A exibição cinematográfica independente em Portugal precisa de mais salas, mais apoio financeiro e maior envolvimento da comunidade para “reconstruir o hábito de ir ao cinema”, afirmaram hoje vários agentes do setor em Lisboa.

No âmbito da conferência da organização Europa Cinemas, que este ano decorre em Lisboa, produtores, exibidores, distribuidores, programadores reuniram-se num debate sobre a circulação de obras cinematográficas em Portugal.

“Portugal vive uma zona de catástrofe” em matéria de exibição cinematográfica, em particular fora do circuito comercial, envolvendo cineclubes e auditórios municipais, e a questão “deve ser encarada como uma ação de emergência”, afirmou o exibidor e produtor Pedro Borges.

No encontro, foi apresentado um estudo, não exaustivo, encomendado para a conferência da Europa Cinemas, com base em dados do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) e de um inquérito a associações cinematográfica, cineclubes e auditórios e que revelou que “a exibição de cinema é pouco significativa fora dos ‘multiplexes’”.

Segundo o estudo, os auditórios exibem sobretudo cinema comercial norte-americano e os cineclubes programam cinema independente “numa base irregular e concentrada em distritos específicos”, sobretudo no norte e litoral.

São identificados problemas, como a incapacidade financeira para renovar equipamentos de projeção, o trabalho suportado por voluntariado, a falta de apoio financeiro, e apresentadas propostas, nomeadamente a criação de uma rede semiprofissional de cineclubes.

Na sessão, o diretor do Cine Clube de Viseu, Rodrigo Francisco, falou de um trabalho a médio e longo prazo que os cineclubes têm de fazer na procura de públicos, enquanto Carlos Semedo, programador do cineteatro Avenida, em Castelo Branco, sublinhou a relação de proximidade que devem ter com os espectadores, independentemente de encherem ou não uma sala de cinema.

“Há uma questão absolutamente decisiva, é preciso construir de raiz o hábito das pessoas irem ao cinema e terem uma satisfação social. Está por construir”, afirmou o diretor da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa.

No encontro, foram ainda apontadas fragilidades do Plano Nacional de Cinema (PNC), que não está a ser usado, como lamentou o programador Dario Oliveira, do Porto/Post/Doc.

“Há um desperdício de recursos humanos, há uma resistência de pais, professores e do ministro da Educação. […] É constrangedor o que se passa no país e formar um novo público demora uma década”, disse.

O presidente do ICA, Luís Chaby Vaz, recordou que o instituto “tem limitadíssimos fundos” para apoiar uma rede independente de exibição e que é preciso identificar os custos para a renovação e construção de novas salas.

Para Pedro Borges, os problemas identificados no encontro deviam ser reconhecidos também oficialmente.

“A iniciativa tem de partir de um consenso no meio cinematográfico e que isso reflita na política pública e nos programas de apoio do ICA”, resumiu.

A conferência da organização Europa Cinemas, que este ano acontece em Lisboa com a presença de cerca de 500 participantes europeus, decorrerá até domingo.

Da organização, fundada em 1992 e que tem o apoio da Comissão Europeia, fazem parte oito salas de cinema portuguesas.