O ator Norman Lloyd morreu na segunda-feira, confirmou um amigo da família ao site especializado Deadline.

Tinha 106 anos e era o decano da Idade de Ouro em Hollywood, que trabalhou com personalidades como Orson Welles, Alfred Hitchcock e Charlie Chaplin.

Nascido a 8 de novembro de 1914, Norman Lloyd começou pelo teatro em Nova Iorque na década de 1930, onde se tornou um dos principais membros do Mercury Theatre, fundada por Orson Welles e John Houseman.

Acompanhou Welles a Hollywood, onde era para ter entrado no filme "O Mundo a Seus Pés" (1941), mas com o cineasta a enfrentar os habituais problemas para arranjar dinheiro, desistiu e regressou a Nova Iorque, convencido por um amigo que lhe disse que havia grandes oportunidades de trabalho na rádio. Mais tarde, diria que foi o maior arrependimento da sua carreira e Welles nunca lhe perdoou a desfeita.

A estreia no grande ecrã acabou por acontecer com "Sabotagem" (1942), de Alfred Hitchcock, e tornou-se uma das figuras míticas do seu cinema: era o vilão espião que caia para a morte do topo da estátua da liberdade após lentamente se abrirem as costuras do seu casaco.

Com uma intensa vida social em Hollywood, que tinha por exemplo entre os amigos Buster Keaton ou Charlie Chaplin, com quem jogava ténis, e grande contador até ao fim da vida de histórias sobre as pessoas com quem conheceu e trabalhou, resumia sempre assim a sua estreia no cinema: "precisava de um alfaiate melhor!".

Sabotagem (1942)

Com Hichtcock voltaria a encontrar-se em "A Casa Encantada" (1945), com Ingrid Bergman e Gregory Peck. Era um ator de composição, secundário e não uma estrela, que trabalharia nos primeiros anos ainda com cineastas como Jean Renoir ("Semente de Ódio", 1945), Jules Dassin ("A Letter for Evie", 1946), Anthony Mann ("No Reinado do Terror", 1949), Jacques Tourneur ("O Facho e a Flecha", 1950), Joseph Losey ("Matou", 1951), Lewis Milestone ("Um Passeio ao Sol", 1945; "A Verdade Nua", 1948) e Charlie Chaplin ("Luzes da Ribalta", 1952).

Norman Lloyd passou por três pandemias: a da Gripe espanhola (1918-1920), a da COVID-19 (2019- ?) e... a da Lista Negra de Hollywood, que começou ainda na década de 1940 e onde entrou em 1950, formada pela indústria com membros da indústria acusados de alegadas simpatias comunistas a quem era recusado trabalho.

Após anos de inatividade, foi Hitchcock que o resgatou, contratando-o para ser realizador e produtor associado das suas séries de televisão, "Alfred Hichtcock Apresenta" (1957-1961) e "A Hora de Alfred Hitchcock" (1962-1965).

O Clube dos Poetas Mortos (1989)

No cinema, ainda regressou para "As Duas Vidas de Audrey Rose" (1977), de Robert Wise, e mais alguns filmes, mas foi já na década de 1980, com mais de 60 anos e quando ainda era produtor na série "Tales of the Unexpected" (1982-1985), que ganhou nova fama à frente das câmaras como o chefe de serviço de hospital na série "S.O.S. Urgências" (1982-1988), tornando-se um dos membros regulares do elenco após ter sido inicialmente contratado apenas para fazer quatro episódios.

Seguiram-se outros papéis de impacto no cinema, a começar pelo reitor implacável que entrava em choque com o professor interpretado por Robin Williams em "O Clube dos Poetas Mortos" (1989), de Peter Weir.

Foi também um advogado da alta sociedade em "A Idade da Inocência" (1993), de Martin Scorsese, e um professor em "Na Sua Pele" (2005), de Curtis Hanson, onde desviou atenções de Cameron Diaz e Toni Collette.

Teve ainda participações mais ou menos prolongadas em séries como "Seven Days" (1998-2001) e "Causa Justa" (1997-2003).

Por altura da despedida aos 100 anos, como o lascivo utente de um lar em "Descarrilada (2015), de Judd Apatow, já era considerado pelos seus pares e estudiosos do cinema clássico como uma grande estrela de Hollywood.

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