Cicely Tyson, um ícone do cinema, televisão e teatro, faleceu esta quinta-feira (28), aos 96 anos, anunciou o seu agente.
A atriz abriu caminho e inspirou gerações de intérpretes negros e outros profissionais, nomeadamente Angela Bassett, Whoopi Goldberg, Halle Berry, Viola Davis e Lupita Nyong'o.
“Agenciei a carreira da Miss Tyson durante mais de 40 anos, e cada ano era um privilégio e uma dádiva. A Cicely olhara para as suas memórias como uma árvore de Natal com ornamentos a representar a vida pessoal e profissional dela. Hoje ela colocou o último ornamento, a estrela no topo da árvore”, disse Larry Thompson através de uma declaração citada pela Variety.
A imprensa norte-americana recorda-a como uma atriz determinada a interpretar apenas mulheres negras realistas, fortes e positivas no ecrã, ajudando a destruir estereótipos raciais ao recusar papéis que as rebaixassem, especialmente de empregadas e prostitutas.
Insistindo que os afro-americanos deveriam ser retratados com dignidade, criticou filmes e séries que os retratavam como criminosos, servis ou imorais, um ativismo que lhe valeu também distinções de grupos de direitos civis.
Como curiosamente observou Oprah Winfrey na véspera da sua morte, "a beleza icónica de Cicely Tyson pode ter feito com que ela fosse notada numa idade jovem, mas é seu talento que a tornou a lenda viva que é. E ela está finalmente a contar a sua história. Li a sua autobiografia #JustAsIAm e agora percebo perfeitamente por que ela é um tesouro. Que vida".
No cinema, estreou-se num papel secundário em "Homens no Escuro", de Robert Wise, numa altura em que se afirmou como uma das primeiras modelos afro-americanas do seu país, chegando às capas de revistas como a Harper Bazaar e Vogue.
Nomeada para o Óscar de Melhor Atriz por "Esperança" (1972), de Martin Ritt, no papel da filha de um trabalhador negro de uma plantação do sul dos EUA, foi sempre fiel ao objetivo que estabeleceu para a sua carreira em filmes como "Um Homem Chamado Adão" (1966), "Os Comediantes" (1967), "Um Coração Solitário" (1968), "The River Niger" (1976), "Mulheres do Sul" (1991) e "As Serviçais" (2011).
A Academia acabaria por homenagear esse percurso com uma estatueta dourada honorária em 2018.
"Para nós, afro-americanos, é uma rainha. Teve que trabalhar 10 vezes mais para que lhe pagassem 100 vezes menos" por ser uma mulher negra, recordou na altura o ator e produtor Tyler Perry.
O percurso de Cicely Tyson foi ainda mais importante no teatro (foi a mais velha atriz a ganhar o Tony, em 2013, aos 88 anos, pela nova produção da Broadway do clássico "The Trip to Bountiful") e na televisão, onde interpretou o primeiro papel de uma mulher afro-americana na série de drama “East Side/West Side” (1963-1964).
No pequeno ecrã, destacou-se pela histórica minissérie "Raízes" (1977) e na controversa minissérie sobre Martin Luther King Jr. "King" (1978), os telefilmes "The Marva Collins Story" (1981), "A Lesson Before Dying" (1999) e "The Trip to Bountiful" (2014), e a série "Sweet Justice" (1994-95).
Nomeada 16 vezes para os Emmys (os Óscares da TV), recebeu doiis pelo telefilme "The Autobiography of Miss Jane Pittman" (1974) e outro pela minissérie "Oldest Living Confederate Widow Tells All" (1994).
Mais recentemente, participou em episódios das séries "House of Cards" (2016), "Como Defender Um Assassino" (2015-2020) e "Cherish the Day" (2020).
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