Em 1971 chegava às salas de cinema
«Diamonds are Forever». Ao contrário de
Sean Connery, o filme viria a envelhecer muito mal. Vê-lo hoje é entrar num mundo de estereótipos, trocadilhos de gosto duvidoso e maneirismos de pantomina a fazerem-se passar por representação.
Neste universo paralelo os homens são de um pragmatismo mecânico e resolvem as situações com a força dos punhos conseguindo, porém, a proeza de nunca se despentearem. As mulheres, por seu turno, são magníficos bibelots. Vestindo pequenos nadas, estão lá para serem objetos de desejo.
Podemos encontrar a essência desse universo de redutoras ideias feitas numa só cena. No casino, um «cientista», de forte sotaque alemão, anuncia uma aberração: uma mulher negra capturada em Nairóbi na África do Sul - como fazem questão de nos informar, não fossemos nós pensar que era a capital do Quénia - transforma-se numa macaca. Todos os clichés, ignorância e falta de gosto concentrados em poucos minutos.
O que poderá então salvá-lo? Nada mais que a música, de mesmo nome, cantada pela divina Shirley Bassey. Esta tem tudo o que um filme de 007 pode – e deve – ter: mistério, ritmo, sofisticação, envolvência e uma densa atmosfera sexual. O compositor John Barry pediu a Bassey para imaginar que estava a cantar, não sobre diamantes, mas sobre pénis. Dizem que o coprodutor Harry Saltzman odiou essa sexualização do tema. Terá sido pelo facto de a música, ao contrário do filme, o ter conseguido fazer com muito bom gosto?
Nuno Vaz de Moura
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