A justiça francesa chegou a um veredito e Cannes pode respirar de alívio: "O Homem que Matou Don Quixote" (e não "Dom", como o livro) pode ser exibido no festival.

A decisão do Tribunal de Paris foi avançada esta tarde pela distribuidora Océan Films na rede social Twitter.

"O Festival de Cannes quebrou o feitiço. 'O Homem que Matou Don Quixote" entra na história do cinema. Em todas as salas a 19 de maio de 2018", revela a distribuidora.

Momentos antes, o delegado-geral do festival, Thierry Frémaux, tinha confirmado que a decisão do tribunal de Paris tinha sido favorável à exibição do filme realizado por Terry Gilliam.

Posteriormente, a página oficial do filme no Facebook também partilhou uma reação que fala por si.

O produtor português Paulo Branco tinha interposto uma ação judicial contra o festival francês para impedir a estreia mundial do filme na sessão de encerramento, no dia 19.

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A decisão surge no mesmo dia em que se soube que a Amazon Studios, que chegou a financiar o filme, recuou na intenção de fazer a estreia comercial nos Estados Unidos, e que Terry Gilliam teve problemas de saúde que obrigaram à sua hospitalização em Londres no fim de semana. Informações de que teria sofrido um AVC não foram confirmadas, apenas de que teve um "mal-estar" e que tenciona ir ao Festival.

Apenas algumas horas antes de ser conhecida a decisão do Tribunal, Paulo Branco também tinha dado uma conferência de imprensa em Cannes onde dizia acreditar que a Amazon se tinha desvinculado por causa do conflito jurídico.

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Referiu ainda que a decisão de Cannes de escolher o filme para a sessão de encerramento tinha "poluído" o processo jurídico e chamou "fantoche" a Thierry Frémaux, que assinou a 30 de abril um violento comunicado contra o produtor.

Estes são os mais recentes desenvolvimentos de uma disputa legal por causa dos direitos do filme, rodado em Espanha e em Portugal com elenco internacional.

O projeto chegou a contar com produção de Paulo Branco, anunciada em 2016, mas Terry Gilliam acabou por não concretizar a parceria, alegadamente por problemas de financiamento.

Terry Gilliam pediu a anulação do contrato de produção com a produtora Alfama Films, de Paulo Branco, mas em 2017 o Tribunal de Grande Instância de Paris declarou que aquele continua válido.

Segundo Paulo Branco, a exploração e utilização das imagens do filme não pode existir sem o acordo prévio da Alfama Films.

"O Homem que Matou Don Quixote" é um projeto antigo de Terry Gilliam, que remonta a 1989 e cuja produção sofreu sucessivos solavancos e interrupções, com problemas com elenco e com financiamento, sendo descrito pela imprensa especializada como um filme amaldiçoado.

Em Portugal, o filme não escapou à polémica, por causa de supostos estragos causados durante filmagens no Convento de Cristo e que levaram a Direção-Geral do Património Cultural a abrir um inquérito.

Independentemente da decisão de hoje sobre Cannes, está ainda em curso um processo judicial que deverá ter decisão a 15 de junho no Tribunal de Recurso em Paris, sobre a possível indemnização de Terry Gilliam ao produtor português, por causa de direitos sobre o filme.

"Continuo a ter os direitos sobre o filme e será difícil que a situação seja revertida. A decisão de 15 de junho, que foi comunicada, não resolve nada. Há ainda um processo no Reino Unido", disse Paulo Branco à agência Lusa em abril passado.

Certo é que os atuais produtores do filme mantêm os planos de distribuição internacional de "O Homem que Matou Don Quixote", nomeadamente em 300 salas em França e também na China.

Em Portugal, onde a estreia deverá ser assegurada pela NOS, não há ainda data oficial anunciada.

"O Homem que Matou Don Quixote" uma coprodução internacional entre vários países, nomeadamente Espanha, França e - em produção minoritária - Portugal, com um orçamento de cerca de 16 milhões de euros.

Esta adaptação livre de "Dom Quixote", de Miguel Cervantes, cuja narrativa no filme oscila entre os séculos XVII e XXI, conta com interpretações de Jonathan Pryce, Adam Driver, Olga Kurilenko e a atriz portuguesa Joana Ribeiro, entre outros.

O 71.º Festival de Cinema de Cannes começou na terça-feira no sul de França.