O aguardado Museu dos Óscares de Los Angeles abordará a "história problemática" da indústria cinematográfica, do racismo de "E Tudo o Vento Levou" às recentes controvérsias sobre a sub-representação de mulheres e minorias.

A ideia de um museu dedicado à Sétima arte nesta cidade demorou quase um século para sair do papel e o edifício projetado pelo arquiteto italiano Renzo Piano, que seria inaugurado em 2017, foi adiado. Agora, porém, as instalações estão prontas e a sua abertura está prevista para setembro de 2021, segundo os seus diretores.

A atriz Laura Dern, vencedora do Óscar de Melhor Atriz Secundária no ano passado por "Marriage Story", guiou esta semana um grupo de jornalistas num passeio virtual pelo museu, construído no oeste de Los Angeles.

"Não pretendemos ignorar a história problemática", disse a atriz, citando a polémica campanha #OscarsSoWhite devido à falta de artistas negros, a baixa presença de mulheres e a forma como a Academia tratou a atriz negra Hattie McDaniel em 1940.

Primeira artista negra a receber uma estatueta, pelo seu papel em "E Tudo o Vento Levou" (1939), McDaniel não pôde comparecer à estreia do filme por causa da cor da sua pele. Durante a cerimónia, não conseguiu entrar no Hotel Ambassador, que praticava a segregação racial, até que os produtores intercederam, mas teve que se sentar numa mesa separada, longe dos restantes atores.

O Museu dos Óscares também lembrará o assédio sofrido pela atriz indígena americana Sacheen Littlefeather, que tomou a palavra de Marlon Brando quando ele recusou o seu Oscar em 1973 por "O Padrinho" (1972), para denunciar o tratamento dispensado aos indígenas pelas autoridades dos EUA. E ainda o facto de que atrizes europeias interpretaram personagens chinesas no vencedor de dois Óscares "Terra Bendita" (1937).

"Não queríamos apagar filmes e artistas e momentos que pudessem ser incómodos. Queríamos encará-los de frente e contextualizá-los, através da nossa exposição permanente", explicou o diretor do museu, Bill Kramer.

O local, de mais de 4.500 m2, abrigará relíquias de Hollywood, como as sapatilhas usadas por Judy Garland em "O Feiticeiro de Oz" (1939), a capa do Drácula ou a réplica de "Tubarão" (1975).

Conta, também, com uma sala de cinema com mil lugares instalada numa esfera gigantesca de vidro, aço e concreto, que fica na parte lateral do museu.

"O futuro de Hollywood"

Spike Lee e Pedro Almodóvar estarão entre os primeiros realizadores convidados pelo museu para organizar exposições temporárias dedicadas a outros cineastas.

"Quero ver autocarros escolares amarelos estacionados em fila dupla em frente ao museu, e que essas belas mentes jovens sejam iniciadas no cinema", salientou Spike Lee.

Na secção dedicada à história dos Óscares, serão exibidas vinte estatuetas, entregues a títulos que vão de clássicos do cinema mudo como "Aurora" (1927), de Friedrich Wilhelm Murnau, a sucessos recentes como "Moonlight" (2016), de Barry Jenkins.

Outras galerias celebrarão o trabalho de todos os anónimos que tornam a magia do cinema possível atrás das câmaras: animadores, cabeleireiros, caracterizadores, figurinistas, etc.

Uma secção mostrará figurinos famosos, como a roupa de inspiração africana usada pela atriz Danai Gurira em "Black Panther" (2018).

"A presença do uniforme de Okoye [a sua personagem] no museu da Academia é incrivelmente forte porque a história de Hollywood não se parece com a equipa de 'Black Panther'", comentou a atriz, que tem esperança de que o futuro será diferente.

Okoye

O Museu dos Óscares só será inaugurado quando a situação de saúde ligada à pandemia permitir, mas Bill Kramer garantiu que está tudo pronto para receber o público.

E perante o avanço da vacinação na Califórnia e da queda no número de casos de COVID-19, o diretor está confiante na capacidade de cumprir a meta e abrir as portas no dia 30 de setembro.