O recorde já andava a bater há porta há algumas semanas, mas agora chegou a confirmação: "Squid Game" tornou-se o maior lançamento de sempre da Netflix. Segundo o serviço de streaming, a série sul-coreana foi vista em mais de 111 milhões de contas em 28 dias.

A produção lidera o top diário da Netflix em mais de 80 países e ultrapassou "Bridgerton", que foi vista em 82 milhões de contas em 28 dias.

"'Squid Game' ultrapassou os nossos sonhos mais loucos. Deu [à Netflix] mais confiança de que nossa estratégia global está na direção certa", frisou Minyoung Kim, vice-presidente de conteúdos da Netflix para Ásia-Pacífico, à CNN.

Trama cortante, alegoria social e cenas de violência contundente são os ingredientes do sucesso de "Squid Game".

Assim como em "Parasitas", que em 2020 se tornou a primeira produção não inglesa a ganhar o Óscar de Melhor Filme, os seus protagonistas são das camadas mais marginalizadas da sociedade.

Pessoas afundando-se em dívidas, um precário trabalhador imigrante ou uma desertora da Coreia do Norte competem em jogos infantis para ganhar 45,6 mil milhões de won (38 milhões de dólares). Se perderem, pagam com a vida.

Escrita e dirigida por Hwang Dong-hyuk, a série confirma a crescente influência da cultura popular sul-coreana, com fenómenos mundiais como o grupo K-pop BTS ou o próprio "Parasitas", do cineasta Bong Joon-ho.

Para os críticos, além da origem da produção, a explicação para o seu sucesso está nos temas abordados e na sua crítica aos males do capitalismo, universais, especialmente com uma pandemia que aumentou a desigualdade.

"A tendência crescente de priorizar os benefícios sobre o bem-estar do indivíduo" é "um fenómeno que vemos nas sociedades capitalistas de todo mundo", disse à France-Presse (AFP) Sharon Yoon, professor de Estudos Coreanos na Universidade Notre-Dame, nos Estados Unidos.

Guerra e pobreza

Em fevereiro, a Netflix anunciou planos de investir 500 milhões de dólares só este ano em séries e filmes produzidos na Coreia do Sul. "Nos últimos dois anos, vimos o mundo apaixonar-se pelo incrível conteúdo coreano, feito na Coreia", disse o codiretor-executivo da plataforma Ted Sarandos.

"O nosso compromisso com a Coreia é forte. Continuaremos investindo e colaborando com narradores coreanos numa ampla gama de géneros e de formatos", acrescentou.

A história do país está repleta de guerras, pobreza e governos autoritários, temas e fenómenos perante os quais os seus artistas responderam explorando o poder, a violência e as questões sociais. Isso criou uma cena cultural vibrante que, em diferentes formatos, atingiu um amplo público internacional.

No início, os dramas coreanos eram muito populares nas televisões asiáticas. Depois, o seu cinema foi premiado em vários festivais europeus, e grupos de K-pop ganharam fãs à volta do mundo.

"Sangrenta, estranha e difícil"

O realizador de "Squid Game", Hwang Dong-hyuk, terminou o seu argumento há uma década, mas as produtoras recusaram-se a apostar numa história que consideravam "muito sangrenta, estranha e difícil".

Os seus trabalhos anteriores trataram de questões como abuso sexual, adoção internacional ou deficiência - todos eles inspirados livremente em factos.

A sua primeira produção para a televisão inclui referências a experiências coletivas traumáticas que ficaram gravadas na memória do país, como a crise financeira asiática de 1997 ou as demissões de 2009 da fabricante de automóveis Ssangyong Motor.

"A Coreia do Sul tornou-se uma sociedade muito desigual de forma relativamente rápida e recente, nas últimas duas décadas", disse à AFP Vladimir Tijonov, professor de Estudos Coreanos na Universidade de Oslo, na Noruega.

A mobilidade social tornou-se "muito menos possível" agora do que era em 1997, e "o trauma da crescente desigualdade [...] transborda para os ecrãs", acrescentou.

A Netflix oferece a série na versão dobrada e legendada em vários idiomas, expandindo o seu público potencial.

Brian Hu, professor de cinema da Universidade de San Diego (EUA), comenta que o facto de ser um sucesso em quase 100 países mostra que não foi feita apenas para um público ocidental.

"O público ocidental associou, em grande medida, produções estrangeiras com descrições da pobreza, e isso tornou-se uma forma de menosprezar o resto do mundo", disse à AFP.

"O que é único em 'Parasitas' e 'Squid Game' é que, embora mostrem pobreza e desigualdade de classes, fazem isso de uma forma que realça a modernidade técnica e cinematográfica da Coreia", completou.

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