar frente a frente com um neonazi e um americano que vivia na Sérvia, e perceber o ódio e a raiva que existe aliados a uma completa falta de informação ou a informações erradas que levam a ataques terroristas”, continuou. “Foi assustador como americana e como portuguesa, sabendo que estas ideias se estão a disseminar pelo mundo inteiro”.

A investigação levou-os a perceber que a divulgação da ideologia do ódio e da supremacia branca é feita muito em paralelo com os mercados negros tradicionais. “Neste caso, em vez de estarem a vender armas ou drogas, estão a pôr ideias nas cabeças de pessoas, informação errada que leva em muitos casos a episódios piores ainda que a compra de drogas”.

Van Zeller disse que, sendo impossível policiar ideias, usar alguns métodos tradicionais pode ser uma solução. “Uma das coisas que se pode fazer, por exemplo, é o policiamento das armas em grupos onde se sabe que existe um objetivo de destruição e morte”.

Após a primeira temporada, parte do trabalho ficou um pouco mais fácil, porque pessoas que fazem parte destes mercados negros convidaram a equipa a ter acesso. “Por outro lado, tem sido mais desafiante porque pessoas que viram ficam com mais medo de falar, sabendo que é uma série bastante popular, e muitas pessoas veem”.

Sábado, 13 de fevereiro: Na Rota do Tráfico com Mariana Van Zeller (estreia da T1)

Entre os temas explorados nesta segunda temporada estão as cirurgias plásticas ilegais, que em muitos casos resultam em morte, os esquemas fraudulentos ligados a romances online – que cresceram mais de 100% durante a pandemia – e a pesca ilegal.

“Foi chocante para mim descobrir que existe muita pesca ilegal, mas ainda mais chocante é saber que a pesca legal ainda é mais preocupante”, disse a jornalista. “O que podemos fazer no mar é chocante e está a levar rapidamente à destruição dos oceanos e do peixe”, continuou.

Esse episódio mostrará que “a pesca legal não é sustentável”, na forma como está a ser feita hoje, e que “daqui a muito poucos anos vai haver pouquíssimo peixe” em resultado disso. “Não posso estar mais orgulhosa desse episódio, é super importante e, sendo portuguesa, é um episódio que estou contente que Portugal vá ver”.

Van Zeller e a sua equipa também tiveram um acesso sem precedentes à exploração madeireira ilegal na Amazónia, onde estiveram várias semanas.

“Vimos árvores a serem cortadas que já têm centenas de anos”, contou. “Tivemos acesso a esses grupos que estão a desmatar a floresta amazónica e algumas minas de ouro ilegais, também responsáveis pelo desmatamento ilegal da Amazónia”.

Investigada e filmada durante o pico da pandemia, a segunda temporada de “Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller” mostra como esta realidade está por todo o lado. “A melhor maneira de esconder o mercado negro é fazê-lo às claras. É incrível mas é verdade”.

Procurando sempre “humanizar” os entrevistados, van Zeller afirmou que o principal objetivo da série “não é criar raiva nem desconfiança no mundo mas sim criar pontes”, porque “só através de pontes conseguimos criar uma sociedade e um mundo melhor”.

O primeiro episódio da segunda temporada de “Na Rota do Tráfico com Mariana van Zeller” estreia-se no próximo sábado, dia 18, no National Geographic, às 22h30 (hora de Lisboa).

Cada novo episódio será sempre emitido aos sábados à noite, à mesma hora.