O documentário "António e Catarina", produção portuguesa da romena Cristina Hanes, ganhou este sábado o Leopardo de Ouro do concurso internacional de curtas metragens do Festival de Locarno.
Já "Verão Danado", ficção de Pedro Cabeleira, valeu uma Menção Especial "Cineastas do presente" ao autor português de 25 anos.
A coprodução portuguesa "9 dedos" também foi premiada com Melhor Realização para o francês F.J. Ossang na competição oficial.
Na categoria “Sinais de Vida”, a obra “Era uma Vez Brasília”, de Adirley Queirós, coproduzida por Brasil e Portugal, também conquistou uma menção honrosa.
Estreado no evento suíço, "Verão Danado" é uma ficção, mas retrata um tempo que é também o do realizador e dos mais de cem jovens atores e técnicos que entram no filme. "Foi feito com pessoal da nossa idade, que tinha acabado a escola. Houve essa energia que foi contagiante entre uns e outros, principalmente entre os atores. Faziam 20 papéis no filme. Houve esta luta que não foi só minha. Foi uma luta de muita gente para que isto acontecesse", contou Pedro Cabeleira, de 25 anos, à agência Lusa.
Em Locarno, foram ainda exibidas a curta-metragem "O homem de Trás-os-Montes", de Miguel Moraes Cabral, fora de competição, e o documentário "António e Catarina", que acabou por ser distinguir na competição de curtas.
Citada num comunicado da sua assessoria de imprensa, a jovem realizadora Cristina Hanes, nascida em 1991, explica como surgiu a obra, que levou três anos a realizar, enquadrada no seu mestrado em Realização de Documentário, e que retrata a sua relação com um desconhecido, um homem de 70 anos.
“Este filme é uma viagem com Augusto, um homem 45 anos mais velho que eu, que conheci acidentalmente. Nesse momento, impressionada pela sua figura sedutora e enigmática tirei-lhe uma fotografia. Enquanto caminhávamos numa avenida de Lisboa, ele sussurrou-me ao ouvido 'vamos dar as mãos e imaginar que estamos em Paris'. Encontrámo-nos durante três anos no quarto dele, movidos pelo desejo de estarmos juntos. Através do cinema, eu pude preservar momentos fugazes dos nossos encontros. Quando terminei o filme fui surpreendida pela notícia da morte de Augusto e percebi que tínhamos partilhado os últimos três anos da vida dele”, explicou a realizadora, citada no comunicado.
"Milla", de Valerie Massadian, a outra coprodução portuguesa além de "9 dedos", também foi exibida na competição de jovens realizadores.
O francês F.J. Ossang foi o realizador “In Focus” da edição deste ano do Curtas de Vila do Conde, onde foi apresentada uma retrospetiva integral da sua obra, depois de ter vencido a competição experimental em 2009, com "Vladivostok!". Ossang foi descrito pela organização como "um radical livre, praticando, com o seu cinema, um estilo particular, partindo do mundo pós-apocalíptico de ficção científica, para se aproximar do punk e do ‘film noir’".
O realizador acompanhou a sua retrospetiva em Vila do Conde, ao longo da semana em que também viu o seu nome anunciado para o festival de Locarno, com a seleção de "9 dedos", o seu mais recente filme, rodado em Portugal, numa coprodução com “O Som e a Fúria”, que conta com Paul Hamy como protagonista, ator que já fora "O Ornitólogo", de João Pedro Rodrigues, que venceu o prémio de melhor realizador em Locarno em 2016.
O realizador francês já filmara em Portugal "Le Trésor des Îles Chiennes", com o produtor Paulo Branco, fizera "Dharma Guns", com a participação da Cinemate, e entregara o papel principal de "Docteur Chance" ao ator Pedro Hestnes, que morreu em 2011, num elenco que também contava com Diogo Dória e José Wallenstein.
O festival de Locarno completa a 70.ª edição com 18 filmes em competição pelo Leopardo de Ouro. Entre estiveram estão a produção brasileira "As boas maneiras", de Juliana Rojas e Marco Dutra - com direção de fotografia do português Rui Poças -, "Ta peau si lisse", de Denis Côte, e "La telenovela errante", rodada nos anos 1990 por Raoul Ruiz e finalizada pela mulher, Valeria Sarmiento.
O Festival de Locarno distinguiu, com os prémios de honra, o realizador Todd Haynes, o ator Adrien Brody e o diretor de fotografia José Luis Alcaine.
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