"Era o objetivo a que nos propusemos há cinco anos, no início do meu mandato: tentar restituir Veneza à posição que sempre teve ao nível internacional como evento imperdível", explicou.

A atual edição, que termina este sábado após dez dias marcados por filmes bem diferentes e uma forte presença também de cinema da América Latina, foi inaugurada com o último e esperadíssimo filme do jovem americano Damien Chazelle, "La La Land", que promete ser um dos realizadores mais interessantes dos próximos anos.

O musical, protagonizado por Emma Stone e Ryan Gosling, encantou a crítica e é um dos grandes favoritos deste ano.

"Para os americanos, Veneza transformou-se no início da corrida aos Óscares", admite satisfeito Barbera, ele próprio crítico de cinema.

"Conseguimos isso com anos de investimento, trabalho e um pouco de sorte", disse o diretor artístico, que este ano convidou como jurado o cineasta britânico Sam Mendes, cuja obra-prima, "Beleza Americana" (1999), ganhou vários Óscares.

"Naturalmente que nos últimos três anos três filmes estreados em Veneza terem ganho Óscares ajudou-nos muito", admite.

Hollywood também compete com "Animais Noturnos", a segunda obra do modesto texano Tom Ford, e com a história de amor num deserto cheio de canibais "The Bad Batch", de Ana Lily Amirpour, apresentada esta terça-feira.

Também passou Terrence Malick com um documentário sobre a origem do mundo; o filme sobre um casal que cria uma criança náufraga, "A Luz entre Oceanos" de Derek Cianfrance; e "O Primeiro Encontro", ficção científica do canadiano Denis Villeneuve com Amy Adams.

Depois será "Jackie", o filme do chileno Pablo Larraín que retrata Jackie Kennedy e que também deve entrar na disputa dos Óscares por ser uma coprodução com os Estados Unidos. A película é rodada em inglês e protagonizada por Natalie Portman.

E também não faltaram estrelas a desfilar pelo Lido veneziano: desde o casal Michael Fassbender e Alicia Vikander, que apareceram juntos em público pela primeira vez, passando por Mel Gibson, Jude Law, James Franco, Robert Duvall, Sam Shepard, Selena Gomez e Jake Gyllenhall, entre outros.

Cinema da América Latina

Se no ano passado a presença dos dois filmes da América Latina na competição oficial após anos de ausência confirmava o bom estado de saúde do cinema dessa região, a presença de quatro filmes dirigidos por latino-americanos na competição oficial representa uma vitória.

"Está a acontecer o que tínhamos previsto. Em toda a região se inova, há dinamismo. De investir em quantidade passou-se a investir em qualidade", comentou Barbera.

"Não só ocorre em países com grande tradição como Argentina e Brasil, mas também noutros sem uma história cinematográfica, onde há realizadores de grande talento".

Entre os convidados em competição na sessão oficial está o estreante chileno Christopher Murray com o filme "El Cristo Ciego".

Questionado sobre os muitos filmes apresentados este ano sobre ritos e crenças, com temas mais intimistas, o diretor da Mostra considera que é parte da natureza do artista.

"Enquanto nos anos anteriores a tendência dos realizadores era mais explícita e direta, sobre temas de atualidade, como migração, violência social e guerra, este ano também se fala desses temas, mas de forma indireta, com o filtro de um romance ou um género", explicou.

"Isso não é mau porque o cinema não é televisão, nem atualidade, nem reportagem. O cinema é refletir sobre grandes temas, questionando sobre temas de fundo através dos quais se pode entender melhor o presente e serve para dar instrumentos conceituais, intelectuais e culturais para enfrentar mais preparados a realidade quotidiana tão dramática que vivemos hoje", concluiu.