Bastou uma única frase de um dos responsáveis da AT&T, que é dona do estúdio Warner Bros., para despertar o alarme.

Prevendo uma mudança no comportamento e nas expectativas dos consumidores quando for ultrapassada a pandemia da COVID-19, John Stankey disse num encontro com investidores de Wall Street na quarta-feira que "estamos a repensar o nosso modelo de lançamento de filmes".

Segundo a Variety, mais tarde no mesmo dia, a Warner entrou em "controlo de danos", reforçando em comunicado o compromisso com o lançamento de filmes nos cinemas e "os seus parceiros de exibição"... mas salientando que as suas apostas eram os grandes lançamentos, como "Tenet", de Christopher Nolan, e "Mulher-Maravilha 1984".

A declaração de John Stankey terá apenas verbalizado o que a publicação especializada americana descreve como um "consenso crescente" de que o panorama de distribuição de filmes, pelo menos os americanos, vai mudar para sempre quando for seguro as pessoas voltarem aos cinemas.

Antes da COVID-19, já tinham dificuldades nas bilheteiras os filmes de não eram sequelas, animações ou "blockbusters" baseados em algo que muitas pessoas conhecem (banda desenhadas, videojogos, brinquedos, etc.). Ou seja, aqueles com histórias originais ou conteúdos não testados, os de "meio da tabela" em termos de orçamento.

No futuro, a falta de disponibilidade para comprar bilhetes para esses filmes pode aumentar porque os consumidores, agora em quarentena, estão a ficar cada vez mais habituados a vê-los por streaming no conforto das suas casas.

À Variety, o analista Rich Greenfield indicou que quanto mais tempo durar esta situação, mais mudará o comportamento dos consumidores. E quanto mais filmes for possível ver na Netflix, Amazon ou Disney+, mais difícil será convencer as pessoas a regressar aos cinemas.

Assim sendo, as animações "Trolls: Tour Mundial" e "Scooby!", que passaram diretamente para as plataformas digitais sem estreia nos cinemas nos EUA, tal como a aventura de ficção científica "Artemis Fowl", ou a venda das comédias "The Lovebirds" e "My Spy" aos serviços de streaming, podem ser "experiências" ou "exceções" que antecipam uma nova realidade quando passar a pandemia.

VEJA A SITUAÇÃO DOS FILMES AFETADOS PELA COVID-19.

Com os cinemas fechados, os estúdios tiveram de adiar tudo o que tinham na agenda. Quando estes reabrirem e regressarem a um certo tipo de "normalidade", a prioridade de Hollywood será, obviamente, lançar os grandes e caríssimos filmes com complexas parcerias com marcas, brinquedos e outros.

Pelo caminho podem ficar os mais pequenos, incluindo potenciais nomeados para os Óscares.

Também deverá aumentar a tensão entre estúdios e exibidores à volta da tradicional janela exclusiva de exibição de 90 dias que exigem os cinemas para os filmes.

A Variety também salienta que os estúdios terão menos incentivo para voltar a colocar no calendário filmes que já eram apostas arriscadas antes da pandemia, uma vez que a agenda da programação dos cinemas fica mais povoada e competitiva a cada título que é adiado.

Com este panorama, John Stankey poderá ter apenas verbalizado o que pensam os líderes dos grandes estúdios de Hollywood: o futuro será cada vez mais difícil para tudo o que não se esteja à espera que venha a ser um "blockbuster".

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