O realizador do filme "A minha casinha”, que conquistou o prémio do público no Festival de Austin, nos Estado Unidos, acredita que aquela distinção demonstra haver em Portugal um “cinema diferente” que se destaca pela “narrativa”.

“Este prémio pode demonstrar que existe um cinema diferente em Portugal, que pode também chegar aos americanos, a esse nível. Que não é, às vezes, uma questão de dinheiro, é uma questão de narrativa”, afirmou António Sequeira, em declarações à Lusa.

A equipa que produziu “A minha casinha”, na versão internacional “Autumn”, organizou hoje para a imprensa um périplo pelos locais onde, em diferentes momentos de 2022, no concelho de Baião, no distrito do Porto, captou as imagens e o enredo da longa-metragem que vai estrear em Portugal a 14 de dezembro.

Foi na estação ferroviária de Aregos, junto ao rio Douro, onde foram gravadas algumas das cenas mais apreciadas pelo público norte-americano, que o realizador admitiu a surpresa pelo sucesso alcançado nos Estados Unidos.

“Com a qualidade de filmes a concurso, nós termos naquele meio aquele nosso pequeno filme, sem muito financiamento, de repente ganharmos um prémio, comparado com os grandes títulos, para nós foi surpreendente”, anotou, em declarações à agência Lusa.

Destacou, por outro lado, o facto de os espetadores do festival de Austin se terem identificado “com os elementos da história e com as personagens”, além de terem ficado muito agradadas com as paisagens retratadas no grande ecrã.

“Onde é que isto fica, porque eu quero ir para lá viver, diziam. Os americanos ficaram muito interessados por isto, porque é tão belo e tão interessante”, afirmou, apontando para um comboio que parava ao lado, na linha, a poucos metros do rio Douro.

O filme vai estrear nos cinemas a 14 de dezembro e toda a equipa está expectante com a recetividade que haverá dos espetadores.

“O público americano adorou, as críticas foram positivas, vamos ver como acontece em Portugal”, anotou o realizador, sublinhando que se o filme “tiver sucesso será a chave para outros projetos” desta equipa em Portugal.

Na Fundação Eça de Queiroz, outro local de paragem, a atriz Beatriz Frazão disse à Lusa esperar que as pessoas, com este filme, “comecem a acreditar que temos potencial para fazer grandes coisas lá fora, não só realizadores, mas atores também”.

O ator Miguel Frazão, por seu turno, confessou a sua surpresa pelo prémio, por ter sido uma produção com poucos recursos.

“Nunca nos passou pela cabeça que podíamos ganhar o prémio do público, porque estávamos a competir com filmes de Hollywood a sério, com várias estrelas. Foi mesmo uma grande surpresa”.

Recordou tratar-se de um “filme feito com poucos meios”, mas que isso “não se nota, por ser tão bem, engenhosamente, construído ao nível da realização e da fotografia”.

“Foi feito tudo com tanto cuidado que não se nota que é feito com poucos meios”, referiu, enquanto assinalava as paisagens onde foram realizadas as gravações.

“Os americanos estavam fascinados com a imagem, com a fotografia, com a paisagem, porque realmente aquela estação [de Aregos] parece que não é real”.

Também a população de Baião vai receber a antestreia do filme, em data ainda por anunciar.

A equipa agradece a forma como o concelho colaborou em todo o processo, inclusive as famílias que abriram as suas casas para algumas cenas, como hoje foi recordado.

“Nós vamos fazer os possíveis e os impossíveis para estar presentes, porque realmente fomos muito bem recebidos pelo concelho e acho que eles [população] estão bem representados neste filme”.

A expectativa, comentava-se hoje na comitiva, é que no futuro mais pessoas se desloquem a Baião depois de verem o filme.

“Acredito fortemente que sim, quem vê o filme fica mesmo com curiosidade em conhecer o local”, disse Miguel Frazão, expectativa que se alargava à vereadora Anabela Cardoso.

A autarca recorda que o município prestou apoio logístico àquela produção cinematográfica, porque creditava que as pessoas, “vendo no cinema, vão ter curiosidade de conhecer os locais, atraindo mais turistas para o concelho”.

“É um reconhecimento de que o nosso território tem potencial, significa que, de alguma forma, as imagens do filme tiveram impacto nas pessoas”, referiu, revelando haver contactos em curso para que outros filmes, com outros realizadores, possam ser produzidos no concelho com o apoio do município, inclusive uma grande metragem baseada no romance “A Cidade e as Serras”, de Eça de Queiroz, que retrata as paisagens de Baião.