Um dia depois das últimas exibições no cinema King,
Paulo Branco explicou aos jornalistas as razões que levaram ao fecho da sala que explorava desde 1990, e criticou as condições com que os exibidores independentes trabalham em Portugal. O produtor e exibidor encerrou o King em consequência de um «aumento exponencial» do valor da renda do espaço, de 4.000 euros para 12.000 euros, depois de uma reavaliação do edifício para 2,2 milhões de euros.

O valor era incomportável para a Medeia Filmes, explicou Paulo Branco, tendo em conta a quebra sucessiva de espetadores nas salas de cinema e a concorrência com outras exibidoras. Atualmente a Medeia Filmes explora em Lisboa as salas dos cinemas Monumental e Fonte Nova, onde há estreias comerciais, e a sala do Nimas, utilizada para ciclos temáticos.

Paulo Branco referiu que irá «redimensionar» os restantes espaços e utilizar equipamento do cinema King para reforçar sessões de cinema no Nimas e para fazer exibições itinerantes fora de Lisboa, «promovendo os filmes independentes» pelo país.

«Aqui comecei a minha carreira a sério de exibidor e distribuidor. Agora chamam-lhe uma sala mítica, não sei bem o que isso quer dizer. [O King] Permitiu talvez a existência do cinema português», recordou Paulo Branco. O produtor recordou que, quando começou na distribuição, a ideia era ser um «contraponto ao grande domínio de uma aglomeração que começava a existir à volta da Lusomoundo», mas acabou por falhar nesse propósito.

Para Paulo Branco, o encerramento do King é também uma consequência do desinteresse e da indiferença do poder político, da comunicação social e da sociedade civil perante o cinema: «É difícil chegar ao público. Não é de admirar que o público não chegue a nós».

«Ir ao cinema é uma experiência e essa experiência tem de ser cultivada. É uma questão de educação. Conhecimento e cultura são enriquecimento», sublinhou.

Segundo o exibidor, o cinema King contabilizou cerca de 60.000 espetadores em 2012, valor que desceu para 40.000 já este ano. Não deixa de ser curioso, referiu, que o King tenha aberto e encerrado com cinema do realizador
Bernardo Bertolucci. Abriu com o filme
«1900» e encerrou com
«Eu e Tu».

«Fechei salas, abri salas, enterrei salas, infelizmente enterrei alguns realizadores, divorciei-me de outros. Enquanto tiver pelo menos cabeça e energia vou continuar», disse.

O Cinema King abriu em 1990 no espaço onde antes funcionou o Cinema Vox, inaugurado em 1969. Na última década, Lisboa assistiu à abertura de multi-salas de cinema integradas em centros comerciais, como no Corte Inglés, no Campo Pequeno ou no Alvaláxia, mas perdeu outros espaços de exibição como o Cinema Mundial, encerrado em 2004, o Quarteto, que fechou portas em 2007, e o cinema Londres, que encerrou este ano. Em 2011, Paulo Branco encerrou os cinemas Saldanha Residence.

A Medeia Filmes também tem programação no Cine Estúdio Teatro do Campo Alegre, no Porto, e no Auditório Charlot, em Setúbal.

De acordo com dados estatísticos do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), em 2012 o distrito de Lisboa (que abrange mais de uma dezena de municípios) registava 29 recintos de cinema e 158 salas. No que toca apenas ao concelho de Lisboa, os dados do ICA remetem no entanto para 2011, indicando que, nesse ano, existiam 14 recintos e 80 salas.

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