Descontraído mas assertivo, Salvador Sobral falou aos jornalistas europeus após a vitória da edição de 2017 do festival da Eurovisão, na noite do passado sábado, em Kiev, na Ucrânia.

Tal como tinha dito quando agradeceu o prémio em palco, ocasião na qual criticou o "tempo de música descartável", o cantor de "Amar Pelos Dois" assinalou que o que o move é a paixão pela música e não a busca de popularidade. "Nunca compus uma canção para passar nas rádios. O meu álbum saiu em 2016 e ninguém lhe ligou nenhuma. (...) Depois desta canção, as pessoas passaram a conhecer-me e compraram o disco. Estou grato por isso", salientou.

Quando questionado sobre a eventual mudança de planos profissionais face à vitória no festival, o representante português assegurou que pretende manter a rotina. "Não vai ser diferente de forma nenhuma. Vou ter uma digressão nacional no verão e manter a minha vida normal. (...) Não nos podemos esquecer que tudo isto passa muito rápido. Por isso vou continuar a trabalhar no meu segundo álbum", sublinhou.

Ainda assim, Salvador Sobral reconhece que há mudanças repentinas. "Ter quatro guarda-costas só para ir ao camarim é absurdo. Mas acho que vai passar", brincou, descartando o epíteto de "heróis português" sugerido por um jornalista. "Acho que o verdadeiro herói é o Ronaldo e estou contente que tenha esse papel", respondeu.

Abertura e censura

"Uma canção destas ganhar é celebrar a diversidade", disse ainda, a propósito do tema da edição deste ano. "Tudo o que quero fazer é criar música e cantar. Espero que nas próximas edições as pessoas possam trazer coisas diferentes e todo o tipo de música". Coisas diferentes como cantar na língua materna, por exemplo. "Nunca me preocupei com a votação, por isso nunca me interessou cantar em inglês. Só quis cantar uma canção bonita como ela é", explicou.

Também presente no encontro com os jornalistas, Luísa Sobral foi desafiada a explicar o motivo do sucesso de "Amar Pelos Dois", que compôs para o irmão. "Acho que houve muitos elementos combinados. A interpretação dele, claro... Acho que podia ter-lhe dado a 'Parabéns a Você' e ele ganhava na mesma. Mas também a simplicidade. Nesta interpretação, e ele faz sempre interpretações diferentes, consegui ver no olhar dele tudo o que estava a cantar...", frisou.

Além de ter sido o vencedor da noite, Salvador Sobral também se fez notar, horas antes da cerimónia, pela chamada de atenção da EBU/UER (União Europeia de Radiodifusão), que o proibiu de usar uma camisola com a mensagem "SOS Refugees". O cantor voltou ao tema na conferência de imprensa, após ter sido questionado por um jornalista. "Acho que a questão dos refugiados é o maior problema que enfrentamos agora. Mas fui proibido de usar essa camisola porque a organização não quer mensagens políticas ou comerciais. Isso é um pouco estranho para mim... Se usar uma camisola da Adidas, não é comercial? Esta não é uma questão política, é uma questão humanitária", contrastou numa das declarações mais aplaudidas do encontro.

Durante a conferência de imprensa, o supervisor executivo da União Europeia de Radiodifusão, Jon Ola Sand, enalteceu o trabalho da organização local em Kiev e disse que a preparação para 2018, em Portugal, começa "já na segunda-feira".

Foto: Andres Putting/Eurovisão