"A Forma da Água" foi o alvo de um processo judicial de acusação de plágio, que avança quando está a decorrer a votação para os Óscares.

O processo colocado por David Zindel alega que o filme nomeado para 13 Óscares é um plágio de "Let Me Hear You Whisper", uma peça de 1969 do seu pai, Paul Zindel, dramaturgo premiado com o Pulitzer, que conta a história de uma solitária empregada de limpeza que faz vários turnos num laboratório que executa experiências em animais para usos militares, neste caso um golfinho.

"Aí ela fica fascinada pela fantástica criatura aquática inteligente, mantida em cativeiro num tanque de vidro. Ao som de música romântica vintage que toca num aparelho, forma uma ligação profunda e amorosa com a criatura, descobrindo que pode comunicar - mas escolhe fazê-lo apenas com ela. Quando ela descobre que as autoridades planeiam matar a criatura, em nome da ciência, faz um plano para a libertar num carrinho de roupa e lançá-la numa doca que dá para o oceano, onde finalmente será livre", acrescenta o processo.

Paul Zindel morreu em 2003 e o filho está a processar o estúdio Fox Searchlight e o realizador Guillermo del Toro para obter todos os lucros do filme e uma ordem do tribunal para impedir mais exibições nas salas de cinema.

Os visados já reagiram e vão também avançar para a justiça, mas notam o "timing" da acusação: precisamente o momento em que começou a votação para os Óscares.

ÓSCARES 2019

  • São oito os títulos na corrida a Melhor Filme: "Roma" e "A Favorita" (dez nomeações), "Assim Nasce Uma Estrela" e "Vice" (oito), "Black Panther" (sete), "BlacKKKlansman: O Infiltrado" (seis), "Bohemian Rhapsody" e "Green Book: Um Guia Para a Vida" (cinco)
  • A 91ª cerimónia realiza-se a 24 de fevereiro no Dolby Theatre de Los Angeles, às 17 horas locais (uma da manhã em Portugal)
  • Pela primeira vez desde 1989, não haverá anfitrião
  • Os Óscares honorários desta edição já foram entregues à atriz Cicely Tyson, aos produtores Kathleen Kennedy e Frank Marshall, ao compositor Lalo Schifrin e o relações públicas Marvin Levy

"Estas reivindicações [...] não têm fundamento [...] e vamos apresentar uma moção de rejeição. Além disso, a queixa parece feita para coincidir com o ciclo de votação dos prémios da Academia de forma a pressionar o nosso estúdio a chegar rapidamente a acordo. Em vez disso, iremos defender-nos vigorosamente e, por extensão, este filme inovador e original", referiu a Fox Searchlight em comunicado.

Em declarações ao Deadline, Guillermo del Toro diz que o estúdio estava a lidar com a acusação do herdeiro há semanas e "acabou por decidir que, em vez de ceder, deviam levar [isto] ao seu destino final, que é um tribunal onde nos podemos defender".

O realizador também diz "não ter estômago para o 'timing' desta acusação. É bastante evidente o que está a acontecer aqui. Na verdade, para mim é um alívio levar algo da arena da opinião para a dos factos e da lei".

"A forma como a peça foi descrita, no processo e nas notícias, parece ser, sem dúvida, sobre um golfinho e experiências animais, sobre um animal ser libertado de um laboratório, e fica por aí. 'A Forma da Água' é tantas coisas, tantas cores. Não se trata de um animal, trata-se de um [...] deus do rio. Essas ideias não são permutáveis ​​ou equivalentes; seria o mesmo que dizer que 'E.T.'  [1982] seria a mesma história se substituíssemos o extraterrestre por um hamster", explicou.

"A nossa história e as suas facetas são completa e inteiramente complexas, entrelaçadas com espiões russos, a Guerra Fria, amizades femininas que são tão complexas e mais importantes do que isso, que são completamente originais. A parte de um animal a ser libertado pode ser encontrada em tudo, desde 'Projecto X' (1987) a 'Splash, a Sereia' [1984], a 'Uma Leoa Chamada Elsa' [1967] e 'Libertem Willy' [1993] e 'Starman - O Homem das Estrelas' [1984], até um episódio de 'Hey Arnold' ou 'Os Simpsons'. Podíamos continuar infinitamente. Também podemos incluir  'Operação Golfinho' [1973], que, de facto, foi escrito dois anos antes da peça. Não é um elemento de enredo inovador. E a beleza deste filme não se resume a um elemento do enredo de uma peça', defendeu.

Guillermo del Toro diz que felizmente tem algo a favor: "Ando a fazer isto há 25 anos e tenho uma reputação inatacável. Sempre tornei uma parte da minha carreira falar das minhas influências em todos os filmes que fiz, nos comentários áudio em DVD, no Twitter, nas exposições no meu museu. Sempre fui aberto sobre as coisas que amo e não tenho qualquer problema em discuti-las agora e como influenciaram os meus filmes. Esta trajetória de 25 anos deve vir a ser útil. Escrevi ou co-escrevi cerca de 24 argumentos. Sou um escritor/realizador que criou séries, livros, filmes e um montante enorme de argumentos ao longo dos anos. Sem uma única queixa".