Marc Webb estreou-se a realizar longas-metragens com
«(500) Days of Summer» e depois saltou para os blockbusters de grande escala em
«O Fantástico Homem-Aranha». Ao segundo filme da saga, que esta semana estreia em Portugal, aumentou o número de vilões e carregou no botão das cenas trágicas. Estivemos à conversa com ele sobre
«O Fantástico Homem-Aranha 2: O Poder de Electro».

Os filmes de «Homem-Aranha» são muito diferentes de «(500) Days of Summer» mas continuam a contar histórias de jovens com vidas complicadas e relações complexas. Essa é a assinatura Marc Webb?

Marc: Não é possível fazer filmes sobre pessoas simples que não têm problemas. Não seria muito interessante, seria como ver as Kardashians. De facto são filmes muito diferentes mas, ao mesmo tempo, têm coisas em comum, especialmente na parte do romance.
«(500) Days of Summer» foi algo que eu e os meus amigos fizemos, no nosso pequeno espaço, ninguém sabia nada sobre o filme e, quando o lançámos, as pessoas acolheram-no porque não tinham qualquer expectativa.

Com o Homem-Aranha, que existe desde antes de eu ter nascido, é algo muito maior e isso muda a dinâmica da coisa, porque não somos autores no mesmo sentido da palavra. Sinto que estou a segurar o estandarte e a tentar dar-lhe a minha direcção. Claro que há algum espaço para interpretação mas realizar um Homem-Aranha é muito mais uma função de base para algo que é muito maior do que nós.

Sendo este o segundo «Homem-Aranha» que realiza, partiu para ele com uma confiança diferente?

Marc: No primeiro nunca tinha feito um filme ou efeitos visuais daquela escala, por isso houve um processo de aprendizagem. Parti para o filme às cegas e cometi muitos erros: na forma como desenhei o uniforme, na forma como abordei as cenas de ação...

Desta vez diverti-me mais e estive mais disposto a arriscar. Eu queria fechar algumas histórias que vinham do primeiro filme mas também queria atirar o Peter [Parker] para várias direções. Queria tornar a vida dele o mais complicada possível e isso significava ter vilões que trouxessem ao de cima vários lados da sua personalidade.

Por exemplo, o Electro é um vilão muito poderoso com uma dimensão muito cinematográfica que requer alguma esperteza por parte do Homem-Aranha. O Harry Osborn, o Green Goblin, tem de ultrapassar um conflito interno. Ele é obviamente muito poderoso e tem muitas características físicas que rivalizam com as do Homem-Aranha mas ele sabe o que é valioso para o Peter Parker e isso causa conflitos muito mais sérios.

A própria escala de tudo foi também um risco mas temos de nos desafiar a nós próprios para ver até onde conseguimos ir.

Quando se reinicia um franchise tão grande tão pouco tempo depois de outros filmes, como é que se consegue distanciar disso?

Marc: Ironicamente, pelo facto de os primeiros filmes serem relativamente recentes, senti que era importante reestabelecer a ligação dos espectadores com aquela personagem porque a minha visão dela era diferente. Para mim, o acontecimento que definiu a vida dele foi o da partida dos seus pais, deixando-o para trás.

Viram o
«Frozen - O Reino do Gelo», o
«Up - Altamente» ou
«O Fabuloso Destino de Amélie»? Filmes que têm um protagonista exploram muitas vezes a infância, dão-nos uma amostra do que foi o início das suas vidas. Acabam por se tornar extremadas mas nós tempos empatia por elas porque conhecemos o seu passado. É isso que uma história de origem é, explica quem é aquela personagem.

Eu não acho que todos os Peter Parkers possam ser iguais e, porque a minha ideia dele era diferente, sabia que tinha de a construir desde a base. No início houve algum cepticismo à volta disso mas, desta vez, porque a atitude do Andrew Garfield fez com que isso fosse ultrapassado logo no primeiro filme, voltámos a ter uma folha em branco para trabalhar.

Houve algum momento específico durante a rodagem em que soube que o filme ia correr bem?

Marc: Houve uma cena que filmámos em Union Square, em que o Peter vê a Gwen pela primeira vez depois de um ano de separação, em que se reacende o romance entre os dois. Foi aí que pensei: «adoro aqueles dois. Desde que os tenha por perto, o filme vai ser bom».

Depois, foi quando acabámos de filmar a cena em Times Square, que foi uma dor de cabeça do ponto de vista técnico. Era uma cena muito emotiva para o Electro e muito complicada do ponto de vista dos efeitos. Recriámos Times Square em Long Island e quando terminámos a rodagem, fiz uma primeira versão da cena e pensei «ok, acho que isto vai funcionar». Esses foram os dois momentos em que percebi que tudo estava a ficar no lugar certo.

Já que fala na Emma Stone e no Andrew Garfield, como tem sido trabalhar com eles?

Marc: Eles têm ligações muito fortes e profundas com as suas personagens, são muito curiosos e exploram muito a sua visão sobre a relação do Peter e da Gwen.

A Emma, no início do filme, disse logo «eu quero acabar com ele. Fuck that guy!». Há uma fala dela no filme: «Sou eu que acabo contigo». Essa frase é completamente Emma Stone. Era isso que ela achava que a personagem faria. É uma mulher forte, não ia ficar à espera dele, ela quer ter uma vida para além de ser a namorada de alguém.

Tanto a Emma como o Andrew são atores de improviso, são muito bons a encontrar o que está por trás da personagem, a encontrar as emoções numa cena e depois a brincar dentro desses limites.

Até que ponto pode ir a sua liberdade de interpretação em relação à banda desenhada original? Por exemplo, se quisesse que a história se passasse em Londres, poderia fazê-lo?

Marc: Acho que pode ser possível mas é difícil imaginar o Homem-Aranha fora de Nova Iorque. Ele é uma personagem criada para aquela cidade, especialmente porque há tantos arranha-céus e não há assim tantas cidades com essas características. Em Londres teríamos o Big Ben, o Parlamento ou o London Eye. Mas nunca se sabe...

O que é que esta história diz sobre o tempo presente?

Marc: Antes da Ficção Científica havia Feiticeiros, pessoas que lançavam feitiços. Por alguma razão, hoje, a tecnologia tornou-se misteriosa para todos nós, pode ser usada para o Bem ou para o Mal.

Acho que há algo de ameaçador na Oscorp mas também algo de muito sedutor. A empresa tem uma óptima imagem pública, está a tentar fazer coisas espantosas mas, debaixo da superfície, está sempre a quebrar barreiras éticas. E é o Peter Parker que, no fundo, também nasceu dessa tecnologia, que tem de combater esse mal. Acho que isso diz alguma coisa.

Veja aqui a
entrevista aos vilões do filme, Jamie Foxx e DaneDeHaan

O SAPO Cinema viajou a convite da Sony Pictures Portugal