O filme “Sculp” (“Escultura”), rodado no Museu Internacional de Escultura Contemporânea (MIEC), em Santo Tirso, decorre num mundo pós-capitalismo em que há hora para tudo, desde nascer a morrer, disse hoje (3) à Lusa o cineasta Joaquim Pavão.
Com estreia agendada para a próxima sexta-feira, no MIEC, depois de uma primeira visualização no Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), que decorreu na semana passada, o filme descrito pelo cineasta como de “caráter artístico, mas também de ficção científica”, pretende ser “um salto em frente na tecnologia” utilizada.
“Trata-se de um filme que foi trabalhado fotografia a fotografia, não há uma espécie de pós-produção normal para cinema (…), criando com isso uma textura com relevo e com algumas especificidades que acho que se vão sentir e que darão a quem o vê a certeza de haver algo ali de diferente”, descreveu Joaquim Pavão.
Filmado em Santo Tirso, “Sculp” explora as pedras basilares da vida a partir das esculturas do MIEC, pretendendo dessa forma, “interrogar o presente e o futuro, falar sobre a problemática do que é um sistema livre, de que forma é que este 'admirável mundo novo' em que vivemos e nos sentimos cada vez melhor e, ao mesmo tempo, para onde é que ele nos leva quando não consegue encontrar o equilíbrio”.
Para dar corpo à história, o imaginário do autor mostra que “um dos possíveis locais é uma espécie de sistema passado no futuro” cuja razão de ser é dar “resposta a todos os problemas, como a fome ou a guerra”, mas que também transforma quem nele vive, tornando-os “órfãos da capacidade de fazer, pensar e ser livre”.
“É num mundo pós-capitalismo, onde ninguém tem nada, onde não há vontade de consumir, onde todos se vestem de igual e habitam estruturas comuns, onde tudo é impessoal e em que cada um tem uma espécie de 'GPS', que diz tudo sobre nós, mas que não nos dá qualquer espécie de escapatória”, descreveu à Lusa Joaquim Pavão.
E numa história em que “da vida à morte, tudo tem hora marcada”, e que o cineasta classifica como “de uma vida extremamente confortável”, o lado mais obscuro surge do próprio sistema que, ao “injetar mensagens durante o sono às personagens, procura corrompê-las, levando-as a optar pela saída, para um deserto, numa outra sociedade onde nada existe”.
O filme, avançou Joaquim Pavão, deverá chegar às salas de cinema em fevereiro de 2021.
Joaquim Pavão é o realizador da curta-metragem "Antes que a noite venha - Falas de Antígona", que conquistou quatro prémios em dezembro de 2018 nos Red Carpet Film Awards, em Nova Iorque, entre os quais os de melhor atriz (Isabel Fernandes Pinto) e de melhor cinematografia (José Oliveira).
O MIEC é composto por 57 esculturas dispersas por seis polos da cidade, numa ideia que partiu do escultor já falecido Alberto Carneiro.
Hoje, há 57 escultores nacionais e internacionais pelas ruas de Santo Tirso, desde o artista belga Paul Van Hoeydonck, que tem uma obra sua na lua, até nomes como Pedro Cabrita Reis, Fernanda Fragateiro, Júlio Le Parc, Fernando Casás e Carlos Criz Diez.
Em 21 de maio de 2016, o MIEC “ganhou” a sua sede, resultado de um projeto que juntou os dois prémios Pritzker portugueses, os arquitetos Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura.ste site utiliza cookies. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização. Saiba mais sobre o uso de cookies.
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