«Não darei mais conferências de imprensa, é tudo. Agora passo a fazer como
Terrence Malick», assegurou
Lars Von Trier nas declarações publicadas na edição de hoje do jornal parisiense, referindo-se ao cineasta norte-americano realizador de
«A Árvore da Vida», raramente visto em público e avesso a entrevistas. «Não há razão alguma para ser só ele [Malick] a ter esse privilégio», acrescentou Trier.

O último filme do dinamarquês,
«Melancolia», esteve em séria concorrência com «A Árvore de Vida», de Malick, pela Palma de Ouro de Cannes, antes de Trier ser declarado «persona non grata» no Festival, no dia a seguir a ter afirmado que entendia Hitler.

«Eu entendo Hitler, embora considere que fez coisas erradas, claro. Só estou a dizer que entendo o homem, não é aquilo a que chamaríamos um bom tipo, mas simpatizo um pouco com ele», declarou, a 18 de maio em Cannes.

Inquirido sobre as razões de tais afirmações, Lars von Trier explicou que, ao contrário de Malick, aceitou dar uma conferência de imprensa a pedido de Gilles Jacob, presidente do Festival de Cannes, mas que não tinha «nada preparado».

«No fundo, gosto de ser «persona non grata». É um papel romântico e solitário que me aproxima dos meus heróis. Acho que nunca faço nada para facilitar a minha vida…», disse o escritor ao Libération.

Na entrevista, contudo, o cineasta, fundador do Dogma 95 (juntamente com
Thomas Vinterberg) e autor de filmes tão aclamados como
«Ondas de Paixão» e
«Os Idiotas», voltou a desculpar-se, dizendo que foi «estúpido» e que, «perante 200 jornalistas sem ter preparado nada», entrou em «pânico».

«Disse coisas idiotas e lamento ter ferido os sentimentos das pessoas. O meu problema é que sou obcecado por conflitos e não consigo impedir-me de os desencadear. Em frente de uma plateia que espera que eu diga alguma coisa, eu faço-o. E quando digo que sou um nazi, depois fico muito chocado por as pessoas acreditarem!», explicou, admitindo ser uma pessoa «complicada».

«Em Cannes, toquei num tema tabu e isso explica as reações violentas. Mas também quero dizer que o politicamente correto está a matar o mundo. Se caímos nesta armadilha, o pensamento ficará empobrecido», defendeu.

«Melancolia», filme que valeu à atriz
Kirsten Dunst o prémio da melhor interpretação feminina em Cannes, conta a história do fim do mundo vivido por duas irmãs nos antípodas uma da outra: Justine (Kirsten Dunst), considerada doente, deprimida e associal, e Claire (
Charlotte Gainsbourg), casada, protetora, socialmente integrada.

O cineasta adiantou ainda que o seu próximo projeto será um filme «radicalmente diferente», sobre uma mulher que é rejeitada «como um transplante que não foi aceite», mas não revelou mais pormenores.

@Lusa

Recorde aqui a entrevista do SAPO a Lars von Trier no Festival de Cannes