A França prestou hoje uma homenagem solene a Jean-Paul Belmondo, falecido na segunda-feira aos 88 anos, um ator que soube encarnar um país "feliz", nas palavras do presidente Emmanuel Macron.
"Amamos Jean-Paul Belmondo porque ele se parecia connosco. Era aquele homem entre os homens", disse o estadista no pátio do Palácio dos Inválidos, um local histórico em Paris, reservado para grandes personalidades e grandes ocasiões.
Num país agitado pela pandemia de COVID-19 e preocupado com a incerteza económica, Macron usou a figura de Belmondo para tentar transmitir uma mensagem de esperança.
Belmondo, com o seu grande sorriso e ar bem-humorado, explicou, faz parte de uma "mitologia da França feliz".
"Foram seis décadas de cinema e teatro em que abraçou todos nós", explicou o presidente francês.
"Nunca parou de procurar a felicidade, mas também de dá-la de graça", disse, pouco antes, Victor Belmondo, neto e também ator.
Embora menos preenchida do que o esperado, a cerimónia foi solene.
A entrada do caixão, sob um sol forte e rufar de tambores militares, emocionou a família do ator.
Os seis netos de "Bébel", como era informalmente chamado, agradeceram os testemunhos vindos de todo o país.
Entre o público estavam estrelas atuais do cinema e da vida pública francesa, como Jean Dujardin, Marion Cotillard, Guillaume Canet, Gilles Lellouche, Bérénice Bejo, Michel Hazanavicius, Patrick Bruel, Michel Drucker, Laurent Gerra, Thierry Frémaux, Julie Gayet e o companheiro, o antigo Presidente François Hollande, além de cerca de mil fãs.
Macron, que enfrenta uma difícil eleição presidencial no ano que vem, voltou a usar a morte de uma figura popular para tentar forjar uma unanimidade nacional.
Há três anos foi a morte do cantor de rock Johnny Halliday, em dezembro de 2017, que causou um verdadeiro fervor popular nas ruas de Paris, desconhecido desde a morte de Edith Piaf.
Após a cerimónia, estava previsto que todos os que assim o desejassem pudessem sair em cortejo fúnebre. Um dispositivo excecional, que foi aplicado pela última vez na morte do antigo presidente Jacques Chirac em 2019.
Carismático sem ser um "sex symbol" como Alain Delon, Jean-Paul Belmondo foi uma estrela de cinema reconhecível dentro e fora da França pela sua simpatia e a sua desenvoltura em todos os papéis, da comédia aos dramas e filmes de ação, que amava porque lhe permitia arriscar nas cenas físicas, um de seus hobbies.
Com mais de 80 filmes, "Bébel" foi a encarnação do arrogante e do "bon vivant".
Quem não esteve presente foi Alain Delon, três anos mais novo e retirado da vida pública, que se declarou na segunda-feira "totalmente devastado" pela morte do ator com quem contracenou várias vezes, nomeadamente no emblemático "Borsalino" (1970): os dois mantinham uma relação de amizade, rivalidade, carinho e respeito desde que se conheceram nos bastidores da rodagem de "3 Raparigas Endiabradas" (1959).
Cyril Viguier, co-produtor do documentário "Belmondo par Belmondo" contou nas colunas do Paris Match que o último encontro entre os dois monstros sagrados do cinema francês, em tom de despedida, ocorreu a 15 de junho, na casa do filho Paul Belmondo.
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