Disponível em Portugal desde 2016, a Filmin é uma plataforma de cinema que se distingue pelo cuidado e toque pessoal na apresentação em canais e coleções temáticas dos seus filmes, seja dos grandes estúdios de Hollywood ou do circuito independente e de autor, europeu, americano ou asiático.

Espaço de excelência e ponto de encontro dos que não querem entrar simplesmente num gigantesco armazém gerido por algoritmos, a Filmin também é uma comunidade construída pelos seus utilizadores, os "filmers" ("Filmin subscribers", pela expressão original), que partilham uns com os outros as suas experiências intimistas de ver e descobrir o cinema que lhes despertou emoções ou até mudou as suas vidas, através de avaliações, críticas e listas de favoritos.

Como as fronteiras cada vez estão mais esbatidas, do legado de recomendações da grande comunidade de "filmers" escolhemos cinco filmes e séries entre as que estão mais bem avaliadas: todos já com muitos fãs, mas ainda pouco conhecidos e à espera de serem descobertos e partilhados...

A Noite em que Logan Despertou (2023)

Em agosto de 2020, Xavier Dolan partilhava o receio de que a pandemia fosse acelerar uma mudança drástica e o grande ecrã deixasse de ser o local para ver o seu tipo de cinema, relegado para os serviços online. "E isso é triste. Porque ninguém, no fundo, filma para iPads", dizia.

Quase três anos depois, a Filmin lançou em exclusivo "A Noite em que Logan Despertou", a primeira série televisiva criada, realizada e protagonizada pelo "enfant terrible" e prodígio do cinema canadiano, com o lendário Hans Zimmer entre os créditos da banda sonora, a adaptação da peça de Michel Marc Bouchard ("La nuit où Laurier Gaudreault s'est réveillé") que junta o mesmo elenco que a levou aos palcos, na altura com o próprio Xavier Dolan.

"História, cinematografia, realização e desempenhos extraordinários. Excelente série", na avaliação de um "filmer", os muitos apreciadores de trabalhos como "Amores Imaginários" (2010), "Laurence Para Sempre" (2012), "Tom na Quinta" (2013), "Mamã" (2014) e "Tão só o Fim do Mundo" (2016) vão reencontrar muitos dos temas do cineasta nesta minissérie de cinco episódios em registo de 'thriller' psicológico.

A história começa no início dos anos 1990, quando descobrimos Mimi e o seu irmão Jules inseparáveis do melhor amigo Logan. Entre as paixões pelo desporto e a representação, os três adolescentes sonham com a mudança para os EUA, até que Logan, perto do 17º aniversário, viola Mimi, de 14. E quando, passados 30 anos, ela regressa pela primeira vez e reencontra os dois, regressam à superfície rancores e velhas feridas mais fortes do que nunca...

A Orquestra (2022)

A confirmar que não são apenas dramas policiais ou políticos sombrios que chegam da Europa do Norte, uma das novidades recentes exclusivas do catálogo da Filmin é esta tragicomédia, um grande êxito recente de público e crítica da televisão dinamarquesa do mesmo criador das celebérrimas séries "Borgen" e "Ragnarok", premiada com três prémios Robert (os Óscares do cinema e da televisão dinamarqueses).

Depois de mergulhar nos bastidores políticos do Palácio de Christiansborg e reinterpretar a mitologia nórdica, Adam Price junta-se a Mikkel Munch-Fals para apresentar ao longo de dez episódios uma sátira ácida sobre a Orquestra Sinfónica de Copenhaga e as particularidades dos seus músicos, num universo que cruza tradições, rivalidades interesses políticos à volta da arte e até o velho sexismo numa sociedade que já não o tolera.

A partir da amizade peculiar entre os muito diferentes Jeppe Nygren, o novo maestro adjunto, e o segundo clarinetista, Bo Høxenhaven, e dos que circulam à sua volta, o que se revela no aparentemente sereno e pacífico mundo da música clássica executada ao mais elevado nível são histórias engraçadas e tristes de sucesso e fracasso, paixão artística e burocracias institucionais, abusos de poder e até escândalos sexuais.

O resultado, nas palavras de um "filmer", é uma "excelente série, com direção, roteiro e elenco impecáveis! Frederik Cilius e Rasmus Bruun em interpretações primorosas, assim como Ina-Miriam Rosenbaum".

A Conferência (2022)

O Grande Prémio do último Festival de Cannes foi para um grande "acontecimento" chamado "The Zone of Interest", de Jonathan Glazer, sobre a vida familiar banal de Rudolf Höss, o comandante que dirigia o campo de extermínio de Auschwitz, Rudolf Höss. Sem um plano de violência, tudo é indireto e sugerido, mas quem o viu garante nem assim é menos tenebroso.

Já "A Conferência" apresenta outra face também arrepiante e menos conhecida dessa "banalização do mal", como descrita por Hannah Arendt: a partir da ata escrita por Adolf Eichmann, o premiado filme de Matti Geschonneck propõe a recriação meticulosa da "reunião seguida de pequeno-almoço" a 20 de janeiro de 1942 numa idílica 'villa' perto de Berlim que teve como único tema a "Solução Final para a Questão Judaica",

Conhecida na História como a Conferência de Wannsee, o encontro de 90 minutos onde foi meticulosamente planificado o Holocausto juntou 15 dignitários, das SS ao Partido Nacional-Socialista e burocratas do governo nazi, incluindo Eichmann mas não Hitler, Goebbels ou Himmler: foram pessoas normais, não fanáticas, sociopatas ou gangsters, que complacentemente se transformaram nos primeiros assassinos em massa de um regime de profunda corrupção, impunidade e desprezo humano.

"A indiferença, o desrespeito e a falta de humanidade entre quatro paredes. Excelente prestação e excelente filme", elogiou um "filmer".

Um Iaque na Sala de Aula (2022)

No início de fevereiro de 2022, houve uma grande surpresa nos Óscares na categoria de Melhor Filme Internacional: o pouco conhecido Butão, um pequeno país do interior da Ásia, "encaixado" entre a China e a Índia, conseguia a primeira nomeação da sua história com "Um Iaque na Sala de Aula", ao lado dos muito mais mediáticos "Drive My Car" (Japão), o grande favorito e putativo vencedor, “Flee – A Fuga” (Dinamarca), “A Mão de Deus” (Itália) e “A Pior Pessoa do Mundo” (Noruega).

O facto de ter superado títulos como “Um Herói” (Irão), “O Bom Patrão” (Espanha) e “Compartimento nº6” (Finlândia), além de uma desqualificação da candidatura pela Academia para a cerimónia de 2021 por não ter cumprido os critérios de seleção, deixa pistas para o forte impacto entre os espectadores deste drama filmado na escola mais remota do mundo, que se situa na fronteira entre o Butão e o Tibete, e que marca a estreia como realizador e argumentista de Pawo Choyning Dorji.

Esta é a história do processo de autodescoberta de Ugyen, um jovem professor da parte moderna do Butão, que é castigo pelos seus superiores após fugir às suas responsabilidades enquanto planeia partir emigrar para a Austrália para se tornar cantor. Enviado para a referida escola mais remota do mundo na aldeia de Lunana para concluir o seu contrato, Ugyen tem um choque: longe dos confortos ocidentais, encontra um local sem eletricidade, manuais ou sequer um quadro na sala de aula.

Apesar da evidente pobreza que o rodeia e da tentação de desistir e partir, Ugyen começa a sentir o impacto da força espiritual dos aldeões que o receberam calorosamente e das dificuldades das crianças que ensina neste filme descrito por uma "filmer" como "de uma grande beleza. Tanto na história, música como paisagem".

Ponto de Ebulição (2021)

"Um chefe a ser cozido em lume brando. Sente-se o sabor a depressão e cheiro de esgotamento mental" foi a partilha de um "filmer" sobre um dos filmes mais implacáveis e intensos dos últimos anos, a merecer ser descoberto com urgência: "Ponto de Ebulição" é o momento mais alto até agora da carreira do ator britânico Stephen Graham, presença regular e talentosa no grande e pequeno ecrã vai para três décadas.

Depois de criminosos de maior ou menor gabarito, mais ou menos psicóticos, de "Snatch - Porcos e Diamantes" a "Boardwalk Empire", "O Irlandês" e, principalmente, como Andrew "Combo" Gascoigne na saga "Isto é Inglaterra", o ator brilha intensamente neste "gastro-thriller" de Philip Barantini rodado em plano sequência (sem cortes) como o carismático, intenso, perturbado e exausto chef de um restaurante londrino com estrela Michelin, forçado a lidar com todo o tipo de problemas profissionais e pessoais ao mesmo tempo que repreende e incentiva a sua equipa indiscriminadamente para satisfazer as exigências ridículas dos seus clientes durante a noite cheia de tensão do dia mais movimentado do ano.

Produzido pelo próprio Graham com a sua esposa, Hannah Walters, que também faz parte do elenco com Vinette Robinson e Jason Flemyng, entre outros, "Ponto de Ebulição" foi um fenómeno de popularidade em terras britânicas, aclamado pela crítica e nomeado para mais de 20 prémios, incluindo os BAFTA. Uma autêntica "pedrada no charco" que vai dar origem a uma sequela para a BBC com o regresso da principal equipa criativa atrás e à frente das câmaras onde se reencontra seis meses depois o mundo intenso das personagens ao longo de cinco episódios... previsivelmente não filmados num único "take".