Um membro da equipa do 'western' de baixo orçamento "Rust" abriu um processo por negligência contra o ator americano Alec Baldwin pelo disparo que levaram à morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins a 21 de outubro, informaram advogados esta quarta-feira.

O processo também inclui a armeira Hannah Gutiérrez-Reed, que afirmou através dos seus representantes legais que estava sendo "incriminada" pela morte de Halyna, o assistente de realização Dave Halls, a responsável pelos adereços Sarah Zachry e muitas outras pessoas na produção.

O chefe-técnico de iluminação do filme, Serge Svetnoy, grande amigo de Halyna Hutchins, afirma no processo de 25 páginas que o incidente "foi causado por atos de negligência e omissões" de Alec Baldwin, enquanto protagonista e produtor, e de outros.

"Não havia nenhuma razão para colocar uma bala verdadeira naquele revólver ou para que ele estivesse no set de 'Rust', e a presença de uma bala num revólver representava uma ameaça letal para todos à volta", diz a ação, apresentada num tribunal de Los Angeles.

Serge Svetnoy alega que Alec Baldwin, o assistente de realização do filme, Dave Halls, e Hannah Gutiérrez-Reed não seguiram as práticas da indústria cinematográfica no manuseio de armas e "permitiram que um revólver carregado com munição real atingisse pessoas".

O eletricista Serge Svetnoy e a diretora de fotografia Halyna Hutchins (Facebook)

Num comunicado divulgado ainda na quarta-feira, os advogados da armeira insistiram em que ela não sabia por que razão existia munição real no set.

"Estamos a pedir uma investigação completa de todos os factos, incluindo as balas reais e quem as colocou ali", declarou o advogado Jason Bowles.

"Estamos convencidos de que foi uma sabotagem. Também acreditamos que o local da rodagem foi mexido antes da chegada da polícia", acrescentou.

Em entrevista exibida nesta quarta-feira, a procuradora do condado de Santa Fé, Mary Carmack-Altwies, descartou a teoria de conspiração.

"Os procuradores têm de se basear em factos e em provas", disse a procuradora Mary Carmack-Altwies esta quarta-feira em entrevista exclusiva ao programa da manhã Good Morning America, no canal ABC, referindo-se ao facto de que não se vai apressar o processo e está de "mãos atadas" até que o departamento do xerife lhe entregue todas as provas e se podem passar meses até ter todos os elementos para decidir se avança com acusações criminais.

Mary Carmack-Altwies

A maior controvérsia parece ser como é que existia munição verdadeira no 'set' do 'western' de baixo orçamento.

"Ainda não temos uma resposta para isso. Sei que alguns advogados de defesa apareceram com teorias da conspiração e usaram a palavra 'sabotagem'. Não temos qualquer prova", disse a procuradora, que acrescentou não acreditar que seja uma hipótese neste caso.

Mas a responsável pela investigação esclareceu que se tivesse existido 'sabotagem', isso colocaria em cima da mesa "certamente um nível mais elevado de acusação de homicídio do que potencialmente estaríamos a ponderar com os factos que temos agora".

"Não temos a mesma informação que têm os advogados de defesa. Mas até a termos na nossa posse, não faz parte do processo de tomada de decisão", continuou.

A procuradora diz estar preparada para esperar meses até que a investigação sobre a morte de Halyna Hutchins seja concluída, mas as provas já reunidas levam-na a acreditar que a tragédia podia ter sido evitada: "Acho que a coisa mais preocupante é que houve tantos níveis de falha naquele set".

A procuradora confirmou que foi encontrada mais munição verdadeira e sabe a quantidade, mas não pode divulgar essa informação.

As "implicações legais" da existência dessa munição causam preocupação: "Ainda não sabemos como apareceram no set e acho que como lá chegaram será um dos fatores mais importantes a ponderar na tomada de decisão sobre acusações. Provavelmente é mais importante prestar atenção no que aconteceu até ao disparo, porque pelo menos sabemos que o senhor Baldwin não sabia que a arma estava carregada no momento do disparo. Portanto, é mais [sobre] como essa arma foi carregada, que níveis de falha aconteceram e se esses níveis de falha foram criminosos".

As qualificações da armeira Hannah Gutierrez Reed, que se tornaram uma das controvérsias após o incidente, serão um dos temas a abordar num segundo interrogatório que irá ter lugar, esclareceu Mary Carmack-Altwies.

A identidade da pessoa que carregou a arma também já é conhecida pelos investigadores e embora a procuradora tenha recusado avançar com mais detalhes, rejeitou a versão de que o assistente de realização Dave Halls não tinha tirado a arma de um carrinho de adereços, como tinha indicado na semana passada a sua advogada de defesa, antes de a entregar a Alec Baldwin.

Estavam cerca de 100 pessoas na rodagem na altura do incidente e cerca de 55 já foram interrogadas.

"Inicialmente, todos cooperaram muito, mas acrescentar advogados acrescenta um nível extra de complicação. Não temos leis que tenham sido escritas para este tipo de incidente", esclareceu Mary Carmack-Altwies.

Apesar de todas as dúvidas por esclarecer, serão apresentadas acusações "se as circunstância o justificarem".

"Daremos o nosso melhor para fazer justiça a Halyna Hutchins e a Joel Souza", concluiu.

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