O casal Javier Bardem-Penélope Cruz na passadeira vermelha, Cate Blanchett presidente de um júri comprometido com a causa das mulheres, num ambiente politizado: o Festival de Cannes inicia esta terça-feira à noite a sua 71ª edição.
O diretor iraniano Asghar Farhadi, premiado inúmeras vezes em Cannes e já com dois Óscares, será o responsável por abrir as festividades com o filme "Todos lo saben".
Esta terça-feira, Farhadi expressou o seu apoio ao compatriota Jafar Panahi, que também disputará a Palma de Ouro e foi proibido de viajar.
"Temos que tentar. Tomar todas as medidas possíveis para expressar apoio e fazer com que possa vir. Mas não devemos esquecer que o mais importante para ele e para um cineasta é que o seu filme seja visto", explicou à agência AFP.
O dissidente Panahi, que dirigiu "Trois Visages", provavelmente não poderá apresentar pessoalmente o seu filme em Cannes, por ter sido proibido pelas autoridades iranianas de trabalhar e viajar.
Esta manhã foram instaladas as grades de segurança no Palácio dos Festivais, onde alguns paparazzi e fãs guardavam lugar nas escadas, preparando-se para horas de espera até a chegada de Penélope Cruz e Javier Bardem.
"Todos lo saben", que será exibido após o final da cerimónia de abertura apresentada por Edouard Baer, vai abrir a disputa pela Palma de Ouro.
O filme em espanhol reúne os dois atores num drama familiar com ares de thriller hitchcockiano.
"Má Educação", de Pedro Almodóvar, foi o último filme de abertura de Cannes não falado em inglês ou francês, em 2004.
O filme do realizador iraniano, famoso por "Uma Separação", será o primeiro dos 21 que concorrerão à Palma de Ouro até ao dia 19 de maio.
Cineastas sob vigilância
Entre os filmes selecionados estão os trabalhos mais recentes de Jean-Luc Godard ("Le Livre d'image") e do americano Spike Lee ("BlacKKKlansman"), de volta à disputa após 27 anos.
Dos 21 cineastas na corrida, 10 estão a competir pela primeira vez, incluindo o japonês Ryusuke Hamaguchi, a libanesa Nadine Labaki, o egípcio Abu Bakr Shawky - com o seu primeiro filme "Yomeddine" -, os franceses Eva Husson e Yann Gonzalez.
O iraniano Panahi e o russo Kirill Serebrennikov, cineastas sob vigilância nos seus países, também foram selecionados.
Na segunda-feira, o diretor-geral do Festival, Thierry Frémaux, reconheceu que não estava otimista quanto à possível presença do iraniano, cujo filme será exibido no sábado.
O júri será presidido pela atriz australiana Cate Blanchett, uma feminista ativista que se tornou nos últimos meses uma figura na luta contra o assédio sexual através do movimento "Time's Up".
A atriz francesa Léa Seydoux, uma das acusadoras do produtor americano Harvey Weinstein, também está no júri, assim como a Kristen Stewart e a realizadora americana Ava DuVernay.
Um júri majoritariamente feminino para uma edição em que o outrora famoso produtor, acusado de assédio e violação por uma centena de mulheres, estará ausente, mas presente na mente de todos.
Sinal desta nova era, cada participante receberá um panfleto lembrando que em Cannes será "exigido um comportamento correto", com referência a um número de telefone para qualquer vítima ou testemunha de assédio sexual, e uma recordação das penalizações: três anos de prisão e 45.000 euros de multa.
Também haverá no sábado um desfile no tapete vermelho 100% feminino, "dedicado às mulheres do cinema", segundo Thierry Frémaux.
"Acredito que haverá mudanças extremamente positivas graças a este escândalo", disse esta terça-feira Cate Blanchett na rádio France Inter.
"Se as coisas mudarem na nossa indústria, espero que inspire mudanças noutros setores", antecipou por sua vez Penélope Cruz.
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