Em
«Space Bill & Max» não há efeitos digitais, é tudo da velha guarda.

João Leitão co-realizou e co-escreveu a série sobre os devaneios de Manuel João Vieira, «O Mundo Catita». Depois disso, criou
«Capitão Falcão», projeto para uma série televisiva sobre um super-herói anti-comunista que, apenas com um trailer, gerou um fenómeno de culto mas que continua ainda sem ver a luz do dia.

Mas há três anos que João começou outra aventura: «Space Bill & Max». Agora em pré-produção mas com rodagem à vista, o projeto deverá dar origem a um filme de ficção-científica que leva macacos feitos em animatrónica até ao espaço e que recusa recorrer ao uso de efeitos digitais. João Leitão apresentou no
SAPO Codebits imagens exclusivas da produção de «Space Bill & Max» e nós falámos com ele sobre esta sua história de amor com a Sétima Arte de tempos que já lá vão.

SAPO (S): Como é que surge esta ideia de fazer um filme de ficção-científica sem recorrer a efeitos digitais?

João Leitão (J.L.): Nasci em 1982, cresci com o
«Star Wars» e com os
«Marretas» ou a
«História Interminável». Cresci com um imaginário assente em efeitos reais e a ver filmes que eram feitos por escultores e por artesãos. Para mim, a magia do cinema está na minha infância que foi muito marcada por esses mestres da animatrónica, da prostética, uns que estão vivos, alguns a trabalhar. O que o «fanboy» em mim queria muito era trabalhar com estes gajos. Há aqui um egoísmo que eu não nego.

O «Space Bill & Max» é um filme de aventura, é uma homenagem aos «buddy movies» dos anos 80, ao mesmo tempo que é uma homenagem ao «Star Wars» ou aos grandes clássicos dos anos 40 e 50. Mas é também um filme de aventuras para todas as idades, com gorilas no espaço.

S: E achas que o CGI (imagens geradas por computador) não conseguiriam dar-te o resultado que querias?

J.L.: Eu ainda não vi CGI que os meus olhos não conseguissem distinguir. Vamos chegar lá, a Weta Workshop [empresa que trabalhou com Peter Jackson na trilogia
«O Senhor dos Anéis» e que está agora a trabalhar em
«O Hobbit»], por exemplo,, já está lá perto. Para fazer bem o digital precisas de muito dinheiro, de muitas mais pessoas. A vantagem do digital é que é muito mais rápido e permite-te fazer coisas que fisicamente não conseguirias fazer, não há volta a dar. Se eu quisesse fazer um gorila a saltar de um prédio e a agarrar-se a um helicóptero, como viste no «Planeta dos Macacos: A Origem», é preciso ir a CGI. Mas este filme é mais artesanal, mais retro, e queremos também filmar em 35 mm, em película, tudo «old school».

S.: É também uma homenagem a filmes de outros tempos?

J.L.: Sim, dos anos 40 e 50, da era do Technicolor, como o
«Planeta Proibido» ou o
«O Dia em que a Terra Parou», o original. Foi o nascimento da grande ficção-científica mundial no cinema.

S.: Vocês estão a trabalhar com a Millenium FX, empresa inglesa que já trabalhou em filmes como «O Resgate do Soldado Ryan» ou «Sherlock Holmes» e está agora a trabalhar em «O Hobbit». Como conseguiste chegar até eles?

J.L: Abri uma conta no IMDB Pro, que são 20 dólares, aí consegues ver as moradas e os números de telefone dos sítios, fiz uma lista das casas a que queria ir. Paguei 60/70 euros para ir a Londres, fiquei a dormir na casa de um amigo, e durante um ou dois meses não larguei o telefone, a ligar para os sítios e a marcar reuniões. Pegava no meu storyboard, aparecia, agitava os braços e tentava convencer as pessoas a vir passar férias a Portugal e a fazer o meu filme. O que eu dizia era «vamos filmar isto no verão e vai estar sol e vocês têm sempre os fins de semana para ir à praia». Toda a gente adora comer em Portugal, toda a gente adora bom tempo, é a maior arma que temos para convencer ingleses a vir cá trabalhar.

S.: Como é que consegues financiamento para estes teus projetos?

J.L.: Nós apoiamo-nos. Somos uma empresa de prestação de serviços que acolhe produção estrangeira, temos trabalhado muito com a Noruega, por exemplo, e nos tempos livres fazemos estes projetos. Funciona se quiseres abdicar de sono e de qualidade de vida. Estamos a fazê-lo há seis anos mas é cansativo, é como se tivesse dois empregos. Mas queremos que fazer cinema venha a ser o nosso full time.

S.: Em que ponto está o «Capitão Falcão»?

J.L.: Não tenho data para a estreia do «Capitão Falcão», que é o que toda a gente quer saber, mas tudo indica que será feito na segunda metade de 2013. Foi um ano muito difícil para os canais de televisão, para um em particular, e isso mexeu com a série, mas ela está escrita, o primeiro episódio está filmado, e em teoria temos luz verde para a fazer. Não há um canal completamente fechado para passar a série mas o acordo está muito próximo.

Para mim o «Capitão Falcão» é uma coisa que ainda não existe, por isso é bizarro as pessoas ficarem entusiasmadas, mas fico todo contente e é sinal de que existe um público para aquilo. Há muita gente que gosta de cinema de ação, de comédia e de aventura e não tem o hábito de o ver em português porque não existe.

S.: E quanto ao «Space Bill & Max», quando vamos poder vê-lo nos cinemas

J.L: O Max, o gorila principal, está completamente terminado. O que nos falta agora é construir cenários, fazer o casting e começar a rodagem. Vamos rodar no Porto nuns armazéns enormes. Não tenho uma data fechada para a estreia mas estou a apontar para final de 2013, início de 2014.