Lynch encadeia metáforas sobre peixes e galinhas, parece insinuar que não fará mais filmes e mantém o mistério sobre os novos episódios da mítica série "Twin Peaks".
A série, que revolucionou a produção de televisiva em 1990, volta 25 anos depois, a partir de 21 de maio no canal Showtime, nos EUA, que divulgou apenas um teaser voltando a locais emblemáticos dessa saga policial. Em Portugal, a saga vai ser exibida no TVSéries.
Lynch é considerado um dos maiores cineastas da sua geração e passou os últimos anos a realizar a videoclips e curta-metragens, além de pintar, compor e desenhar.
A sua última longa-metragem, "Inland Empire", que estreou em 2006, arrecadou apenas 4 milhões de dólares apesar de ter no elenco estrelas como Laura Dern e Jeremy Irons.
"As coisas mudaram muito nesses 11 anos, e uma dessas coisas é a forma como as pessoas percebem os filmes, o facto de que muitos deles não funcionam bem nas bilheteira apesar de serem grandes filmes", diz. "E as coisas que fazem sucesso nas bilheteiras não são as que eu queria fazer".
Isso quer dizer que já rodou a sua última longa-metragem para o cinema? "Acredito que sim", responde, acrescentando que neste momento a televisão é "um lugar precioso".
Evento televisivo
A trama dos oito episódios da primeira temporada de "Twin Peaks" - quem matou Laura Palmer? - fascinou uma geração de espectadores a partir de 1990 e abriu caminho para uma nova forma de fazer ficção televisiva de qualidade.
O entusiasmo do público e da crítica esfriou durante a segunda temporada, com 22 episódios, em que se revela a identidade do culpado. Mas "Twin Peaks" já tinha se transformado numa obra de culto e o seu regresso é um dos eventos mais esperados do ano na televisão.
David Lynch e sua equipa mantiveram em segredo os detalhes dos 18 novos episódios, que têm no elenco Kyle MacLachlan, no papel do agente Dale Cooper, e que se desenvolvem passados 25 anos do final da segunda temporada.
Antes da conferência de imprensa com Lynch em Los Angeles, foi pedido que os jornalistas não perguntassem nada sobre "a trama, as personagens e os espaços", mas até as perguntas mais gerais sobre "Twin Peaks" 2017 só tiveram respostas vagas.
"As ideias são como peixes. Se queremos um peixe, pomos a isca no anzol, atiramo-lo à água e esperamos que a ideia - oh, um peixe - se aproxime e possamos pescá-lo", disse Lynch em relação à sua filosofia como cineasta.
"Depois, a pergunta é: gostamos deste peixe? Desta ideia?", acrescentou.
Quando questionado se a revelação do assassino de Laura Palmer poderia ter significado o fim da série original, lança outro subterfúgio metafórico sobre matar ou não a galinha dos ovos de ouro.
O realizador de 71 anos, seguidor fervoroso da meditação transcendental, não deixou claro se os novos episódios são voltados principalmente para os fãs da série ou se espera conquistar uma nova geração de espectadores.
"Sempre disse que há uma expressão védica: 'O homem tem o controlo da ação, não dos frutos dessa ação'". Assim, "quando acaba alguma coisa, perde o controlo sobre isso, e é o destino que decide", concluiu com ar enigmático.
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