Nesta perspetiva, pode dizer-se que "Extant" se apresenta como mais uma variação sobre um modelo de narrativa de ficção científica que explora a instrumentalização dos humanos na sobrevivência de outras “entidades”, modelo que terá um momento fulcral no primeiro título da série "Alien", dirigido por Ridely Scott em 1979. Basta dizer que, neste caso, é uma mulher astronauta, interpretada por Halle Berry, que se descobre numa condição, no mínimo, perturbante: passou 13 meses sozinha, numa missão espacial, e quando regressa ao planeta Terra descobre que está... grávida.
Deparamo-nos, assim, com um mundo de muitas transformações tecnológicas — incluindo o “filho-robot” do casal interpretado por Halle Berry e Goran Visnjic — que, paradoxalmente, conserva muitos sinais da nossa contemporaneidade. Essa é, aliás, uma das dimensões mais interessantes de "Extant": apresentar-se como uma projeção futurista que, em todo o caso, se enraíza em componentes que não podemos deixar de reconhecer como pertencentes ao nosso presente.
Somos, naturalmente, tentados a reconhecer algumas marcas “spielberguianas”, desde logo na personagem da “criança-robot” que transporta memórias do filme "A.I. – Inteligência Artficial" (2001). Em qualquer caso, mesmo com episódios de qualidade desigual, "Extant" não se esgota nas suas referências e citações, procurando antes definir uma ambiência com uma linha narrativa original, fazendo vacilar as certezas que temos sobre a identidade humana.
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