Woody Allen está a processar a Amazon Prime Video por 68 milhões de dólares [quase 60 milhões de euros], alegando que renegou um contrato de quatro filmes por causa de uma "acusação sem fundamento com 25 anos".

Além do valor relacionado com os pagamentos dos filmes, é exigida uma indemnização por danos e o pagamento dos honorários dos advogados.

O processo entregue esta quinta-feira em Nova Iorque salienta que a plataforma de streaming deu razões vagas para recusar lançar o filme "A Rainy Day in New York", apesar de estar concluído há mais de seis meses, e deixou cair a promessa de produzir mais três filmes.

"A Amazon tentou desculpar a sua ação com uma acusação sem fundamento de 25 anos contra Allen, mas esta acusação já era bem conhecida da Amazon (e do público) antes de fazer quatro contratos diferentes [...] e , em qualquer caso, não fornece uma base para a Amazon rescindir o contrato [...]", refere o processo.

A Amazon Prime Video distribuiu "Café Society" (2016) e depois assinou contrato para Woody Allen fazer a série "Crisis in Six Scenes", seguindo-se outro acordo para cinco filmes, tendo o primeiro sido "Roda Gigante" (2017).

O que permanece inédito, "A Rainy Day in New York", é uma comédia romântica protagonizada por Timothée Chalamet, Selena Gomez, Rebecca Hall, Elle Fanning, Jude Law, Diego Luna e Liev Schreiber.

O caso de 1992, que envolve um suposto abuso à filha adoptiva de Allen e Mia Farrow quando aquela tinha sete anos, voltou a dar que falar quando Ronan Farrow, o filho de ambos e um dos jornalistas que denunciou o escândalo de Harvey Weinstein em outubro de 2017, virou novamente os holofotes na direção do cineasta no âmbito do movimento #MeToo.

Apesar de ter sido ilibado e não terem surgido novas provas e outro dos filhos adoptivos de Farrow (Moses Farrow) garantir que não houve abuso, a reacção contra o realizador tornou-se esmagadora, inclusivamente por parte do elenco do novo filme: Chalamet, Gomez e Hall vieram a público dizer que se arrependiam de ter trabalhado com o realizador e doariam os respetivos salários a associações ligadas ao movimento #TimesUp.

O processo apresentado em tribunal refere que responsáveis da Amazon Prime Video se encontraram com representantes de Woody Allen em dezembro de 2017 e deram conta que a reputação da plataforma tinha sido afetada pela sua ligação com Harvey Weinstein e acusações de assédio contra Roy Price, o anterior líder da Amazon Studios.

Um mês mais tarde, Allen aceitou a proposta para adiar "A Rainy Day in New York" até 2019, mas em junho de 2018 a Amazon Prime Video decidiu colocar um ponto final ao contrato dos quatro filmes, indicando que não iria distribuir qualquer filme.

Segundo o processo, não foi apresentada uma justificação, mas posteriormente representantes da Amazon Prime Video indicaram que "acontecimentos posteriores, incluindo acusações renovadas [contra o realizador], os seus próprios comentários controversos e a crescente recusa de grandes talentos para trabalhar ou estar associados a ele" contribuíram para "frustrar o objetivo do acordo".