Os protagonistas de "Ordinary People", um filme que chega das Filipinas, gravitam num ponto equidistante entre a empatia e o seu contrário.
São adolescentes sem abrigo e, à custa de pequenos furtos, decidem criar o filho recém-nascido. O espectador facilmente imagina que são pessoas como estas que cometem assaltos no metro para lhe roubar o telemóvel.
Apesar das dificuldades, não passa pela cabeça da mãe, Jane (Hasmine Killip), entregar o seu bebé a quem quer seja; o pai, Ariés (Ronwaldo Martin), por amor a ela acaba for ficar. O futuro não existe; o presente são pedaços de cartão ao relento. Quando o bebé Arjen desaparece, no entanto, a simpatia pelo casal aumenta – especialmente pela mãe, que passa de voluntariosa a desesperada.
E então as ruas caóticas de Manila transformam-se num labirinto perfeito não só para o enredo filmado por Eduardo W. Roy Jr., como para ele expor uma vasta gama de escroques, oportunistas, manifestações de justiça popular, imundície policial e corrupção dos media.
O registo não é “dark”: a vitalidade lembra o cinema de urgência feito na América Latina – especialmente no Brasil e no México.
Terceiro filme do realizador, ganhou o prémio do público no Festival de Veneza e será, porventura, um dos títulos mais imperdíveis da Competição do IndieLisboa.
Labirintos sem portas
Labirintos e buscas também no brasileiro “Elon não Acredita na Morte” (secção Silvestre) – mas aqui a ideia não é demolir estruturas sociais, antes desintegrar um simples sujeito. O que não significa um trauma menor.
Ele é o personagem do título (Rômulo Braga), que passa o filme à procura da mulher desaparecida. Por meio de corredores infinitos, o seu andarilho mergulha num universo onde realidade e delírio facilmente se confundem. Com (des)informações ministradas a conta-gotas, o argumento frequentemente frustra à audiência qualquer usufruto de “fait-divers”.
No universo “arthouse” mostrar personagens encurralados faz-se com a câmara nas costas da “vítima”; o estreante Ricardo Alves Jr. parece querer levar a ideia às últimas consequências. De resto, personagens, cenários e diálogos seguem a cartilha do ultrarrealismo.
No cômputo final deste falso “thriller” é difícil saber o que aconteceu ou não; a última cena é imperdível, revelando ou não um segredo que poderá só sobreviver na mente do espectador…
Este filme estreou em Roterdão, a montra favorita do cinema alternativo brasileiro no exterior.
Outros corredores
Numa sexta-feira repleta, há ainda o novo Ben Wheatley (“Free Fire”) e de Lea Glob voltar ao Indie depois da passagem no ano passado com o “O Olmo e a Gaivota”, onde tinha parceria com Petra Costa. O filme chama-se “Venus” e tem corealização de Mette Carla Albrechtsen.
Também abrem secções como o IndieMusic ("Shot! The Psycho Spiritual Mantra of Rock") e Director’s Cut (com um dos grandes clássicos da história do cinema, "Fitzcarraldo", de Werner Herzog).
Já a retrospetiva de Paul Vecchiali apresenta "Change pas de Main", obra dos anos 70 pioneira ao fundir arte com sexualidade explícita.
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