"Quando vou a um estúdio, não vejo rostos negros com exceção do segurança que recolhe os meus dados. Esta indústria está tão distante da dos desportos que é ridículo. É mais fácil ter um negro como Presidente dos Estados Unidos do que como responsável por um estúdio" de cinema, afirmou o realizador Spike Lee nos Governors Awards.

Foi o único momento mais "controverso" da cerimónia informal com que Hollywood distingue os seus artistas com prémios pela sua carreira ou atividade humanitária.

O cineasta foi um dos homenageados com o Óscar honorário após as apresentações dos atores Wesley Snipes, Samuel L. Jackson e Denzel Washington, com o último a referir que Lee "colocou mais negros a trabalhar neste negócio do que qualquer outro na história deste negócio".

A cerimónia começou com uma evocação dos trágicos acontecimentos de Paris, com a presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas Cheryl Boone Isaacs, que acabara de regressar da capital francesa, a expressar a solidariedade com a França e o seu povo.

"A nossa ligação com os amantes de cinema franceses é especialmente profunda com as ondas de influência para lá e para cá do Atlântico a existirem deste que os irmãos Lumière fizeram o primeiro filme", afirmou.

Os festejos incluíram também homenagens às lendárias Debbie Reynolds e Gena Rowlands.

A primeira, ausente por estar a recuperar de uma cirurgia, recebeu um prémio pelo trabalho humanitário, numa homenagem liderada por Jane Fonda e Meryl Streep, que interpretou uma versão ficcionada de Reynolds em "Recordações e Hollywood".

Gena Rowlands teve direito a um Óscar honorário pela carreira, "o primeiro na família", como referiu Nick Cassavetes, filho da atriz e do também lendário realizador John Cassavetes. Cate Blanchett e Laura Linney apresentaram o tributo.

Os Governors Awards foram instituídos em 2009 com a intenção de homenagear com mais dignidade os artistas que recebiam Óscares honorários, sem os constrangimentos de tempo da cerimónia dos Óscares e acabaram por se tornar também um dos alvos mais apetecidos da campanha para os prémios da Academia: os estúdios garantem que as mesas a que têm direito ficam ocupadas com todas as estrelas e potenciais nomeados dos seus filmes mais importantes, que se misturam no evento informal de quatro horas com as pessoas que votam nos prémios.

Lá estavam Johnny Depp e o realizador Scott Cooper por "Black Mass - Jogo Sujo", Will Smith por "Concussion", Carey Mulligan por "As Sufragistas", o realizador Ridley Scott por "Perdido em Marte", Michael Keaton e Mark Ruffalo por “Spotlight”, Cate Blanchett e Rooney Mara por “Carol” e os realizadores Danny Boyle e David O. Russell, respetivamente por "Steve Jobs” e “Joy”, entre muitos outros.

Blanchett reconheceu a natureza bizarra de um evento que não é transmitido pela televisão atrair tantas estrelas quando pediu a todos na sala para se virarem para o fotógrafo oficial da Academia que estava num escadote num canto da sala e dizerem "'Cheese!' ou 'Votem em mim!', o que precisarem".

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