6 de julho

Da última vez que estivemos aqui, na Croisette, estávamos em 2019 e o mundo nem sequer imaginava as transformações que iria sofrer.

Entretanto, passaram dois anos e regressamos ao festival dos festivais com um sentimento de superação e sequencialmente recompensa. Por esta altura, a edição-fantasma em outubro 2020, após o cancelamento de maio por causa da pandemia, é encarada ao estilo de "nunca aconteceu".

Impacientes, aguardamos pela "escadaria" (o genérico inicial da Seleção Oficial) na Sala DeBussy do Palais do Festival, em plena pré-sessão de abertura, quando somos interrompidos pelo próprio diretor do festival, Thierry Frémaux, para anunciar, em jeito festivo: "Finalmente, conseguimos! Estamos em Cannes!!"

O público aplaude. É uma conquista! A Riviera Francesa volta a encher-se de filmes vindo dos quatros cantos do Globo e que melhor forma de celebrá-lo do que um documentário sobre... isso mesmo... Cinema.

Deixando de lado o pessimismo gerado pela COVID-19, que anunciou constantemente a "morte do Cinema" e a cedência ao império do streaming, Mark Cousins é então convidado a subir ao palco e opõe-se à tendência: "Como podemos esquecer o Cinema?".

O historiador e documentarista fecha os olhos e imagina Shirley MacLaine a correr no filme "O Apartamento", de Billy Wilder [1960]. É o cinema a residir na sua mente e pede a seguir ao público para executar o mesmo exercício mental: "O Cinema não está em perigo, porque está aqui."

Após isto, é projetado o seu mais recente capítulo da série - "The Story of Film'' - o segmento é "New Generations".

A Nova Geração propriamente dita não é a representação central deste trajeto com memória da pandemia e confinamentos, mas a relação das novas gerações para com o Cinema e que Cinema será deixado para eles.

Uma cuidada e analisada coletânea de imagens, segmentos e transposições, que vão desde os mais obscuros "Difícil ser um Deus", do russo Aleksey German, ou "An Elephant Sitting Still", do póstumo Bo Hu, até aos popularíssimos "Black Panther", "Joker" ou "o mais surpreendente filme de ação deste século", segundo as suas palavras, "Mad Max: Estrada da Fúria". Pode não ser a melhor colheita, nem mesmo a mistura perfeita, mas são referências para futuro inventário.

Annette

Quanto à genuína sessão de abertura, eis "Annette", a sexta longa-metragem do francês Leos Carax e a primeira em língua inglesa.

Um provocador e incitador de um universo livre e imprevisível, o realizador regressa com um musical ora desvairado, ora entendido na sua convencionalidade. Adam Driver e Marion Cottilard são os protagonistas deste bailado sob as letras, coreografias e ritmos dos Sparks (a banda norte-americana de rock e pop dos irmãos Ron e Russell Mael), uma hipérbole amorosa com "twists" negros e violentos presentes na sua medula. Uma literal valsa nas ondas da paixão e na destruição.

Há tempos que Carax já desejava o seu filme cantado - Kylie Minogue em "Holy Motors" era apenas um sinal dessa fantasia -, o que aqui concretiza na sua totalidade e indecência. Uma obra polarizadora, vinda de um realizador que nada faz para agradar nem repudiar públicos e apenas quer cumprir o que "vem na sua cabeça", mesmo assim "Annette" é o seu trabalho mais acessível.

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