Disponível em Portugal desde 2016, a Filmin é uma plataforma de cinema que se distingue pelo cuidado e toque pessoal na apresentação em canais e coleções temáticas dos seus filmes, seja dos grandes estúdios de Hollywood ou do circuito independente e de autor, europeu, americano ou asiático.

Na noite deste domingo teve lugar mais uma cerimónia dos Óscares e não foi uma edição como as outras: a entrega das estatuetas douradas festejou 95 anos. No rescaldo da maior cerimónia de prémios do cinema, escolhemos cinco filmes entre vários que estão disponíveis que mostram como é, afinal, diversificada (e cada vez mais internacional) a grande festa de prémios de Hollywood.

Há Lodo no Cais (1954)

Uma obra-prima e um dos maiores vencedores nos Óscares, com oito estatuetas: Filme, Realização (Elia Kazan), Ator (Marlon Brando), Atriz Secundária (Eva Marie Saint, na sua estreia no cinema), História e Argumento, Montagem, Fotografia a Preto e Branco e Direção Artística a Preto e Branco. Só pelas nomeações ficaram Lee J. Cobb, Karl Malden e Rod Steiger (todos para Ator Secundário) e a Banda Sonora composta por... Leonard Bernstein.

"Eu poderia ter tido classe. Eu poderia ter sido um competidor. Eu poderia ter sido alguém, em vez de um vagabundo, que é o que eu sou": Brando já era uma grande estrela, mas há um antes e depois da interpretação de Terry Malloy, o pugilista fracassado obrigado a ganhar a vida a trabalhar para Johnny Friendly (Lee J. Cobb), o chefe do sindicato das docas com métodos de mafioso para controlar e explorar os estivadores em Nova Iorque. Quando um deles era assassinado, ele via-se involuntariamente implicado e dominado pela culpa, com o amor da irmã do homem morto a mostrar-lhe até que ponto chegara tão baixo...

Um filme controverso na sua época pela violência e linguagem crua, quase confundido-se com um documentário pelo seu realismo, "Há Lodo no Cais" permanece do início ao fim uma experiência de cinema brutal sobre crime, corrupção, justiça e redenção.

Encontros Imediatos do Terceiro Grau (1977)

Com "Os Fabelmans", Steven Spielberg conseguiu a nova nomeação para o Óscar de Melhor Realização (nove), igualando Scorsese como o cineasta vivo mais vezes nomeado e ficando a três do recorde de outra lenda, William Wyler (1901-1981). E reforça um título pessoal, o de ser o único que concorreu em seis décadas consecutivas.

Este é um bom pretexto para recordar a sua primeira nomeação na categoria, que não aconteceu com "Tubarão" (apesar de ter concorrido para Melhor Filme), mas com a fábula humanista que é "Encontros Imediatos do Terceiro Grau" (que, por sua vez, teve oito nomeações, mas não a de Melhor Filme, e só ganhou pela fotografia), que se mantém como um dos seus maiores clássicos e que a Filmin apresenta na "versão do realizador", a que Spielberg sempre quis, sem interferências do estúdio, excluindo as cenas no interior da nave.

Entre a descoberta de como uma visão de OVNIs no céu e o contacto com alienígenas pode ser uma experiência quase religiosa, não assustadora como em tantos filmes de ficção científica que o predecederam, as interpretações de Richard Dreyfuss, Teri Garr, Melinda Dillon e do lendário realizador François Truffaut como Lacombe, os efeitos especiais (incluindo os criados por Douglas Trumbull, o mágico de "2001 - Odisseia no Espaço") e uma icónica banda sonora de John Williams, as imagens evocam o cinema de Cecil B. DeMille, John Ford, Alfred Hitchcock ou Walt Disney... que ajudam a perceber ainda melhor a experiência autobiográfica proposta por Spielberg com "Os Fabelmans".

Melhor é Impossível (1997)

A mais recente vez em que coincidiram os Óscares de Melhor Ator e Melhor Atriz no mesmo filme foi nesta comédia romântica onde Jack Nicholson interpretou um dos grandes cretinos do cinema e Helen Hunt lhe deu réplica à altura com encanto, deixando de ser apenas conhecida como uma das estrelas da série de comédia de sucesso "Doido Por Ti". Ainda por cima, aconteceu na cerimónia de 1998, o ano em que "Titanic" ganhou 11 estatuetas.

O responsável por esta alquimia entre os dois atores foi o realizador e argumentista James L. Brooks, que já ganhara as principais estatuetas no primeiro encontro com Nicholson em "Laços de Ternura" (1983), que os juntou como Melvin, um escritor de língua afiada e também maníaco e desagradável, capaz de atirar o cão do seu infeliz vizinho Simon (Greg Kinnear) para o lixo, anda na rua sem pisar as juntas dos passeios e utiliza talheres novos cada vez que come... até aparecer Carol Connelly, uma encantadora empregada de mesa do café da zona e a única disposta a aturá-lo e que mudará completamente a sua vida.

Nomeado para sete Óscares, "Melhor é Impossível" continua a valer pela descoberta de três atores em estado de graça e... um cão chamado Verdell.

A Estrada (1954)

Vencedor do primeiro Óscar competitivo de Melhor Filme Estrangeiro (rebatizado Filme Internacional a partir de 2020), "A Estrada" é celebrado pela inesquecível interpretação de Charlot trágico de Giulietta Masina (com Anthony Quinn e Richard Baseheart a não lhe ficarem atrás), a famosa banda sonora de Nino Rota e o nascimento de um novo adjetivo cinematográfico.

Após a experiência como argumentista a partir do início dos anos 40 em que acompanhou o Neorrealismo, o que se encontra num dos primeiros filmes como realizador de Federico Fellini e a sua revelação internacional tem já pouco a ver com esse marcante movimento italiano, mas muito de 'felliniano': esta é uma fábula poética e profundamente pessoal que acompanha a figura frágil e ingénua num mundo sem amor de Gelsomina (Giulietta Masina, esposa do realizador), vendida pela mãe a Zampanò (Anthony Quinn), um saltimbanco forte e bruto que a leva para trabalhar com ele nos seus espetáculos na sua vida de estrada.

Um dos mais acessíveis e melhores filmes de Fellini e da história do cinema, "A Estrada" é uma excelente introdução ao seu mundo entre o fantástico, o surrealista e o barroco, a que se seguiram títulos incontornáveis como "As Noites de Cabíria", "A Doce Vida", "Fellini 8 1/2", "Julieta dos Espíritos" e "Amarcord", vários deles disponíveis na Filmin.

À Procura de Sugar Man (2012)

Considerado um dos melhores filmes lançados em 2012, "À Procura de Sugar Man" tem fascinado melómanos e não só desde a revelação do Festival de Cinema de Sundance, onde ganhou o Prémio Especial do Júri e o do Público, e o Óscar de Melhor Documentário conquistado na 85.ª cerimónia em 2013.

A produção anglo-sueca acompanha a história de dois dedicados fãs da África do Sul que, na década de 1990, tentaram descobrir se os rumores da morte do músico norte-americano Sixto Rodriguez são verdadeiros ou, caso contrário, o que lhe aconteceu.

Descoberto num bar de Detroit nos anos 60 por dois produtores que ficaram fascinados pelas suas melodias e letras comovedoras, Rodriguez gravou um álbum que se pensou que o colocaria entre os grandes artistas da sua geração. Não foi o que aconteceu e após uma segunda tentativa também sem grande repercussão, deixou o percurso musical de lado e desapareceu, correndo rumores de que se tinha suicidado.

Nos anos que se seguiram, a sua obra acabou finalmente por ter impacto, mas noutros pontos do mundo, como a Austrália e sobretudo a África do Sul, uma surpresa que o realizador sueco Malik Benjelloul investiga para chegar à verdadeira história, uma sobre esperança, inspiração e o poder da música.