"Joker", de Todd Phillips, recebeu o principal prémio da 76ª Mostra de Veneza, o festival de cinema mais antigo do mundo. O júri era presidido pela realizadora argentina Lucrecia Martel. É a primeira vez que um filme baseado numa BD ganha o troféu principal do evento.

O filme gira em redor de  Arthur Fleck e de como ele se tornou o icónico vilão de Gotham City: palhaço durante o dia, comediante falhado à noite, arrasado de tal forma pela brutal Gotham em 1981, será esse desprezo que o fará cair na loucura e transformá-lo no vilão homicida e o grande inimigo de Batman.

Mais conhecido por comédias como a trilogia “A Ressaca”, Todd Phillips escreveu e realizou um dos filmes mais aguardados do ano, que além de Veneza, ainda passará nos prestigiados festivais de Nova Iorque e Toronto, grandes "rampas de lançamento" para os Óscares. No elenco estão ainda Robert De Niro, Zazie Beetz, Bill Camp, Frances Conroy e Brett Cullen.

Descrito, pelos ambientes que recordam as cores da cidade de Nova Iorque no cinema dos anos 1970, como uma homenagem a "Taxi Driver" e "O Rei da Comédia", ambos realizados por Martin Scorsese, o projeto não integra o chamado “DC Extended Universe”, pelo que história e intérpretes funcionarão de forma isolada de filmes como “Homem de Aço”, “Batman vs Super-Homem: O Despertar da Justiça”, “Mulher Maravilha” e "Esquadrão Suicida”.

O seu orçamento também é muito mais reduzido, de apenas 55 milhões de dólares, por oposição aos mais de 200 milhões das fitas anteriores. A classificação etária também será mais elevada: Restricted, o que quer dizer que os menores de 17 anos só poderão ver acompanhados por um adulto nos cinemas americanos.

A estreia nos cinemas portugueses foi anunciada para 3 de outubro de 2019.

Polanski leva Grande Prémio do Júri

J'accuse, de Roman Polanski

Apesar de todas as polémicas, "J'Accuse”, de Roman Polanski, conquistou o Grande Prémio do Júri. O filme, um dos mais elogiados do festival, retrata o caso Dreyfus - um escândalo político que dividiu a França entre 1894-1906 - do ponto de vista do tenente-coronel Georges Picquart, interpretado por um sóbrio e convincente Jean Dujardin. Louis Garrel dá vida a Alfred Dreyfus.

Polanski não esteve presente no festival mas o filme começou logo a dar polémica ainda antes do arranque do evento, por um lado pela própria selecção da fita para competição, por outro pelas palavras hesitantes da presidente do juri, Lucrecia Martel, sobre o cineasta e os casos de justiça que o envolveram. Apesar disso, "J'Accuse" tornou-se o filme mais elogiado pela imprensa e parecia difícil não ser reconhecido de alguma maneira no palmarés.

Quanto aos outros galardões, o sueco Roy Andersson, que já tinha ganho o Leão de Ouro do Festival em 2014 por "Um Pombo Pousou num Ramo a pensar na Existência", triunfou como Melhor Realizador pelo drama "About Endlesness".

Por seu lado, o italiano Luca Marinelli conquistou a Taça Volpi para Melhor Ator por "Martin Eden", uma adaptação de Pietro Marcello do romance do mesmo título de Jack London, e a Taça Volpi para Melhor Atriz foi para a francesa Ariane Ascarid por "Gloria Mundi", dirigida pelo seu marido Robert Gédiguien, em redor de uma familia pobre de Marselha.

O Prémio Especial do Júri foi para o documentário satírico "La Mafia non è più quella di una Volta", do italiano Franco Maresco, enquanto o galardão de Melhor Argumento foi para uma longa-metragem de animação que retrata Hong Kong em 1967, "No.7 Cherry Lane", escrita e realizada por Yonfan.

O troféu que distingue um intérprete revelação foi para Toby Wallace pelo australiano "Babyteeth", de Shannon Murphy, no papel de um traficante de droga por quem se apaixona a filha doente o casal interpretado por Ben Mendelsson e Essie Davis.

Portugueses de fora do palmarés oficial, mas com uma recompensa

Filme
"A Herdade", de Tiago Guedes

Portugal estava a concurso com "A Herdade", de Tiago Guedes, e ainda com a curta-metragem "Cães que Ladram aos Pássaros", de Leonor Teles, sendo neste último caso o troféu atribuído ao paquistanês "Darling", de Saim Sadiq.

Apesar de os dois filmes não terem conseguido levar qualquer um dos galardões do palmarés oficial do festival, Tiago Guedes foi distinguido com o prémio "Bisato d' Oro" da crítica independente para melhor realizador pelo seu filme "A Herdade", um prémio entregue à margem da cerimónia oficial deste sábado, e que já distinguira em 2007 "Cristovão Colombo - O Enigma", de Manoel de Oliveira, como Melhor Filme.

Apesar disso, a língua portuguesa ouviu-se na cerimónia logo ao primeiro prémio entregue, o de Melhor Documentário sobre Cinema, na Secção Clássicos, para o filme "Babenco - Alguém tem que ouvir o Coração e dizer: Parou", sobre o realizador Hector Babenco, de Barbara Paz, que lançou um sentido apelo de "abaixo a censura". Pouco depois, o Brasil voltou a subir ao palco com "A Linha", de Ricardo Laganaro, a ganhar o troféu para Melhor Experiência de Realidade Virtual.

O júri da 76ª Mostra, que começou a 28 de agosto e terminou este sábado, era presidido pela realizadora argentina Lucrecia Martel ("O Pântano", "A Rapariga Santa", "A Mulher sem Cabeça" e "Zama") e incluia a atriz britânica Stacy Martin, os realizadores japonês Tsukamoto Shinya, o italiano Paolo Virzi e a canadiana Mary Harron, o diretor de fotografia mexicano Rodrigo Prieto e o historiador de cinema e critico canadiano Piers Handling.

Há vários anos que o Festival de Veneza se transformou numa plataforma de lançamentos para os Óscares. Alguns filmes venceram diversas estatuetas depois de passar pelo evento: "Gravidade", "Birdman", "La la Land", "Moonlight", "Spotlight" e "A Forma da Água". O premiado com o Leão de Ouro no ano passado, "Roma", ganhou o Óscar agora renomeado para Melhor Filme Internacional.

Julie Andrews e Pedro Almodóvar ganharam o Leão de Ouro de Carreira.

O filme de suspense “The Burnt Orange Heresy”, do realizador italiano Giuseppe Capotondi, com a participação dos atores Claes Bang, Elizabeth Debicki, Donald Sutherland e Mick Jagger nos papéis principais encerra, em estreia mundial, o festival.

Veja o trailer de "Joker", o vencedor do Leão de Ouro deste ano:

LISTA DE PREMIADOS (secções principais)

SECÇÃO OFICIAL

Leão de Ouro: "Joker"; de Todd Phillips

Grande Prémio do Júri: "J'Acuse", de Roman Polanski

Leão de Prata para Melhor Realização: Roy Andersson, por "About Endlesness"

Taça Volpi para Melhor Atriz: Ariana Ascarid por "Gloria Mundi"

Taça Volpi para Melhor Ator: Luca Marinelli, por "Martin Eden"

Melhor Argumento: Yonfan por "No.7 Cherry lane"

Prémio Especial do Júri: "La Mafia non è più quella di una Volta", de Franco Maresco

Prémio Marcello Mastroianni Award para melhor ator ou atriz emergente: Toby Wallace, por "Babyteeth"

Secção Horizontes

Melhor Filme: "Atlantis", de Valentyn Vasyanovych

Melhor Realização: Théo Court, por "Blanco en Blanco"

Prémio Especial do Júri: "Verdict", de Raymund Ribas Gutierrez

Melhor Ator: Sami Bouajila, por "Un Fils"

Melhor Atriz: Marta Nieto, por "Madre"

Melhor Argumento: "Revenir", para Jessica Palud, Philippe Liorete e Diastème

Melhor Curta-Metragem: "Darling", de Saim Sadiq

Leão do Futuro – Prémio “Luigi De Laurentiis” para primeiras obras

"You Will Die at 20", de Amjad Abu Alala

Secção Clássicos

Melhor Restauro: "Ecstasy" (1933)

Melhor Documentário sobre Cinema: "Babenco - Alguém tem que ouvir o Coração e dizer: Parou"

Secção Veneza Realidade Virtual

Melhor Realidade Virtual: "The Key"

Melhor Experiência de Realidade Virtual: "A Linha"

Melhor História Realidade Virtual: "Daughters of Chibok"

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