A exposição "Per Letizia", dedicada a Letizia Battaglia, vai realizar-se entre 20 a 27 de abril, na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, com entrada gratuita, anunciou a Festa do Cinema Italiano.

Em Cooperação com o Instituto Italiano de Cultura de Lisboa, serão apresentadas algumas das mais emblemáticas obras da, pioneira fotojornalista italiana e fotógrafa "oficial" da máfia, falecida no passado dia 13 em Palermo, aos 87 anos.

Em comunicado, a Festa do Cinema Italiano destaca que se trata de "uma oportunidade para conhecer e recordar uma das artistas mais irreverentes e a sua luta contra a máfia através da fotografia, cujo arquivo conta com mais de 600 mil fotografias que retratam as últimas décadas de Palermo, vencedora do Prémio W. Eugene Smith for Humanistic Photography, marcando também os trinta anos dos violentos atentados contra os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino".

Letizia Battaglia nasceu em Palermo em 1935, começou a trabalhar no jornal siciliano L'Ora em 1969, onde se tornou na primeira mulher fotógrafa e onde chegou a editar.

A fotojornalista tornou-se conhecida ao expor, nas páginas dos jornais e em galerias, a criminalidade da Sicília, os assassinatos cometidos pela Máfia italiana, sobretudo na década de 1980 e 1990, e muitas das suas fotografias, hoje consideradas históricas, foram usadas pela justiça contra organizações criminosas.

Battaglia também testemunhou a pobreza e a miséria de Palermo, ao retratar sobretudo crianças e mulheres, em imagens a preto e branco captadas com uma Leica.

Em 2007, quando inaugurou uma primeira exposição em Portugal, Letizia Bataglia afirmou à agência Lusa que se considerava uma "cronista do quotidiano", de uma realidade marcada pela brutalidade dos assassinatos da máfia siciliana.

"Era inevitável eu cruzar-me com a máfia, porque ela estava na cidade e eu do outro lado com a máquina fotográfica", recordou.

A fotógrafa, que com uma Leica chegou a noticiar cinco homicídios num só dia, escolheu a fotografia como uma extensão da sua luta pela liberdade, pela justiça e "pelos que não se podem defender".

"Fotografava com grande emoção e com uma raiva que crescia cada vez mais. Uma pessoa nunca se consegue habituar", admitiu Letizia Battaglia, que se recusou a fotografar vítimas das organizações criminosas desde que o juiz, e seu amigo, Giovanni Falcone foi assassinado em 1992.

Feminista, ambientalista, mulher de esquerda, Letizia Bataglia fundou a revista Mezzocielo, com textos e fotografias feitas em exclusivo por mulheres, fundou uma agência fotográfica de informação e em 2017 inaugurou o Centro Internacional de Fotografia de Palermo.

Em 2021, Letizia Battaglia foi homenageada pela Festa do Cinema Italiano com uma exposição, um debate e com o documentário "Shooting the Mafia", que conta a sua história e foi realizado por Kim Longinotto.