
Em declarações à agência Lusa, o músico e compositor disse ter protagonizado, "entre finais de 1970 e começos de 1980, uma rutura na tradição musical da guitarra portuguesa", quando começou a utilizar a guitarra em composições suas, "originais, que rompiam com as chamadas escolas de Coimbra e a de Lisboa”.
Pedro Caldeira Cabral defendeu a “renomeação da guitarra portuguesa como cítara portuguesa, entroncando numa tradição europeia que remonta ao século XVI, para requalificar socialmente o instrumento”.
O concerto na quinta-feira intitula-se “A Cítara Portuguesa: Ontem e Hoje”, e conta com as participações especiais dos músicos Ricardo Rocha, responsável por “uma segunda rutura na tradição da guitarra portuguesa e que criou um estilo e uma voz própria”, e de Luis Marques, com um mestrado em Guitarra Portuguesa, e “um dos melhores intérpretes do estilo de Coimbra”.
Sobre Ricardo Rocha, Caldeira Cabral afirmou: "Ele fez, no dealbar deste século, uma rutura bastante diferenciada da minha própria, mas dentro de iguais princípios".
O concerto conta com a participação dos músicos Bernardo Saldanha, Duncan Fox e Joaquim Silva.
A 'masterclass' realiza-se no Jardim de Inverno do teatro, na sexta-feira, das 11:00 às 18:00, e é aberta ao público.
O músico e investigador rejeitou a tese segundo a qual a guitarra portuguesa provém da guitarra inglesa, referindo que o estudo publicado de António da Silva Leite (1759-1833), que foi mestre de capela da Sé do Porto, foi dedicado à guitarra inglesa, um dos modelos da cítara europeia, e não à portuguesa, como se tem afirmado.
Caldeira Cabral disse que esta convicção se deve a uma “leitura superficial” do “Estudo de Guitarra”, que se publicou em 1796. “Ele próprio, quando inicia a obra, escreve que 'dizem' que a guitarra tem origem na Grã-Bretanha, 'dizem'”, frisou, referindo que Silva Leite “não estava muito, muito, seguro dessa origem”.
“A guitarra era conhecida em Portugal e na Europa, desde a sua origem no século XVI e até ao século XIX, também pelo nome de cítara, tocada nos meios aristocráticos a par do alaúde e das violas, e o seu repertório era constituído por vários géneros musicais -as fantasias, os prelúdios, as danças, as versões de canções polifónicas, simples ou glosadas e o acompanhamento da voz”, explicou.
O instrumento tem origens remotas nas civilizações latina e grega - "refira-se que, na mitologia grega, o deus Orfeu tocava uma cítara", recordou Caldeira Cabral.
“O que vemos na cítara portuguesa é que é diferente no sistema construtivo, no número de cordas, na técnica e na afinação”, sublinhou.
A primeira referência à cítara portuguesa data de 1521, pelo poeta, cronista e músico Garcia de Resende, na obra “Descripçam e debuxo…”.
Na quinta-feira, às 21:00, Pedro Caldeira Cabral apresenta o recital “A Cítara Portuguesa: Ontem e Hoje”, dividido em três partes: “Música Antiga”, “A Nova Música”, e “A Música Tradicional”.
Na primeira parte serão interpretados compositores como Luis de Milán (1500-1561), Anthony Holborne (1550-1602), Sylvius Léopold Weiss (1686-1750) e Carlos Seixas (1704-1742), entre outros; a segunda, “A Nova Música”, é constituída essencialmente por composições de Caldeira Cabral e de Ricardo Rocha.
A terceira parte inclui, entre outros, o “Fado do Marinheiro” (1836), de autor anónimo, o “Fado do Conde da Anadia”, de José Maria dos Cavalinhos, o “Fado-valsa do Petroline”, de Luis Carlos da Silva, Variações em lá menor, de Armando Freire, Variações em ré menor, de Artur Paredes, e Fantasia Verdes Anos, de Carlos Paredes.
A 'masterclass', no Jardim de Inverno do Teatro, na sexta-feira, abre às 11:00 com um vídeo e explicação sobre “A Guitarra Portuguesa-História, Técnicas e Repertório”, e à tarde, realiza-se a mesa redonda “Em torno da Guitarra Portuguesa”, aberta ao público, antes da audição dos participantes da “masterclass”.
Caldeira Cabral, nascido em 1950, em Lisboa, iniciou o estudo do alaúde, da viola da gamba e de outros instrumentos antigos de corda e de sopro, em 1970, e dirigiu os grupos La Batalla e Concerto Atlântico, na interpretação da Música Antiga em instrumentos históricos.
Referindo-se à sua atividade de compositor, argumentou que desenvolveu "um estilo próprio, fundado na tradição solística da cítara portuguesa, com incorporação de técnicas originais e elementos resultantes do estudo dos instrumentos antigos das tradições cultas e populares da Europa mediterrânica".
Na área da investigação, nos domínios da música tradicional e da organologia, colaborou, entre outros, com Ernesto Veiga de Oliveira, e publicou, em 1999, o livro “A Guitarra Portuguesa".
Como instrumentista tem pisado diferentes palcos internacionais, e acompanhou vários intérpretes, nomeadamente Amália Rodrigues.
Tem cerca de 20 álbuns editados em editoras internacionais. O mais recente data de 2013, "Labirinto da Guitarra/Antologia", publicado pela PrimeTime.
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