O cineasta italiano Ermanno Olmi, Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1978 com "A Árvore dos Tamancos", faleceu aos 86 anos, anunciou o ministério italiano da Cultura.

Olmi, um cineasta autodidata e pioneiro do género documental, estava doente há vários anos e faleceu no domingo no hospital de Asiago, perto de Vicenza (norte da Itália).

"A morte de Ermanno Olmi deixa a cultura italiana sem um gigante, um grande mestre do cinema italiano", afirmou o ministro da Cultura, Dario Franceschini.

"Foi um intelectual profundo que sondou e explorou os mistérios do homem e explicou, com a poesia que caracteriza as suas obras, a relação entre o homem e a natureza, a dignidade do trabalho, a espiritualidade", completou o ministro.

Olmi nasceu em Bérgamo em 24 de julho de 1931 e dirigiu quase 40 curtas-metragens e 20 longas-metragens. Herdeiro do neorrealismo italiano, estreou-se na realização com "Il tempo si e' fermato" (1959), a que se seguiram "Il posto" (1961) e "I fidanzati" (1963).

A preocupação com as classes marginalizadas da sociedade industrializada levou-o aos documentários "Nino il fioraio" (1967) e "Beata gioventù" (1967), à longa-metragem "Un certo giorno" (1968) e a trabalhos para a televisão italiana como "La cotta" (1967), "I recuperanti" (1970) e "Durante l'estate" (1971).

"A árvore dos Tamancos" ("L'albero degli zoccoli"), um filme quase documental sobre a vida de quatro famílias de camponeses pobres no fim do século XIX, surgiu depois de quase uma década afastado das salas de cinema.

Considerado uma grande obra-prima do cinema italiano, venceu a Palma de Ouro em Cannes em 1978 e o César de Melhor Filme Estrangeiro na França um ano depois.

Olmi criou um estilo muito pessoal e passou por vários formatos cinematográficos, incluindo o religioso em "Camminacammina" (1982), no qual contava a história dos reis magos com atores não profissionais. Nesse mesmo ano, trocou a cidade de Milão pela localidade de Asiago, na região de Veneto, nordeste de Itália, onde inaugurou a escola Ipotesi Cinema, com o objetivo de formar novas gerações de cineastas.

Em 1987 regressou ao cinema comercial e recebeu o Leão de Prata do Festival de Veneza com "Por Muitos Anos e Bons" e em 1988 venceu o Leão de Ouro com "A Lenda do Santo Bebedor", baseado em um conto de Joseph Roth.

Entre os seus últimos trabalhos estão "Il mestiere delle armi" (2001), "Tickets" (2005), "Giuseppe Verdi - Un ballo in maschera" (2006) e "Centochiodi" (2007).

Além do cinema, Olmi dedicaou-se igualmente à literatura, tendo publicado "Ragazzo della Bovisa" (2004), "L'apocalisse è un lieto fine. Storia della mia vita e del nostro futuro" (2013) e "Torneranno i prati" (2014).

Em 2008, o Festival de Veneza concedeu-lhe o Leão de Ouro de Carreira.

"O que eu procuro dizer nos filmes, deriva e pertence a esse mundo, o mundo que eu conheci pessoalmente: a indústria moderna e a civilização que esta cria", disse Ermanno Olmi sobre o seu percurso, citado pela Cinemateca Portuguesa, que dedicou uma retrospetiva ao cineasta, em 2012.

Em 2014, na passagem dos 100 anos sobre o início da II Guerra Mundial, a Cinemateca associou-se às instituições que, em vários pontos do globo, promoveram em simultâneo a estreia mundial de "Torneranno i prati", da última longa-metragem de ficção de Ermanno Olmi.

Há um mês, a Festa do Cinema Italiano apresentou em Lisboa o mais recente filme do realizador, "Vedete, sono uno di voi" (2017), obra documental sobre o cardeal de Milão Carlo Maria Martini, que apresentava como um dos mais progressistas da história da igreja católica.

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