Em 2022, a Netflix bateu de frente com uma situação que não conhecia há mais de dez anos: com um aumento de preços e a concorrência cada vez mais forte (principalmente do grupo Disney), perdeu mais de 200 mil subscritores no primeiro trimestre e, em reação, as ações em bolsa desvalorizaram mais de 40%.

Em reação, a empresa decidiu introduzir uma nova modalidade com publicidade, aumentar o combate à prática da partilha de contas... e cortar custos em várias áreas, do despedimento de funcionários à suspensão de projetos em andamento.

A face mais mediática deste novo regime da plataforma presidido pela noção de "disciplina" é nas séries: só nas últimas semanas foram canceladas "Uncoupled", "Blockbuster", "1899", "Warrior Nun" (com Alba Baptista), que se juntam a "The OA", "The Society", "Chilling Adventures of Sabrina", "Anne With an E", "The Dark Crystal: Age of Resistance", "American Vandal", "Archive 81" ou "Cowboy Bebop".

São cada vez mais os fãs a expressarem publicamente o seu descontentamento com as histórias que ficam "penduradas" ou a dizerem que vão evitar investir tempo e expectativas em novas séries até terem a certeza que são renovadas para mais temporadas.

Fãs e analistas criticam a Netflix por não dar tempo para as séries atingirem o seu potencial, optando pelos grandes eventos com impacto mundial, como "Stranger Things", "The Crown", "Squid Game", "Bridgerton" e "The Witcher". Comenta-se mesmo que uma série que não tenha uma estreia nos primeiros dias acima das 100 milhões de horas visualizadas está "condenada".

Em entrevista à Bloomberg, Ted Sarandos, CEO da Netflix, explicou a realidade (económica) que levou a estas decisões: "Nunca cancelámos uma série de sucesso. Muitas destas séries tinham boas intenções, mas falam para um público muito pequeno com um orçamento muito grande".

E acrescentou: "A chave para isto é ser capaz de falar para um público pequeno com um orçamento pequeno e um público grande com um orçamento grande. Se fizer isso bem, pode fazê-lo para sempre".