O realizador Wes Anderson inspirou-se no sogro para escrever o protagonista do seu novo filme, “O Esquema Fenício”, que se estreia hoje nos cinemas portugueses e tem um elenco de estrelas, incluindo Benicio del Toro, Tom Hanks e Scarlett Johansson.

“Tinha a ideia de um magnata europeu, alguém que teria entrado num filme de [Michelangelo] Antonioni”, disse Anderson numa conferência de imprensa 'online', em que a Lusa participou. “Com o tempo, comecei a misturá-lo com o meu sogro Fouad, que era um engenheiro e empresário com muitos projetos diferentes”.

Fouad Malouf, explicou o realizador, era um homem com muitos projetos em diversos lugares e uma pessoa afável mas intimidante. Mantinha os planos dos vários negócios em caixas de sapatos e um dia mostrou-os à filha, para que ela os pudesse prosseguir no caso de lhe acontecer algo. A sua reação foi igual à da filha ficcional no filme, Liesl, interpretada por Mia Threapleton: “Isto é de loucos”.

A transposição deste homem de negócios da vida real para o cinema começou a formar-se na mesma altura em que Wes Anderson mostrou “Crónicas de França do Liberty, Kansas Evening Sun” em Cannes, em 2021, com Benicio del Toro.

“Falei ao Benicio da ideia de um magnata europeu, alguém que poderia ter entrado num filme do Antonioni”, revelou Wes Anderson. “Tinha a ideia de alguém em aflição física, a imagem de um tipo com um relógio muito caro que não se conseguia matar”.

É esse homem que Benicio del Toro encarna em “O Esquema Fenício” - Zsa-Zsa Korda, um dos homens mais ricos da Europa que, no início do filme, sofre a sua sexta queda de avião e decide escolher a filha mais velha para herdeira da sua fortuna e do seu império.

“É escrito em camadas e cheio de contradições, o que se torna muito saboroso para um ator lhe dar vida”, disse del Toro.

"O Esquema Fenício"

Algumas cenas, como a dos créditos de abertura, tiveram de ser filmadas repetidamente – entre 25 e 30 vezes, disse o ator, lembrando que ficou com a pele engelhada por estar dentro de uma banheira.

“Há um elemento da minha personagem que espera uma segunda oportunidade para reparar uma relação quebrada”, detalhou del Toro. “Para isso ele tem de mudar e muda. Gosto de pensar que as pessoas podem mudar”.

Essa relação é com a filha, a quem Zsa-zsa Korda quer deixar as caixas de sapatos com os ambiciosos planos para a perdida civilização Fenícia. Mas Liesl está prestes a tornar-se uma freira católica e ressente-se do pai pela sua ausência de anos.

Para se preparar para o papel, Mia Threapleton estudou a Bíblia, foi até Roma para uma prova de roupa e conversou com um diácono. Estudou a fundo durante três meses e criou pequenos detalhes para a personagem.

“As pequenas coisas, os 'humanismos' foram coisas que encontrámos ao longo do caminho”, disse a atriz na conferência de imprensa. “Wes queria esses 'humanismos'”, continuou, revelando que improvisou a mantilha do seu hábito religioso com um guardanapo de pano.

As filmagens decorreram perto de Berlim, no estúdio Babelsberg e arredores, com um pequeno papel para Scarlett Johansson como Prima Hilda. A atriz elogiou a forma como Wes Anderson foi capaz de criar a impressão de estarem algures entre o Líbano, a Síria e a Palestina, sem recurso à tela verde que permite sobrepor qualquer plano de fundo na ação.

“Era areia a perder de vista e parecia que estávamos lá, incrível”, frisou a atriz, referindo o quanto Wes Anderson desfruta do processo e isso influencia os atores. “É muito motivador para tentar coisas novas”.

“O Esquema Fenício” conta ainda com Michael Cera, no papel do tutor privado Bjørn Lund, Bryan Cranston como magnata Reagan, Tom Hanks como magnata Leland, Benedict Cumberbatch como tio Nubar, Jeffrey Wright como magnata Marty e Riz Ahmed como príncipe Farouk.

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