A nona edição do Family Film Project - Festival Internacional de Cinema de Arquivo, Memória e Etnografia regressa ao Porto, de 14 a 17 de outubro, numa altura em que o espaço fílmico da intimidade está "reforçado".

Devido à pandemia de covid-19, adianta à Lusa a diretora, Né Barros, esse "espaço da intimidade, e da produção de imagens muitas vezes caseiras", de "como o íntimo se torna público e político" sai reforçado, por nunca ter havido "um momento tão forte do ponto de vista da produção dessas imagens".

"Até vamos ter alguns filmes que foram fruto deste espaço de confinamento. Tivemos imensas propostas de filmes produzidos durante o último semestre. (...) No fundo, o festival vem reforçado por essa própria experiência", afirma.

Com menos dois dias do que o habitual, o festival desdobra-se entre as salas do Cinema Trindade e do Cinema Passos Manuel entre as três linhas temáticas, de "vidas e lugares" à memória e arquivo e às "Ligações", com uma variedade temática que, segundo a diretora, atravessa "filmes covid, filmes de género, LGBT+, filmes feministas, do lado mais histórico e político da guerra, até vidas singulares".

Com um foco na obra do cineasta alemão Harun Farocki (foto) (1944-2014), secções competitivas, 'performances' e várias oficinas, o Family Film Project terá cinco filmes portugueses a concurso, entre o conjunto de 26, no qual se incluem nomes como o israelita Thomer Heymann, Ana Maria Gomes ou Raju Oliveira, com a estreia mundial de "Distância", rodada já em confinamento, além da estreia como realizadora da dinamarquesa Cine Vadstrup Brooker, com "The Home Within Me".

De Farocki, serão exibidos filmes que abarcam quatro décadas, de "Entre Duas Guerras", de 1978, a "Em Comparação", de 2009, além de "Peter Lorre: A Dupla Face" (1984) e "Imagens do Mundo e Inscrições da Guerra" (1988), mostrando a variedade conceptual e estética do alemão.

"Jonathan Agassi Saved My Life", um documentário sobre o ator pornográfico de filmes 'gay' de Heymann, é apresentado em estreia nacional, uma obra "de uma sensibilidade incrível, muito bem realizado e elaborado sobre este material forte, complicado, e que pode levantar questões éticas que aqui são resolvidas de forma brilhante".

"Casa de Vidro", obra premiada de Filipe Martins, é outro dos destaques, ao lado de Farocki, "considerado o arqueólogo das imagens" e cujo corpo de trabalho vai de um cinema ativista a instalações e a filmes mais íntimos e familiares.

"É uma obra importantíssima, que permite uma reflexão política e social forte, mas também como se constroem e circulam as imagens, e quem as cria. (...) Teremos quatro longas metragens de Farocki e uma 'masterclass' com Susana Nascimento Duarte", conta Né Barros.

No ciclo "Private Collection", dedicado a 'performances', há trabalhos de Tânia Dinis e Flávio Rodrigues, no Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e um concerto de Alexandre Soares, no Passos Manuel, com os programas paralelos a incluírem ainda uma oficina para crianças e o lançamento do livro de ensaios "Memory and Aesthetic Experience - Essays on Cinema, Media and Cognition", editado por Filipe Martins, que dirige o festival com Né Barros.

Em parceria com o Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, a obra reúne textos sobre cinema, novos media e outras reflexões sobre imagens de nomes como Wolfgang Ernst, Luís Umbelino, Susana Nascimento Duarte ou Patricia R. Zimmermann.

A caminho do 10.º ano de existência, em 2021, o evento organizará ainda, em conjunto com a Cinemateca Portuguesa, um programa especial dedicado ao sueco Roy Andersson, na sequência da retrospetiva "Vocês, que vivem - os Filmes de Roy Anderson", a decorrer em Lisboa, durante a primeira quinzena de outubro.

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