Após a esperança e confiança no início de junho na recuperação dos cinemas, os sinais que começam a sair de Hollywood fazem recordar março de 2020 e o último inverno: a antecâmara de uma nova vaga de adiamentos dos grandes filmes.

Um artigo publicado esta quarta-feira na publicação especializada The Hollywood Reporter (THR) nota que regressaram os tempos de maior incerteza aos estúdios com o agravamento da pandemia nos EUA por causa da variante Delta e a confiança dos espectadores para ir ao cinema ter caído dos 81% do início de julho para uns preocupantes 64% a 16 de agosto na sondagem regular do National Research Group.

O impacto da falta de confiança fez-se sentir quase imediatamente entra as estreias nas bilheteiras americanas, que passaram dos encorajadores 80,4 milhões de dólares de "Viúva Negra" entre 9 e 11 de julho para os 35 milhões de "Jungle Cruise" no final desse mês e os 26,2 milhões de "O Esquadrão Suicida" uma semana mais tarde (todos os filmes também foram lançados ao mesmo tempo em streaming).

"Se soubesse há seis semanas o que sei agora, teria passado tudo para tão longe como o início do ano que vem", disse o executivo de um dos estúdios ao THR.

O colega de um estúdio rival acrescentou que teria dito "não" à possibilidade de voltar a fazer grandes mudanças de calendário há seis semanas e "agora, é um talvez".

No final de julho, a Paramount já adiou a estreia do filme familiar "Clifford the Big Red Dog", prevista para 13 de setembro.

Na semana passada, a Sony passou a estreia de "Venom: Tempo de Carnificina" de 24 de setembro para 15 de outubro mas o THR sublinha que já se fala em novo adiamento. Esta semana, o mesmo estúdio vendeu "Hotel Transylvania 4: Transformania" à Amazon por mais de 100 milhões de dólares em vez de estreá-lo nos cinemas a 1 de outubro.

Em relação ao várias vezes adiado "007: Sem Tempo para Morrer", as fontes do THR indicam que pode não ter margem de manobra para voltar a mudar de data (30 de setembro em Portugal): cada recomeço custa milhões de dólares em marketing e a MGM não tem parceiro de streaming dentro do grupo, pelo menos enquanto as autoridades reguladoras não aprovarem o aquisição do estúdio pela Amazon.

007: Sem Tempo Para Morrer

Para os próximos meses, estão ainda anunciadas as estreias de títulos como "Dune", "Halloween Mata", "Eternals", "Caça-Fantasmas: O Legado" e "Top Gun: Maverick".

Segundo o THR, a estreia de "Free Guy: Herói Improvável" no último fim de semana bem acima do que era esperada com 28,4 milhões de dólares ajudou a elevar a moral dos stressados executivos dos estúdios de Hollywood. O filme terá beneficiado de ser um lançamento exclusivo nos cinemas e da afluência do público masculino com menos de 35 anos, grupo que mantém um nível mais elevado na confiança para ir ao cinema.

"Estamos numa fase neste longo período de recuperação em que penso que os estúdios estão menos interessados ​​em grandes mudanças radicais no calendário de estreias e mais focados nas adaptações de curto prazo ao mercado", disse ao THR Shawn Robbins, do site que análise de bilheteiras Boxoffice Pro.

Apesar disso, o mercado internacional tão importante para recuperar receitas nos grandes filmes pode vir a empurrar Hollywood para essas mudanças de calendário.

Além da limitação praticamente generalizada da capacidade de ocupação das salas, a obrigatoriedade de apresentar passaportes de vacinação fez cair abruptamente a afluência aos cinemas na França e Itália, enquanto vastas zonas da Austrália estão em confinamento e Japão, Coreia do Sul e México registam números recorde de COVID-19. E na China, o maior mercado de cinema do mundo, as autoridades estão a impedir a estreia de ainda menos filmes americanos por respeito aos festejos do centenário da fundação do Partido Comunista e fecharam recentemente mais de 3500 salas como precaução contra a variante Delta.

Um grande financiador das grandes produções ouvido pelo THR resumiu a atual situação: "É do interesse de todos mudar os grandes filmes, principalmente considerando como está o mercado internacional".